Resenha: Elogio da Loucura, Roterdã
Por: cajugabi • 20/9/2021 • Resenha • 2.254 Palavras (10 Páginas) • 226 Visualizações
Bibliografia:
ROTERDÃ, Erasmo de. Elogio da Loucura (1509). Tradução: Gentil Avelino Titton.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2015. ISBN 978-85-326-4989-8.
O filósofo humanista e estudioso de temas religiosos Erasmo de Roterdã nasceu na
Holanda de 1465, oriundo de família extremamente humilde, o filho bastardo de um padre —
fato absolutamente comum neste tempo — tornou-se órfão muito jovem e por este motivo foi
internado em um convento na Alemanha por vontade de seu tutor. Ali, foi tomado pelo acesso
a escritos que se encontravam em voga naquela época, na vida monástica teve a oportunidade
de conhecer e se familiarizar com a cultura letrada. Logo aos vinte anos de idade escreveu sua
primeira obra: O Desprezo do Mundo, em sequência publicou o discurso O Bem da Paz e
assim foi galgando em seu ofício de escritor.
Ao ingressar na Universidade de Bolonha, na Itália, foi fortemente influenciado pelos
ideais do Renascentismo e do Humanismo e é considerado por alguns historiadores e
biógrafos um dos homens renascentistas mais famosos em seu próprio tempo histórico.
Roterdã dedicou-se a denunciar as práticas imorais cometidas pela Igreja Católica e afirmava
que o clero se distanciava cada vez mais dos ensinamentos de Jesus Cristo, por este motivo é
tido como um dos grandes críticos do comércio de indulgências. As obras de Erasmo fizeram
muito sucesso no continente europeu, tendo sido traduzidas para muitas línguas, além disso, a
popularidade de seus livros fez com que o autor conseguisse conquistar sua autonomia a partir
de suas produções literárias, entre elas, contudo, destaca-se a obra Elogio da Loucura,
publicada em Paris no ano de 1509.
O livro Elogio da Loucura (1509) apresenta-se como uma grande crítica social aos
costumes da época em que viveu Erasmo, num tom explicitamente satírico o autor utiliza
elementos como a ironia e o sarcasmo para encorpar as críticas direcionadas a estrutura social
do século XVI, estando elas principalmente direcionadas as personalidades clericais de seu
tempo. Inserida num contexto de ebulição das ideias renascentistas, a obra tem traços
marcantes do Humanismo presente no pensamento de Roterdã, a valorização dos atributos do
homem, o enaltecimento do prazer e a presença de elementos da Antiguidade Clássica, como
deuses e deusas das mitologias romana e grega, são aspectos que evidenciam a relação da
obra com o Renascimento. Além disso, é importante destacar o contexto de enfrentamento das
práticas religiosas adotadas pela Igreja Católica, Erasmo apesar de ser declaradamente cristão
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também fez parte do movimento que direcionou duras críticas ao afastamento do catolicismo
dos ensinamentos de Cristo, salientando sua posição contrária a participação da Igreja em
guerras e disputas, sendo ele um homem pacifista. Roterdã também destacou a ausência de
um dos preceitos cristãos mais importantes nas condutas dos homens clericais: a caridade,
com isso denunciou rigidamente as práticas de venda de indulgências e o apego às coisas
mundanas por parte dos membros do clero. Apesar de tecer duras críticas ao dogmatismo e as
práticas imorais desempenhadas pela Igreja Católica, Erasmo não se distanciou do catolicismo
e não foi um apoiador da Reforma, chegando a discordar do luteranismo através de suas
produções literárias. Dentro deste contexto, é fundamental destacar a importância de Erasmo
na proposição de uma transformação na relação que o fiel tem com a figura de Deus, o autor
defende uma relação mais íntima do homem com a divindade, — neste período, estritamente
católica — afirmando a capacidade que esta relação íntima teria de construir um entendimento
maior do fiel no que diz respeito às intenções de Deus, esta proposição questionou a
exclusividade das autoridades clericais no facilitamento do acesso ao Reino dos Céus.
A obra literária Elogio da Loucura (1509) é um monólogo apresentado pela
personagem Loucura que busca alcançar o posto de deusa e ter sua importância reconhecida
entre os homens. Em busca desse objetivo, ela vai tecer elogios a si mesma como forma de
comprovar sua relevância. A Loucura autodenomina-se filha do Deus Plutão e da ninfa
Neotetes — a Juventude — e declara estar sempre acompanhada do esquecimento, da
adulação, da preguiça, do amor próprio, da volúpia, da intemperança, da demência, do sono
profundo e do riso exagerado, esta genealogia constrói o perfil da aspirante a deusa e
contribui, segundo a mesma, para a sua máxima influência nas mais diversas esferas da
sociedade e etapas da vida. Logo no início da obra, a personagem principal defende sua
importância para a concepção da vida alegando que a loucura é responsável pelo impulso
humano de gerar outros humanos, dentro dessa mesma categoria, utiliza o matrimônio como
outro exemplo de ação estritamente ligado
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