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O Papel da história na sociedade brasileira atual

Por:   •  23/10/2018  •  Ensaio  •  1.759 Palavras (8 Páginas)  •  397 Visualizações

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de História – Introdução à História (HUM-03033)

Prof Arhur Lima – Turma B

Aluna: Eduarda Storniolo (00302676)

Pra que serve a história?[pic 1]

  O papel da história na sociedade brasileira atual.[pic 2]


        A população brasileira enfrenta uma dicotomia presente em todos os âmbitos sociais. Após ápices  antagônicos de supervalorização e total desvalorização do estudo da história em um intervalo de tempo pequeno (aproximadamente de 1988 até 2013; e de 2013 à 2018), questiona-se os motivos disso. Ademais, é necessária a reflexão sobre o papel o qual o historiador ocupa desde o ensino básico, formativo da sociedade; até os estudos acadêmicos mais específicos, abrangendo o contato entre historiadores e público em geral.

        Após o fim da ditadura militar, com a “redemocratização” estabelecida pela Constituição Federeal de 1988, surge uma imensa movimentação para recordar a memória do trauma sofrido durante o regime. E também, ao redor do mundo – após a  II Guerra Mundial – estabelece-se a obrigatoriedade da memória, o esforço para o reconhecimento do passado.  Uma das explicações possíveis para a serventia da história é argumentar que conhecendo o passado, os erros não repetirão-se e esse, talvez, tenha sido o intuito da necessidade de recordar.

        De 1988 até 2013, diversas modificações ocorreram no contexto social do Brasil. O país sai de um regime miltar autoritário, percorre diversas situações e se depara, então, com um governo populista, assegurando, em partes, os direitos dos vulnerabilizados, com  políticas conciliadoras de classes etc. Juntamente a isso, o direito de escolha é gradativamente mais presente, sendo nas menores escolhas até decisões que afetam toda a nação. É, portanto, uma realidade totalmente anteposta à anterior, na ditadura. Todavia, essa liberdade não é suficiente, mesmo com muito mais direitos do que anteriormente, muitos deles ainda eram suprimidos e, com isso surgem as Jornadas de Junho de 2013, reivindicando os direitos, “atando as pontas soltas” da sociedade brasileira. Essa movimentação em prol da população pode ser vista como o maior surto de consciência da população, mas também pode ser interpretado como movimentação das grandes massas de manobra. É notável que, pelo menos uma parte dos manifestantes, encaixavam o estudo da história nas suas reclamações, boa parte dos ali presentes possuiam conhecimento da disciplina e sabiam como aplicá-lo, entretanto, outra grande parte também demonstrava-se totalmente alheia ao acontecimentos, seguindo reinvidicações que poderiam nem, sequer, compactuar com suas ideologias, isso é comprovado pela abrangência de pautas, algumas delas fugindo totalmente dos assuntos corriqueiros e pertinentes. Nesse momento da história brasileira, a disciplina aparece bifacetada: primeiramente,  se a história serve para conscientizar aqueles que a estudam, ela obteve sucesso, mobilizou milhares, contudo também foi fracassada pois as mobilizações não surtiram efeitos grandiosos, “morreram cedo” e, hoje, o cenário nacional é pior do que o que antecedia 2013.

        O que sucedeu o suposto ápice da consciência da história é o contexto atual: a constante “guerra entre coxinhas e petralhas”. Uma parcela da sociedade uniu-se  favor de um golpe, crendo no aumento da democratização, contudo, no contexto de crise, a população perde local de fala e somente o mercado é beneficiado. Sendo assim, a negação da história faz-se quase que obrigatória.

        Contudo, a negação do ensino da história provém do início da historiografia brasileira. Martha Medeiros em uma de suas crônicas comenta a ausência de “pais da pátria” em nosso país. A negação pode ser explicada pelas falhas na construção da identidade nacionalista do Brasil, usando como exemplo os anos de dominação portuguesa, sem valorizar o patriotismo brasileiro. O país é uma união de identidades e, mesmo situado na América Latina, encara-se de forma eurocentrada, submetendo-se a paradigmas os quais contrariam o que deveria ser sua real identidade.

        Essa negação da historicidade é refletida desde o ensino básico até os centros acadêmicos. As crianças brasileiras são educadas crendo em uma história pacífica, sem relatos de guerras cívis ou violência, contudo a história está repleta desses acontecimentos e essa ideia é totalmente equivocada, como relata o historiador Leandro Karnal em seu livro “Todos contra todos”. Revoltas sociais, golpes de estado e um extenso histórico de violência são suavizados ao serem transmitidos nas escolas, além de colocar figuras europeias para protagonizar a história do país, como o português D. Pedro I, o libertador que trouxe a independência do país.

        Entretanto, o historiador também é responsável pela desvalorização do estudo da disciplina. Afinal, a maioria dos estudos produzidos mantêm-se trancados dentro das Universidades. A história tem difícil acesso para aqueles que não estão na área do conhecimento. Por conta disso, leigos, geralmente, os quais se interessam pelo assunto acabam por consumir leituras produzidas, na maioria das vezes, por jornalistas por exemplo. Como é o caso de obras de Leandro Narloch e Laurentino Gomes. A problemática do primeiro é o estudo mau elaborado de fontes históricas, transmitindo uma história dissimulada e até mesmo inverdades (apesar da problemática desse termo). O segundo, apesar de ilustrar excelentemente a história do Brasil em três livros ainda não é historiador. O que faz um historiador? Por que os historiadores não estão ocupando esses papéis na sociedade? É fato que o diploma no curso de história não é a única forma de ser um historiador, contudo, os diversos profissionais que se formam nessa área estão quase sempre distantes do público em geral.

        Então para que serve a história e qual o papel do historiador? A explicação mais plausível, portanto, para o estudo da história é de que deve conscientizar seu povo, construir uma identidade social para uma nação. Não obstante, será sempre parcial. Apesar da necessidade de narrar fatos e disseminar conhecimento, é impossível que o estudo e o historiador não possuam uma posição, afinal, apenas esquematizar dados e acontecimentos não descreve a história pois estará sempre excluindo parcelas da população e outros fatos. Sendo assim, o necessário para descrever uma historiografia “útil” é analisar a necessidade do momento em usar a história. A dicotomia brasileira, nesse constante ataque entre as duas partes, é reflexo do esquecimento total da história e da necessidade extrema de uma construção de identidade. O ano de 2018 está situado no momento que é preciso reconhecer os grandes erros do passado, a corrupção não escancarada da ditadura militar, por exemplo, abdicando da má fé que narrou a história por tanto tempo. Em contraponto, o excesso de valorização de um fato histórico ou de uma memória pode levar ao caos. Esse excesso dá espaço à má fé. Outro aspecto, é fundamental a compreensão de que a história é maleável e jamais exata ou absoluta. Todo o estudo depende da subjetividade de quem está fazendo-o. Essa compreensão é o que dificulta a difusão da disciplina, pois a sociedade atual espera verdades absolutas que “fazem servir a carapuça”, fatos agradáveis de serem ouvidos, como se fosse uma ciência exata, neutra e imparcial. A história é antagônica à exatidão. A utilidade da história é, por conseguinte, o estudo subjetivo do “passado”, valorizando suas singularidades a partir da análise ética das fontes. Essa análise ética significa não oprimir minorias nem selecionar receptores, porque o estudo deve ser disseminado a todos, abdicando de um público alvo específico.  Para uma sociedade compreender a necessidade do estudo histórico é fundamental a análise da interpretação subjetiva de quem a escreve.         

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