Infância: Estudos De História, Cultura E Sociedade
Por: Waffer • 6/7/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 1.805 Palavras (8 Páginas) • 277 Visualizações
Nome: Ronaldo da Silva Rodrigues
Título da Proposta de Pesquisa: Infância: Estudos De História, Cultura E Sociedade
Profª. Drª Mirian Jorge Warde
Título provisório: “Lei 10.639/03: Áfricas e afrobrasilidade na literatura infanto-juvenil”.
Tema/problema.
Como negro professor de letras da rede pública de ensino na Educação Fundamental I no município de Itapecerica da Serra/SP, é presente e constante o papel da literatura infanto-juvenil para a construção e formação de nossos alunos. Em minha prática discente, observo que, em sua grande maioria os personagens dos livros são brancos, com cabelos lisos, claros e compridos, o que difere da grande maioria de meus alunos.
Para a construção dessa proposta, realizei uma breve pesquisa sobre a porcentagem de negros matriculados no município de Itapecerica da Serra, porém, sem sucesso. A pesquisa foi realizada, via internet no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP; Ação Educativa[1]. Sem esses dados oficiais, coube a eu realizar um pequeno senso entre meus alunos, fazendo um levantamento sobre a sua identidade-étnica.
Esse levantamento foi realizado por mim, em sala de aula, com o intuito de saber quantos alunos se identificavam como negros. Acrescentei a categoria “afrodescendente” por compreender que existem identidades, culturalmente negras, nas periferias de São Paulo ou em municípios dormitórios como o caso de Itapecerica da Serra. Chamo de “culturalmente negras” espaços como Rodas de Sambas; Rodas de Capoeiras; Terreiros de Candomblé; Casas de Umbanda; Rinha de MC’s; Saraus. Não raro, pessoas, mesmo socialmente brancas, se identificarem como negras por frenquentarem esses espaços.
Muitos alunos de tez clara, ou o que o sociólogo jamaicano Stuart Hall, chama de hifenizado e o indo-britânico Homi Bhabha, nomeia como “entre-lugares” emergência identidades construídas “entre-lugares”. Ser afro-brasileiro, na periferia, muitas vezes está ligado à cultura negra, ou seja, mesmo com a pele clara, alguns alunos se identificam com a cultura negra e se compreende como negro.
Traz à compreensão múltiplas identidades na pós-modernidade. Em trabalhar com essa temática, já professor, pois em minha formação acadêmica, não teve qualquer discussão frente à temática étnico-racial. O incômodo era e se faz presente, através do silenciamento de outras possíveis literaturas, com outros personagens que pudessem dialogar com a construção de identidade de crianças negras.
Em meu cotidiano, analiso que, quando a criança não se sente representada, se a realidade retratada nunca é a sua ou se sua realidade é retratada de forma preconceituosa e carregada de estereótipos, com um peso negativo acerca de seus valores ou de seu fenótipo, é esperado, obviamente que ela não desenvolva uma imagem positiva de si e dos seus.
Em minha prática discente, analiso que a literatura é um elemento de extrema importância no universo infantil e juvenil para o desenvolvimento de suas identidades e autoestima, porque é através das histórias que as crianças se veem, conseguem elaborar conflitos fictícios ou reais, vividos por essas, além de possibilitar o trabalho da oralidade e letramento, para, enfim, fazer uma interpretação e leitura de mundo.
É fato que uma literatura que é sensível à essa temática, não desloca, positivamente somente a identidade da criança negra, mas também da criança branca, que tem a chance de pensar uma negritude sem estereótipos e um novo prisma de se conhecer e pensar África(s) e o legado africano na nossa cultura, crença, política e economia.
Partindo dessa perspectiva, escolhi livros que de alguma forma, fale da temática da afrobrasilidade. Dentro da escolha, dividi os livros que versam de forma positiva as cosmogonias negras e outros que, mesmo sem intenção, fala do negro de forma generalizante dentro do que chamo “padrão básico” de histórias de contos de fadas: heteronormativo, castelos de uma Europa Feudal, branco e estéril.
Dentre dos títulos que analiso ser de grande valia para a construção da identidade da criança negra, de forma positiva, estão Kuami, de Cidinha da Silva e O mundo no black power de Tayó, no sentido oposto temos os livros O menino marrom, de Ziraldo e Menina bonita de laço de fita de Ana Maria Machado. É importante ressaltar que os livros que avalio como positivos são pós a Lei 10.639 e 11.645 da LDB.
Justificativa
a) a relevância do tema/problema
Poucos livros que trazem a questão negra, pequenos textos, momentos de aulas muito pequenos são os espaços criados para a apresentação da cultura como um todo, e de se saber sobre matrizes africanas. Apresentação de autores africanos, músicas, teatros e outros elementos culturais a fim da íntegra construção da cidadania do educando.
Sabemos que a importância da temática requer sensibilidade e ação colaborativa entre os Conselhos, os Sistemas Educacionais, os Fóruns de Educação, os pesquisadores da temática nas Instituições de Ensino Superior, assim como a larga experiência do movimento negro brasileiro, para a consolidação das ações que são traduzidas pelos marcos legais, Pois acredito que quanto maior for o incentivo por uma literatura que mescle e perpasse entre culturas, a questão da identidade será ainda mais forte e presente, para Hall (2005), afirma que a identidade é construída com o tempo, e que, este processo se dá através do inconsciente e não pela consciência do indivíduo no momento do nascimento. Este autor destaca que, sendo a identidade formada ao longo do tempo e da vivência do indivíduo, está sempre sujeita às influências do meio na sua constituição. Estas influências representam os valores pré-estabelecidos, que são absorvidos através da sociedade que o indivíduo pertence.
A construção da identidade se dá por meio das interações da criança com o seu meio social. A escola é um universo social diferente do da família, favorecendo novas interações, ampliando desta maneira seus conhecimentos a respeito de si e dos outros. A literatura infantil é essencial no processo de aprendizagem de crianças, especialmente da leitura da escrita. De acordo com Silva (2010), “o ato de ler e ouvir histórias possibilita à criança expandir seu campo de conhecimento, tanto na língua escrita, quanto na oralidade”.
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