Mídia brasileira: Influência e liberdade
Por: caiquechung • 12/11/2018 • Projeto de pesquisa • 1.843 Palavras (8 Páginas) • 219 Visualizações
CAÍQUE CHUNG DIAS LAWINSKY
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Projeto de pesquisa apresentado ao curso de introdução ao trabalho acadêmico.
Professor: Rodrigo Perez
Salvador
2017
Mídia brasileira: Influência e liberdade (1964 - 2016)
Tema
Proponho nessa pesquisa, uma análise criteriosa dos discursos da mídia brasileira; os quais ocorreram nas vésperas de dois protestos populares que serviram de base para uma mudança estrutural no governo vigente em cada período.
Dentro desse intuito, utilizo o teórico François Lyotard, o qual, em uma passagem do seu livro “a condição-pós moderna”, diagnostica um novo regime de historicidade marcado pela incredulidade perante as “metanarrativas” modernas – dentre elas, as principais são: iluminismo, o idealismo e o marxismo; Ao passo que, se caracterizam por serem maneiras de pensar a experiência do homem no tempo, as quais, vislumbram, cada uma com suas particularidades, entender a lógica do processo histórico (Gechschichte)[1]:
Simplificando ao extremo, considera-se “pós-moderna” a incredulidade em relação aos metarrelatos. É sem dúvida, um efeito do progresso das ciências; mas este progresso, por sua vez, a supõe. Ao desuso do dispositivo metanarrativo de legitimação corresponde a crise da filosofia metafísica e a da instituição universitária que dela dependia. A função narrativa perde seus atores (functeurs) os grandes heróis, os grandes perigos, os grandes périplos e o grande objetivo. Ela se dispersa em nuvens de elementos de linguagem narrativos, mas também denotativos, prescritivos, descritivos etc., cada uma veiculando consigo validades pragmáticas sui generis. Cada um de nós vive em muitas destas encruzilhadas. Não formamos combinações de linguagem necessariamente estáveis, e as propriedades destas por nós formadas não são necessariamente comunicáveis (LYOTARD, 1979, p. XVI).
Conforme Lyotard, esse novo regime de historicidade é marcado pelo ceticismo diante dos “metarrelatos”. Essa nova forma de perceber a passagem do tempo já tem seus indícios na virada do século XIX para o XX. Nesse sentido, a decomposição dos “grandes Relatos” (“metanarrativas”) vem gerando na sociedade, segundo o autor, a dissolução do vínculo social, do status quo moderno, da forma habitual de ver a existência. Numa era em que a cadeia de informações flui torrencialmente, os indivíduos, ou como postula Lyotard, os átomos “são colocados em encruzilhadas de relações pragmáticas, mas eles são também deslocados pelas mensagens que os atravessam, num movimento perpétuo. Cada parceiro de linguagem sofre por ocasião dos “golpes” que lhe dizem respeito um “deslocamento”, uma alteração.” (LYOTARD, 1979, p. 30).
Nessa perspectiva, o autor salienta, que o caminho de análise do problema[2] (proposto por ele, em seu livro) é através do método dos “jogos de linguagem”[3]:
Por este termo quer dizer que cada uma destas diversas categorias de enunciados deve poder ser determinada por regras que especificam suas propriedades e o uso que delas se pode fazer, exatamente como o jogo de xadrez se define como um conjunto de regras que determinam as propriedades das peças, ou o modo conveniente de deslocá-las (LYOTARD, 1979, p. 16).
Ora, deste ponto de vista, o método dos jogos de linguagem, se torna muito adequada para a análise proposta nessa pesquisa. Pois, nesse espectro, discursos feitos pela mídia brasileira (instituições privadas) obedecem a determinadas regras, essas tais definidas pragmaticamente, conforme interesses, ou como diz Lyotard, “pressões suplementares para que os enunciados sejam declarados admissíveis em seu seio”. Pressões que exercem a função de filtros sobre construção do próprio discurso veiculado, “elas interrompem conexões possíveis sobre as redes de comunicação: há coisas que não devem ser ditas. E elas privilegiam certos tipos de enunciados, por vezes um único, cuja a predominância caracteriza o discurso da instituição” (LYOTARD, 1979, p. 31).
Nessa perspectiva, o que vislumbro nessa pesquisa, é sugerir qual e como a posição política de importantes veículos de informação constroem suas narrativas influenciadoras. Essa mídia juiz competente da própria situação. Mídia muitas vezes criadoras de pseudo liberdades, manuais de como viver e como não viver. Sendo assim, faz-se evidente, a inevitável problematização da ideia de que o jornalismo busca sempre, em seus discursos, a aproximação do que seria a verdade. Ao passo que, anseio, através da crítica ao acervo online disponível de cinco relevantes veículos de comunicação e informação, busco entender como as narrativas legitimam (influenciam) ações sociais[4] no presente: narrativas e formas de pensar que suscitam nos indivíduos um horizonte de liberdade a ser alcançado ou um iminente cerceamento da liberdade existente.
A partir dessa temática, é necessário conceituar o que é liberdade; o autor que utilizarei nesse trabalho é o Zygmunt Bauman. O qual, no livro Modernidade líquida, conceitua que liberdade é quando não existem limitações para realização de desejos: “libertar-se significa literalmente libertar-se de algum tipo de grilhão que obstrui ou impede os movimentos” (BAUMAN, 2000, p. 26); ao passo que, quando existem barreiras para tais desejos, algo deve ser feito, alguma ação dotada de sentido deve ser realizada para que o grilhão limitador seja retirado das suas pernas. Ou seja, “sentimo-nos livres na medida em que a imaginação não vai mais longe que nossos desejos e que nem uma nem os outros ultrapassam nossa capacidade de agir” (BAUMAN, 2000, p. 26). Todavia, tal uso (desse conceito) nos permite, conforme o autor, distinguir liberdade “subjetiva” de “objetiva”. Pois, não necessariamente, se sentir livre (caráter subjetivo) é ser - na realidade – livre (caráter objetivo). Para um entendimento mais claro, busquemos um exemplo: Um grupo de pessoas vive em um regime escravocrata, ou seja, uma realidade (imaginada) em que um grupo de indivíduos explora a mão-de-obra desse grupo de pessoas e, em certo sentido, domina os corpos dessas pessoas. O citado grupo de pessoas escravizadas, não tem acesso a outros exemplos de como a vida pode ser vivida, dessa forma, não almejam (desejam) uma mudança abrupta no status atual – de escravo. No entanto, existe sim, um anseio desejado pelos escravos: poder cultuar a sua própria religião, e através de pequenas rebeliões, protestam contra esse empecilho. Visto isso, diante das pressões, os indivíduos dominantes, em um determinado momento, negligenciam o cerceamento da liberdade de culto do grupo dominado; ao passo que, a partir dessa brecha, o grupo escravizado começa a sentir-se livre. Nesse contexto, pergunto-lhe, caro leitor, o grupo dominado detém a tão sonhada (desejada) liberdade? Bom, se analisarmos o caso na chave da liberdade subjetiva sim: Pois, o equilíbrio entre o desejo (liberdade de culto) e a capacidade de agir (rebeliões feitas por eles) foi alcançado. Porém, se verificarmos o caso de uma maneira externa – na chave da liberdade objetiva – a partir da nossa visão (sujeitos não escravos, eu espero) constataremos que esse grupo dominado não goza, verdadeiramente, da liberdade que nos é subjetiva (conhecida por nós). Diante dessa temática, Bauman acrescenta:
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