O HUMOR COMO RESISTÊNCIA AO CONTROLE SOCIAL AUTORITÁRIO NO BRASIL PÓS-1964: REFLEXÕES SOBRE A IMPRENSA ALTERNATIVA
Por: Rheya Rheya • 18/9/2019 • Trabalho acadêmico • 1.512 Palavras (7 Páginas) • 275 Visualizações
O HUMOR COMO RESISTÊNCIA AO CONTROLE SOCIAL AUTORITÁRIO NO BRASIL PÓS-1964: REFLEXÕES SOBRE A IMPRENSA ALTERNATIVA (Diógenes Arruda Ferreira)
(...) a violência foi assumida como única possibilidade para a sobrevivência do modelo social em vigor; como única estratégia para confrontar e controlar aqueles segmentos sociais que pretendiam destruir a sociedade brasileira implantando um regime de barbárie, segundo referências ao regime comunista da união soviética.
(...)Estes grupos passariam a representar a principal instituição idealizadora do sistema administrativo no período da ditadura militar, ou civil-militar, em função da participação de setores civis na constituição do golpe de 1964. A
(...)No período de 1962 até 1964 as atividades realizadas pelo complexo IPES/IBAD/ESG vinculavam-se principalmente à desagregação do bloco populista no Brasil e à defesa dos interesses das multinacionais ligadas às atividades civil-militares. O complexo oferecia uma série de cursos, palestras e grupos de estudo que formavam intelectuais, técnicos e oficiais militares voltados aos seus interesses. Essa estratégia possibilitou ao complexo ganhar força em diversos setores do Estado montando uma forte oposição contra o governo Goulart e permitindo um controle de mobilizações populares civis com uma maior eficiência.
(...)Durante os primeiros anos da década de 1960, a ESG representava o epicentro do planejamento, elaboração teórica e treinamento dos militares alinhados com o bloco capitalista encabeçado pelos Estados Unidos.
(...)A partir de 1964, com a tomada do poder pelos militares, o alicerce de uma nova política de bases autoritárias foi lançado. Configurava-se, então, o Estado de Segurança Nacional, no qual os militares prometiam restaurar a legalidade, reerguer as instituições democráticas e reforçar a composição federativa da nação, com o foco no combate ao inimigo interno, a ameaça do comunismo.
(...)Os oficiais e soldados que não apoiavam as novas ações do Estado de Segurança Nacional eram tratados como inimigos. E para promover publicamente a legalidade do regime a Operação Limpeza procurou minar o poder e a credibilidade dos grupos que confrontavam a autoridade militar, como os sindicatos, organizações de trabalhadores e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
(...)de práticas violentas contra a população e do uso do medo como ferramenta de controle, foi possível aos militares dar início ao processo de institucionalização do modelo governamental estabelecido pela Doutrina de Segurança. Tais estruturas deram ao Estado militar não apenas espaço para manobrar a política nacional, mas também para impedir a possibilidade da formação de uma real resistência neste primeiro momento do Golpe.
(...)Para fortalecer o confronto direto contra os subversivos foram organizados grupos de ação direta. Prisões em massa, invasões domiciliares, tortura, assassinato, faziam parte do repertório de ações praticadas por este setor governamental, tendo como principais estruturas o CODI – Centro de Operações e Defesa Interna – e o DOI – Destacamento de Operações de Informações. A organização dessas estruturas teve por base uma operação realizada no estado de São Paulo chamada Operação Bandeirantes (OBAN), criada para combater movimentos de guerrilha urbana, através da ação conjunta entre o Exército, a Aeronáutica, a Marinha e as polícias civil e militar.
(...)Enquanto o sistema DOI-CODI agia eliminando os focos contrários ao governo militar, o trabalho da censura procurava destruir esses focos antes mesmo que eles surgissem. A censura não foi estabelecida pela ditadura, porém ganhou caráter institucional. Baseada no argumento de combate à subversão da ordem política e social e na manutenção da moral e de um modelo social, o governo fazia uso da generalização dos conceitos desse discurso para vetar a veiculação de idéias consideradas nocivas. Os assuntos a serem proibidos eram enviados ao Ministério da Justiça, e após a confirmação da ordem de proibição para a veiculação do assunto, esta era repassada à polícia federal.
(...)Diante da truculência cada vez maior da ditadura, gestou-se um sentimento de contraposição ao Estado em um setor da imprensa denominado como imprensa alternativa. No caso do jornal O Pasquim, criado em 1969 e principal representante dessa forma de imprensa durante esse período, houvera uma tendência especial em se trabalhar o humor, numa relação dialética que pode ser configurada no embate entre medo e humor.
(...)Enquanto o regime militar promoveu o estabelecimento de um estado de medo para suprimir atos de oposição, o humor foi utilizado pelo Pasquim como ferramenta de divulgação de um sentimento de descontentamento. Mesmo tendo em vista que a ação da censura não permitisse a elaboração de um discurso de oposição que representasse um enfrentamento direto às posturas do regime, agia como espécie de fissura nesse muro formado pelo medo do Estado ditatorial. Ou seja, o medo, como ferramenta de controle utilizada pelos militares na constituição de um modelo de governo voltado para um estado de guerra total e de combate ao inimigo interno, fomentara o surgimento de uma relação de confronto e contradição em que o humor proposto pelo O Pasquim se expressa como forma de oposição ao modelo instituído.
(...)Pif Paf foi originalmente uma seção publicada na revista O Cruzeiro, existente desde 1928. Esta seção, criada por Millôr Fernandes, utilizava o humor no desenvolvimento de interpretações críticas sobre o imaginário do universo político do populismo (KUCINSKI, 1991).
(...)Quem avisa amigo é: se o governo continuar deixando que certos jornalistas falem em eleições; se o governo continuar deixando que certos jornais façam restrições à sua política financeira; se o governo continuar deixando que alguns políticos teimem em manter suas candidaturas; se o governo continuar deixando que algumas pessoas pensem por sua própria cabeça; e sobretudo, se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia. (KUCINSKI, 1991, p. 24)
(...)Várias edições foram apreendidas e a revista fechada. Apesar da curta duração a produção de uma forma alternativa de imprensa revelou-se numa possibilidade plausível de se buscar um espaço para a manifestação de opiniões que se distinguissem da postura oficial do Estado ou da apatia da imprensa de grande poder econômico.
A partir de 1967 a produção de periódicos de cunho independente passa a se apresentar numa postura alinhada com os ideais socialistas e influenciada pelo imaginário da guerrilha, que tem como sua principal referência a revolução cubana. Grupos vinculados aos setores da esquerda passam a produzir jornais alternativos para dar maior amplitude à divulgação da ideologia e posturas políticas desses setores. Essa fase da imprensa alternativa se difere das demais pela relação direta que havia entre o conteúdo textual dos periódicos e as estratégias políticas dos grupos aos quais estavam vinculados. Constituíram-se numa ferramenta para tentar promover o desenvolvimento de uma revolução contra o governo militar.
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