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Anna Petrovna: A DESTRUIÇÃO DA MULHER JUDIA NA RÚSSIA CONSERVADORA DE TCHEKHOV

Por:   •  5/7/2016  •  Ensaio  •  1.683 Palavras (7 Páginas)  •  368 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE TEORIA DO TEATRO        

ANNA PETROVNA: A DESTRUIÇÃO DA MULHER JUDIA NA RÚSSIA CONSERVADORA DE TCHEKHOV

MARIANA DE OLIVEIRA LIMA

Rio de Janeiro, 28 de junho de 2016

                                

Trabalho final da disciplina Formação e Transformação do Drama, ministrada pela professora Maria Helena Werneck no Curso de Teoria do Teatro do Centro de Letras e Artes da Unirio.

A partir da leitura e análise da obra intitulada Ivanov do autor Russo Anton Tchekhov pretendo apontar os aspectos anti semitas e patriarcais sofridos por Anna Petrovna.

Para começar meus apontamentos introduzo uma breve fala de Chabelski, o conde, na cena IV do primeiro ato onde logo depois de imitar o sotaque judeu da época se refere aos mesmos como ladrões dizendo assim “Judeu batizado, ladrão perdoado e cavalo drogado, valem o mesmo contado”, mesmo que rindo Petrovna responde ao conde dizendo o quão mau ele se mostra e o quão venenosas são suas brincadeiras. Se formos fazer um paralelo com o racismo que os negros sofrem, Chabelski seria aquele “amigo” que mesmo que com “afeição” pela pessoa de outra raça, quando se depara com um erro cometido por ela não teme em logo desferir um “tinha que ser preto/judeu”. É visível o incomodo de Petrovna em relação as brincadeiras do conde sobre a sua etnia, acredito que ao introduzir este personagem Tchekhov busca entrar em diálogo com a relação racista as quais os judeus eram. O que pretendo mostrar também é como isso acarreta na vida de Anna Petrovna, para além de não ser mais amada por Ivanov e por sofrer com a tuberculose, o anti semitismo que a cerca faz com que sua auto estima seja estilhaçada como podemos ver na seguinte fala da personagem em uma conversa com Lvov, seu médico, na cena VII ainda no primeiro ato

Anna Petrovna: Começo a crer,doutor, que o destino me está a fazer pagar um preço exessivamente caro. Muitas pessoas, que talvez não sejam melhores do que eu, às vezes são felizes, sem terem de pagar a felicidade. Enquanto que eu paguei por tudo, absolutamente por tudo!... E tão caro! O que é que eu fiz para que exijam de mim juros tão avultados? Meu bom amigo, o senhor é tão prudente… Não ousa dizer-me a verdade, como se eu ignorasse o nome da minha doença. Eu conheço-o perfeitamente![...]

Dessa fala podemos retirar o excerto em que Petrovna se refere a sua doença e fazer uma breve análise da condição social da personagem e da opressão sofrida pela personagem, pois acredito que ao se referir ao nome de sua doença ela não diz apenas do que tange a tuberculose ou a falta de amor de seu marido, mas da profunda tristeza que sente ao ser oprimida por ser judia, por estar praticamente em um exílio em virtude da tuberculose e por ter abandonado a família para se casar e não se sentir pertencente ao lugar no qual se encontra por não ser aceita em virtude de sua raça. Como ela bem diz ainda na cena VII no seguinte recorte

Anna Petrovna: [...] Começo também a admirar-me da injustiã. Porque não se responde ao amor com o amor? Porque é que a verdade só recebe como paga a mentira? Diga-me: até quando o meu pai e a minha mãe continuarão a odiar-me? Vivem a cerca de cinquenta vestras daqui e sinto o seu ódio de dia e de noite, mesmo quando durmo. E como é que eu devo interpretar o tédio de Nicolai? Ele diz que só deixa de amar-me quando regressa. à noite, quando o tédio o devora. Posso compreender isso e admiti-lo, mas imagine que ele deixa de gostar completamente de mim?

[...]

Anna Petrovna: [...] Agora ele vai ára a casa dos Lebedev destrair-se com outras mulheres e eu… eu fico sentada no jardim, a ouvir a coruja… [...]

Aqui percebemos que Petrovna leva consigo uma carga melodramática muito pesada, a personagem sofre profundamente a todo o tempo, a falta de amor a corrói e dá espaço para que a doença se alastre pelo seu corpo. Mesmo que pouco explicitado no texto, se torna visível que a moça que antes era iluminada, ativa, feliz e passional, agora se encontra em desespero, deprimida, doente, quase como se o brilho que antes ela carregava fosse subitamente apagado pelo abandono e pelo olhar torpe da sociedade. Pois até nos lugares que seu marido frequentava, a moça era desgraçada pelas outras personagens, como podemos ver no segundo ato, onde se passa na casa dos Lebedev onde Petrovna é amplamente odiada e desrespeitada a todo tempo. A exemplo o diálogo de Zinaida Savichna com sua filha Sacha e Babakina,  a respeito da moça após Babakina dizer que seu marido é um homem decente, porém infeliz na cena III do segundo ato.

Zinaida Savichna: E como pode ser feliz, meu anjo? (Suspira) Coitado, como ele se enganou!... Foi casar-se com aquela judia, sempre na esperança de que os sogros dariam à filha montanhas de ouro, mas não recebeu coisíssima nenhuma; pelo contrário… Desde que ela mudou de religião os pais não querem mais ouvir falar da filha; amaldiçoaram-na e… nem um centavo. Hoje ele torce a orelha, coitado, mas é demasiado tarde.

Sacha: Mamãe, isso não é verdade.

Babakina, com energia: Como é que não é verdade Sachenka? Toda a gente sabe! De resto, se não fosse por interesse porque se casaria com uma judia? Será que não há russas bastantes? Ele fez as contas, meu anjo, fez mal as contas… (com vivacidade). Mas o que ela hoje atura, santo Deus! É de se morrer de riso! Mal ele chega em casa, começa “Os seus pais roubaram-me! Fora daqui! Gira!” Mas para onde querem que ela vá? Os pais não a receberão; poderia colocar-se, mas não foi habituada a trabalhar. E ele massacra-a, massacra-, até que o conde se interpõe. Se não fosse o conde, já há muito tempo que ele teria dado cabo dela…

Sacha, que é apaixonada por Ivanov, tem um momento com ele, onde Petrovna os pega no instante em que estão se beijando. E assim, a moça se torna moribunda, cai de cama até que se encontra quase morta. O que torna mais que evidente o fato de que a tuberculose é reflexo de sua profunda dor e sofrimento pelo destrato do marido, a repulsa da família e o preconceito da sociedade. Enquanto Sacha vive uma aventura amorosa com Ivanov, a vítima de todas as atrocidades dessa sociedade conservadora se encontra quase morta e desmazelada pelos que a circundam, pois já não recebe mais amor, carinho e atenção para além da figura de seu médico, que é o único que parece ainda se importar com a moça.

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