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Relatório de Fundamentos - Luiz Araújo Ramos Neto

Por:   •  15/2/2022  •  Relatório de pesquisa  •  1.748 Palavras (7 Páginas)  •  104 Visualizações

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LUIZ ARAÚJO RAMOS NETO

História e Pensamento Pós-Colonial (2º semestre de 2021)

Relatório de Fundamentos – Aula 10. Gayatri Spivak e a representação política do subalterno

JOÃO PESSOA

2022

O presente relatório tem por objetivo apresentar as discussões referentes ao seminário de fundamentos apresentado no dia 18 de janeiro de 2022 para a disciplina de “Tópico Especial I: História e Pensamento Pós-Colonial”. A base para o trabalho é o capítulo “Linguística e Gramatologia” da clássica obra Gramatologia do pensador argelino Jacques Derrida. O exposto a seguir, após um breve aporte biográfico do autor, contém as impressões, interpretações e compreensões apreendidas mediante a leitura do capítulo (que é detentor de uma linguagem complexa e desafiante para os não iniciados) e dos debates ocorridos em sala de aula, finalizando com uma descrição das relações existentes entre este e a obra escolhida para o seminário de debate; Pode o subalterno Falar? de Gayatri Spivak.

Nascido em El-Biar em 1930, durante o domínio francês sobre a Argélia e oriundo de uma família de judeus sefarditas, Jacques Derrida foi um dos mais importantes pensadores do século XX. Aos 19 anos, mudou-se da Argélia para Paris com o objetivo de estudar filosofia alemã, o que resultou na produção da dissertação intitulada O problema da gênese na filosofia de Husserl. Em 1956 recebeu uma bolsa para realizar seus estudos na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde também lecionou. Em 1960, tornou-se professor assistente de filosofia da Sorbonne, até ser convidado em 1964, pelos colegas Louis Althusser e Jean Hyppolite para lecionar como professor assistente na École Normale Supérieure, cargo que ocupou por vinte anos. A partir de 1984, ingressou na École des Hautes Études em Sciences Sociales, lecionando até o ano de 1999. Nos Estados Unidos, também ocupou cargo de docente nas universidades de Yale e John Hopkins. Depois de muitos anos de contribuições, Derrida faleceu em 2004 em Paris, devido a um câncer de pâncreas, ele tinha 74 anos.

Tendo sua publicação original no ano 1967, Gramatologia é uma obra que versa sobre a contraditória necessidade e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de existência de uma ciência da escritura, no âmbito das ciências ditas positivas, cujos pressupostos de formação se deram a partir da chamada “metafísica ocidental”. A metafísica configuraria uma série de constructos que forneceriam percepções e compreensões acerca do mundo, e possibilidades de expressão deste por meio do âmbito linguístico (LIMA 2008, p.05). No livro, Derrida trabalha um de seus maiores eixos temáticos, ao centralizar sua crítica na afirmação de que a metafísica ocidental (e em consequência, a filosofia ocidental, a ciência da linguagem e da linguística estruturalista) estariam marcadas pela característica que o autor chama de “logocentrismo”.

O caráter logocêntrico do pensamento ocidental, se define pela manutenção a centralidade da palavra (“logos”), dos sistemas de pensamento e das ideias, de forma a serem compreendidas como matéria de caráter inalterável, fixadas no tempo, o que sugere a existência de uma verdade concreta, cuja busca se encontraria justificada. Tal pensamento também seria caracterizado por Derrida (2007, p.36-37) como fonocêntrico, devido à centralidade da fala como linguagem natural primordial ou originária, a expressão do logos como origem da verdade.  

É justamente a partir do capítulo “Linguística e Gramatologia”, no qual se faz presente uma discussão sobre os escritos do linguista Ferdinand de Saussure, que Derrida expõe sua metodologia de crítica à metafísica ocidental. O autor supracitado, estabelece a língua falada como o seu objeto de estudo, em detrimento da língua escrita, que era compreendida como elemento posterior à fala e, portanto, detentor de uma importância menor. Derrida faz seu questionamento no formato de análise que batizou de desconstrução, um trabalho analítico que parte de dentro das unidades de sentido do texto e que se apresenta como uma discussão das origens, dos pressupostos e dos conceitos destas, no objetivo de trazer a luz os seus alicerces logocêntricos, fonocêntricos e etnocêntricos (SANTIAGO, 1976, p. 18). Desta forma, se empreende uma busca por encontrar o princípio formador, que ao mesmo tempo, também é o princípio da ruína destas unidades. Na medida que se faz a devida identificação do princípio que formou as unidades, possibilita-se de encontrar o ponto que torna possível a sua desconstrução e reconstrução destas mesmas e reorganizá-las de outra maneira (SANTIAGO, 1976, p. 19).

As percepções de uma língua escrita como elemento posterior e menos importante tem suas bases na antiguidade clássica, a partir da obra Fedro de Platão. Para o pensador grego, a verdadeira língua do filósofo seria a falada, “por se constituir em uma presença afirmativa, estando sempre presente aquele que fala para defender-se de distorções e de interpretações errôneas do seu discurso, reafirmando-o sempre” (LIMA 2008, p. 06). A língua escrita, era considerada perigosa por sua suposta falta de confiabilidade, ao possibilitar que se igualassem os medíocres e os sábios, visto que, fazendo uso do texto escrito, qualquer pessoa um poderia ler e fingir que sabe de maneira impune. Outro aspecto da linguagem escrita denunciada por Platão é sua característica polissêmica, ao possibilitar “interpretações, leituras divergentes, falseando a “verdade” do autor” (LIMA 2008, p. 06). Platão, percebia a língua escrita como um simulacro da língua falada. Posição compartilhada por Saussure, que percebia a escritura como “uma ferramenta imperfeita, perigosa, quase maléfica”, ou seja, como uma “travestimenta” da fala (DERRIDA 2017).

A partir dos elementos supracitados, podemos afirmar que a crítica estabelecida por Derrida à metafísica ocidental (e seus elementos logocêntricos e fonocêntricos), buscava reabilitar o conceito de escritura, que até então se encontrava logrado a uma condição desfavorável imposta. O que na prática, implica na desconstrução de um elemento fundamental da filosofia grega iniciado pelo pensamento de Platão: a chamada metafísica da presença, ou seja, a presunção filosófica de que, no ato da fala, se encontraria a legítima expressão da uma verdade ou de uma consciência anterior à própria fala, sendo a linguagem apenas um mero artifício para expressar um pensamento pré-existente fora de seus domínios, um pensamento que já estaria presente no sujeito desde sempre, e que, portanto, se estabeleceria enquanto razão universal e inalterável, a realidade pura. O que presume uma presença metafísica anterior na consciência, que antecede o processo de comunicação. Uma verdade independente e pré-existente às expressões da língua (DERRIDA, 2017, p. 52-53).

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