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RESENHA: A HISTORICIDADE DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

Por:   •  23/6/2017  •  Resenha  •  1.624 Palavras (7 Páginas)  •  364 Visualizações

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A HISTORICIDADE DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

Mestre pela universidade Federal Fluminense, estado onde nascera em 1957,         Sidney Chalhoub tem como principal área de pesquisa a história do Brasil do século XIX tendo enfoques na história da escravidão, da saúde pública e da história do Rio de Janeiro, sua cidade natal. Suas pesquisas historiográficas possuem grande importância no campo historiográfico, sendo suas obras valorosas fontes de estudo para os amantes da área, vez que, Chalhoub é um dos principais historiadores brasileiros.

Como já citado acima, o ilustre historiador, tem como principal campo de estudo o Brasil dos novecentos com temáticas na escravidão e na história do Rio de Janeiro. Cidade Febril, obra de 1996 e que recebera o prémio Jabuti no ano seguinte de seu lançamento, nos traz uma interessante abordagem acerca de como se deram os primeiros passos da saúde publica no solo brasileiro ao tratar das questões higienistas dos cortiços que eram sinônimos de insalubridade e proliferação de doenças, das políticas públicas adotas, e por fim, nos traz uma reflexão a respeito de questões sociais. Este entrelaçamento de informações nos remonta á construção do que viria ser o Brasil dos séculos seguintes.

Antes de se abordar o livro propriamente dito, é importante discorrer sobre o contexto histórico do surgimento dos primeiros cortiços. Com a abolição da escravatura um grande contingente de pessoas migraram para a cidade do Rio de Janeiro que não possuía estrutura e crescia desordenadamente. A nova classe populacional que surgia, os ex-escravos, não receberam do governo nenhum auxilio para se estabelecerem em outros lugares e assim constituírem uma vida digna. Entregues a sua própria sorte, está população viu nas habitações coletivas uma maneira barata de direito á moradia. Os ex- escravos encontraram nestas condições apoio entre eles para que uma nova vida fosse estabelecida, porém, estas habitações se tornariam alvos de ideologias higienistas pregadas por alguns cientistas.

A obra de Sidney Chalhob inicia-se com o relato sobre o andamento da demolição do maior cortiço da cidade do Rio de Janeiro o: “Cabeça de Vaca” que segundo pesquisas do autor “dizia-se que, em tempos áureos, o conjunto havia sido ocupado por cerca de 4 mil pessoas;” (CHALHOB, p 15. 1996). A maioria dos cortiços eram construídos no centro da cidade, inclusive o Cabeça de porco, está estruturação se tornou alvo de políticas públicas que visavam à urbanização da cidade por meio da construção de vias largas, com isso, as novas habitações se tornaram centro das atenções das autoridades fluminenses que encontraram nas teorias higienistas meios para a legitimação do domínio sobre as classes pobres.

O autor nos traz visões muito amplas a respeito deste marcante momento de nossa história, trazendo questões e reflexões que não se encontram em nenhum livro didático além de nos transportar no tempo a partir de sua narrativa que traz consigo o contexto geral da temática, Chalhob disserta sobre histórias que por vezes não são contadas, neste caso específico a trajetória dos moradores dos cortiços, este relato traz um elemento de cunho social á sua obra. Um exemplo deste lado reflexivo sobre questões sociais é quando o historiador ao narrar à demolição do citado cortiço cabeça de porco, relata que todas as autoridades da cidade se encontravam no momento da derrubada e de que estas agiram de forma abrupta sobre uma população que se encontrava em estado de pobreza e calamidade causadas pela própria negligência governamental e do modo como esta violência fora ovacionada pela imprensa local.

Esta narrativa da destruição do mais famoso cortiço carioca do século XIX e suas repercussões nos abrem um leque bastante amplo de perguntas. É difícil entender o porquê de o Cabeça de Porco ter sido demolido de forma tão abrupta e violenta, e sem que providência alguma fosse tomada para acomodar as centenas de moradores envolvidos. Se nos detivermos apenas nos lances do espetáculo em si, é impossível perceber o sentido de tamanha demonstração de força, de capacidade de intimidação e, mais fundamental ainda, não se encontra a explicação para tanto ódio de classes. [...] Mas e a aclamação da imprensa, com suas metáforas de guerra e de masculinidade, e seu regozijo na eliminação do “outro” tão unanimemente indesejado¿ (CHALHOB, p. 19. 1996)

Após está analise a cerca dos modos arbitrários com qual foram tratadas as classes pobres na derrubada do cabeça de porco Sidney Chalhob ressalta a questão  como sendo um “mito de origem” dos abusos de autoridades ás classes menos favorecidas, sendo isso, refletido até os dias atuais.

 Outro aspecto que contribuiria pra a constituição das desigualdades, cientificamente implantadas naquele período foi à constituição da classificação da população em classes pobres e classes perigosas que de inicio possuíam sentido diferentes, mas se tornaram palavras sinônimas. Esta associação só viria a contribuir para a fomentação da segregação de classes no Brasil a partir de teorias preconceituosas que acarretaram posteriormente na constituição de estereótipos que ligam o negro, o pobre, morador de regiões de risco á malandragem e consequentemente a marginalidade. O autor de forma brilhante nos remonta uma linha de raciocínio advinda da linha de pensamento dos parlamentares da época a cerca deste ponto:

Os pobres carregam vícios, os vícios produzem os malfeitores, os malfeitores são perigosos á sociedade; juntando os extremos da cadeia, temos a noção de que os pobres são por definição, perigosos. Por conseguinte, conclui decididamente a comissão, “as classes pobres [...] são [as] que se designam mais propriamente sob o título de –classes perigosas-’’. (CHALHOUB, p.22, 1996)

                É relevante situar que tais conceitos foram instituídos no século XIX, século este, da cientificidade pautada nas teorias positivistas e deterministas que autenticaram e fortaleceram os sentimentos racistas e preconceituosos vistos em uma sociedade totalmente miscigenada como a sociedade brasileira. Lilia Moritz Schawrcz em seu texto “Nem preto nem branco, Muito pelo contrario raça e cor na intimidade” reforça a concepção histórica das desigualdades formuladas neste recorte histórico. “Foi só no século XIX que os teóricos do darwinismo racial fizeram, dos atributos externos e fenotípicos, elementos essenciais definidores de moralidades e do devir dos povos”. (SCHAWRCZ, p. 182.2013)

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