O Nazismo E O Povo: A Escalada Do Nacional-Socialismo Na Alemanha
Por: brunog7 • 22/6/2023 • Trabalho acadêmico • 2.041 Palavras (9 Páginas) • 76 Visualizações
O nazismo e o povo: a escalada do nacional-socialismo na Alemanha
Bruno Guimarães Ferreira – Instituto de História/UFRJ
Resumo: O presente artigo pretende analisar as relações do povo alemão com o nazismo, principalmente, como uma espécie de apoio popular foi um meio legitimador das políticas implementadas pelo partido nazista e suas lideranças. Além disso, uma análise do contexto social e dos espectros que circundam a propaganda da figura messiânica de Hitler.
Com o fim da primeira guerra mundial, mesmo com a Alemanha derrotada no conflito, havia um sentimento do povo de um possível pós-guerra menos doloroso e com maior possibilidade de avanço. Porém, com o tratado de Versalhes e as dificuldades que esse acordo traria para os alemães, em paralelo ao surgimento de um sentimento de humilhação e degradação dos conceitos nacionais; sendo assim, abre-se uma janela para a criação de teorias que justifiquem os acontecimentos em questão e que, de alguma forma, diminuam o peso da instabilidade para o próprio governo. Seja pela boca das elites do exército ou pelas produções da época, essa prerrogativa foi adotada e ganhou força pelas diversas camadas da população (EVANS, 2003, p.1) Em maioria, os atos tidos como prejudiciais a campanha alemã na guerra tiveram como principal culpado “os revolucionários" que, inseridos no próprio território, “apunhalaram” pelas costas o exército em uma espécie de ameaça interna e conveniente. Com a obscuridade que acompanhava o cenário político após a guerra, houve o crescimento do nacionalismo extremista que, já nas suas primeiras espreitas ao povo, acompanha uma característica que será citada posteriormente neste artigo, a relação subjetiva e mítica que estava presente nos combatentes e suas relações, assim como cita Richard J. Evans: “Esse mito exerceu um apelo poderoso em especial sobre as classes médias, para quem as privações compartilhadas, tanto na realidade quanto em espírito, com operários e camponeses nas trincheiras durante a guerra proporcionaram material para celebração literária nostálgica no pós-guerra” (EVANS, 2003, p.52).
É importante ressaltar a movimentação dos soldados com o fim da guerra, não somente servindo como bode expiatório para a ascensão de regimes totalitários. Não houve generalização política que pudesse legitimar um pensamento mútuo; não obstante, ele dividia o protagonismo com dois outros grupos: comunistas e sociais-democratas - ressaltando a presença em grande número de ambos. No entanto, a escalada violenta de diversos grupos na Alemanha não foi seguida pela maioria da população, e mesmo que estivesse presente no contexto político, ainda precisava romper com outras frentes políticas do contexto e a partir de 1919 com a República de Weimar.
“The Weimar Republic was an idea seeking to become reality. The decision to hold the constituent assembly at Weimar was taken primarily for prudentia reasons—as Philipp Scheidemann, the first Prime Minister of the Republic, later admitted, Berlin was not safe. But Weimar also came to symbolize a prediction, or at least a hope, for a new start; it was tacit acknowledgment of the charge, widely made in Allied countries during the war and indignantly denied in Germany, that there were really two Germanies: the Germany of military swagger, abject submission to authority, aggressive foreign adventure, and obsessive preoccupation with form, and the Germany of lyrical poetry, Humanist philosophy, and pacific cosmopolitanism. Germany had tried the way of Bismarck and Schlieffen; now it was ready to try the way of Goethe and Humboldt”. (GAY, 2001, p. 18).
Com um cenário de dualidade entre o aspecto cosmopolita e efervescente socialmente para o exército e o nacional socialismo, vendo a República de Weimar como uma tentativa mediadora, que tinha consciência em sua criação das possibilidades que a circundam. No entanto, as características que se afastaram do caráter conservador não agradavam uma parcela significativa da população, a retratação pela via da mídia e intensificação dos crimes e conflitos corroboram para a instabilidade - não que esse cenário não fosse concreto, a análise em questão julga a forma com que os conteúdos eram inseridos - já havia uma busca dessa parcela da população em reestabelecer os preceitos anteriores, em uma espécie de nostalgia, palavra essa que se tornará muito presente no vocabulário alemão. Esse cenário fica mais complexo com a chegada da crise de 1929, reforçando e agravando as problemáticas já citadas, com um crescimento significativo de crimes em diversas localidades do país. Inevitavelmente, muitas pessoas vão atrelar os altos índices de crimes e um número cada vez maior de grupos não convencionais ao novo modelo empregado durante Weimar, nesse momento não apenas os seletos grupos estavam reforçando esse pensamento, as camadas populares viam nessa liberdade da República um precedente para a promiscuidade (GELATELLY, 2001, p. 69).
É nesse momento da história que devemos nos atentar, a maior dificuldade dos movimentos políticos e sociais é adentrar as camadas populares para difundir seus ideais. Sendo assim, quando vemos uma repressão a Berlim, não só pela criminalidade, mas também pela crescente da comunidade homossexual e artística - ressaltando que a Alemanha foi berço de um movimento expressionista durante esse período - se dá o entendimento do plano de fundo necessário para a briga de grupos nacionalistas extremos por uma liderança que deveria ser apresentada e lideraria os alemães para uma guinada na história, restaurando os conceitos que foram abandonados desde o pós-guerra, essa afirmação fica evidente e clara na obra O carisma de Adolf Hitler de Laurence Ress: “Os alemães estavam vivendo uma crise que não era apenas econômica, mas também política e, em muitos casos, espiritual” (RESS, 2013, p.24). É fato que nos momentos de incerteza que movimentos como o nazismo conquistam espaço, a fragilidade econômica que assolou a Alemanha devido às sanções do pós-guerra foi um golpe imensurável, não há como conceber essa escalada totalitária apenas com aspectos isolados. Hitler vai utilizar de todos os artifícios já citados, se destaca quando discursando para grandes plateias, traz consigo uma sinceridade e passava para o povo um sentimento real. Uma figura messiânica que vem para salvar seu povo, o último artifício para livrar desse momento nebuloso da história. Mesmo que Hitler fosse essencial para criação desse modelo nazista, sua posição não seria assegurada sem o apoio do povo.
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