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Resenha Baile de máscaras: mulheres judias e prostituição: as Polacas e suas Associações de Ajuda Mútua

Por:   •  9/4/2019  •  Resenha  •  2.406 Palavras (10 Páginas)  •  506 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

HISTORIA DO BRASIL II

GABRIELLE ARAÚJO SANTOS

RAFAELA PAULA DA SILVA

RESENHA

PONTA GROSSA

O1 DE DEZEMBRO DE 2010

KUSHNIR, Beatriz. Baile de máscaras: mulheres judias e prostituição: as Polacas e suas Associações de Ajuda Mútua, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.

“(...) exorcizar demônios é uma tarefa difícil. (...) Mas deve ser feito, o primeiro passo para isto é, como o sabiam os exorcizadores, chamar os demônios pelo nome”.(Scliar, 1985, p.102)

O filme de origem iugoslava-argentina que conta a história de uma moça que se casa com um rapaz que retorna ás suas origens, uma comunidade judaica na Polônia em busca de uma “boa moça” que não se encontra na América onde ele vive. Após casar-se, a moça não tendo outra saída, entra na prostituição em Buenos Aires, sendo mais uma “vítima” da rede de prostituição internacional conhecida como escravidão branca. Esse filme de Juan Batista Stagnaro – El camino del Sur – se trata de mais um romance de caráter histórico, que mistura ficção e verdade para tratar de um “aspecto peculiar da imigração: o tráfico de escravas brancas” serve de base para a autora não só para exemplificar o tema e a vasta literatura a respeito, mas para a alegoria do próprio título escolhido para a sua obra “baile de máscaras”, com base em uma cena onde o irmão caçula da moça vai até Buenos Aires em busca da irmã e acaba participando de um baile de carnaval onde utilizam máscaras, ele acaba enamorando-se de uma moça e desfruta da companhia dela durante o baile até chegar o momento final onde todos retiram suas máscaras e acabam por revelar a sua identidade, nesse momento o rapaz percebe que a moça que esteve a noite inteira em sua companhia é sua própria irmã. As máscaras demonstram as representações sociais, onde cada agente veste a sua correspondente e representa um determinado papel, até chegada a hora de ele retirar a mesma e revelar a sua identidade real, e é assim que Kushnir busca abordar a temática da imigração no Brasil e as chamadas polacas, retirando suas máscaras perante a sociedade e tentando entender suas identidades sob uma nova perspectiva.

Se trata de uma dissertação de mestrado de Beatriz Kushnir publicada posteriormente em formato de um livro de 258 páginas, onde é abordado o tema tabu da prostituição de imigrantes europeias, não sendo suficiente a marginalização que sofriam pelo fato de estarem em território hostil a sua cultura e demasiado longe de sua terra natal, sem muitos recursos em um local desconhecido e por diversos fatores levadas a prostituição, também eram colocadas ai a parte do seu próprio povo e da sua religião.

Nesse prisma, a autora focaliza as mulheres judias advindas do Leste europeu, que chegaram ao Brasil ao fim do século XIX, início do XX, sendo conhecidas aqui pejorativamente como “polacas” e faziam parte do universo das denominadas escravas brancas.

Sobre tal temática no Brasil, o pioneiro foi Moacyr Scliar com o romance O ciclo das Àguas, de 1975, o seu texto enfoca a temática filosófico-religiosa, caracterizando a comunidade judaica em Porto Alegre, cidade natal do autor. Em outro texto posterior, o autor admite que a intenção de seu livro O ciclo das águas foi a reflexão em torno da condição judaica e da sua imigração para as Américas. Um capítulo do romance dedica-se a um tema controverso a muito deixado de lado, principalmente dentro da própria comunidade judaica: o tráfico de escravas brancas.

Partindo desse pressuposto e usando a obra de Scliar como referência, Kushnir apresenta sua principal proposta de seu trabalho mergulhando na temática da prostituição polaca para a compreensão da construção identitária judaica moderna em uma de suas facetas, não objetivando a análise da prostituição e da sexualidade, mas enfocando na reflexão acerca da dupla marginalização sofrida pelos imigrantes fora-da-lei , que culminou na união dos mesmo pelo instinto de autopreservação rompendo a exclusão social e religiosa a qual foram submetidos pelos legisladores do país e pela própria comunidade judaica.

Tais homens e mulheres coexistiam em um mesmo ambiente com comunidades judias, sem a possibilidade de interação social por conta de suas atividades no mercado da prostituição estrangeira, mesmo lhe sendo comum a penosa situação de estrangeiros.

Por conta de tal marginalização, esses grupos criaram um artifício para a sua sobrevivência, organizando uma espécie de instituição – sociedades de ajuda mútua – em torno da sua vida religiosa e identitária de práticas coletivas. Baseada nas instituições, em suas atividades e nos homens e mulheres nelas envolvidos a autora buscou suas fontes para entender as práticas coletivas e ter acesso a uma visão diferenciada da história até então, onde essas pessoas excluídas falem por si mesmo sem a intervenção do olhar de terceiros.

O primeiro capítulo fica a cargo de todo trabalho conceitual, onde é feita a opção pela história cultural e da vida privada das mulheres públicas, partindo dos registros que os grupos deixaram de sua trajetória, deixando exposta essa árdua tarefa de reconstituição dos registros, pois por se tratarem de agentes marginais suas histórias foram “apagadas” ou modificadas pelo preconceito ou vergonha de seus descendentes, ou, pela impossibilidade de registro de seu trajeto.

Fazendo uso de alguns relatos orais de descendentes dos imigrantes que participaram dessas associações e de alguns que participaram efetivamente, do histórico e de documentos originais como atas, estatutos, livros-caixa e materiais iconográficos. Para a pesquisa a autora deteve-se nas sociedades do Rio de Janeiro e São Paulo, apesar da existência de demais em outros países e outra na cidade de Santos, no Brasil.

No segundo capítulo, há um histórico do trafico de mulheres brancas na América e das diferentes formas de combate a essa prática. Conhecidas como escravas brancas, essas mulheres saiam de seus países em busca de uma melhor perspectiva de vida, seja pelas condições sociais precárias

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