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Resenha Sejamos Todos Feministas

Por:   •  10/5/2021  •  Resenha  •  2.295 Palavras (10 Páginas)  •  272 Visualizações

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ADICHIE Chimamanda. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Sejamos todos feministas

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nascida em 15 de setembro de 1977 em Enugu, Nigéria. Filha de James Nwoye e Graça Ifeoma, ambos trabalhavam na Universidade da Nigéria. James foi o primeiro professor de estatística do país e Graça foi a primeira administradora mulher da instituição. Após concluir o ensino médio, Chimamanda cursou, por um ano e meio, medicina e farmácia na Universidade da Nigéria. Durante esse período ela se tornou editora da revista The compass, dirigida por estudantes de medicina.

Mudou-se para os Estados Unidos aos 19 anos após receber uma bolsa de estudos para estudar comunicação na Universidade Drexel, na Filadélfia. Depois de dois anos decidiu dar continuidade na sua formação em ciências políticas e comunicação na Eastern Connecticut State University, em Connecticut. Formou-se em 2001, e em seguida terminou seu mestrado em redação criativa pela Johns Hopkins University, Baltimore. Autora de livros como Hibisco roxo (2003), Meio sol amarelo (2006) e Americanah (2014). Chimamanda ganhou uma maior visibilidade em 2009, quando realizou TED falando sobre “O perigo de uma história única”, vídeo que se tornou um dos mais acessados da plataforma e posteriormente um livro de mesmo nome.

A obra “Sejamos todos feministas” trata-se de uma adaptação do discurso de Adichie realizado em 2012 no TEDxEuston, uma conferência anual com foco na África. Possui o objetivo de relatar sua experiência com o feminismo, desde a sua infância até os dias atuais. A decisão de abordar esse tema se deu por ser uma questão que a toca de forma especial. Mesmo tendo a certeza que o assunto não teria uma grande popularidade ela via a necessidade de começar um diálogo sobre. O livro está organizado em 64 páginas, dentre elas, 50 são sobre a palestra, 2 dedicadas à sua biografia e 12 de fortuna crítica da obra. Não há divisões em capítulos, entretanto, as linhas de pensamentos estão perfeitamente colocadas, tornando a leitura não exaustiva.

Chimamanda inicia falando sobre Okoloma, um dos seus melhores amigos, que infelizmente veio a falecer em um acidente de avião em 2005. Segundo a autora, ele foi a primeira pessoa a chamá-la de feminista, quando a mesma tinha 14 anos. Durante um pequeno debate Okoloma afirmou “Sabe de uma coisa? Você é feminista”. Pelo tom do amigo ela percebeu que não se tratava de um elogio, mas como não sabia o que significava decidiu continuar a conversa sem se importar muito com o comentário.

Na obra, a autora retrata diversas experiências vividas por ela em que o machismo foi explícito. A primeira delas ocorreu ainda na infância, quando ela estava no primário sua professora disse que o aluno que tirasse a nota mais alta iria ser o monitor da classe, como almejava esse “cargo” Adichie se dedicou e conseguiu a maior pontuação, no entanto, não alcançou seu objetivo, pois a professora decidiu que somente um menino poderia ocupar aquela posição.

Dentre outras situações uma que me chamou a atenção foi quando uma professora universitária abordou Chimamanda e lhe disse que o feminismo era antiafricano e a auto intitulação dela como feminista era consequência de ter sido corrompida por livros ocidentais. Além disso, após o lançamento de Hibisco roxo, um jornalista a “alertou” que o livro estava lhe trazendo a fama de feminista, o que era ruim, pois, somente mulheres infelizes eram feministas.

Fazendo um paralelo com o Brasil nos dias atuais, muitos também pensam assim, que o feminismo é coisa de mulheres “mal-amadas”, defensoras do aborto, esquerdistas e que odeiam homens. Como foi dito no livro, a palavra “feminista” tem um peso negativo. Após a percepção de todos os maus atributos que poderiam lhe conceder, Chimamanda passou a se chamar de “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.

É evidente também, que o machismo é totalmente normalizado na Nigéria. No livro há diversas exemplificações disso, situações cotidianas que demonstram uma realidade bem diferente da brasileira, como quando uma mulher decide ir sozinha a um bar ou restaurante e é repreendida por isso, ou até mesmo impedida. A própria Chimamanda, ao entrar em um luxuoso hotel nigeriano, foi questionada e apontada com prostituta, pois uma mulher desacompanhada não poderia ser hóspede de um estabelecimento daquele porte. Enquanto, um homem desacompanhado pode circular livremente em qualquer ambiente sem ser questionado.

Além disso, ela também relata que quando está em Lagos, uma metrópole nigeriana, gosta de sair à noite com os amigos ou família. Em uma dessas ocasiões decidiu ir a um restaurante com seu amigo Louis e após um rapaz lhes ajudar a estacionar o carro ela o agraciou com uma gorjeta. Após pegar o dinheiro de sua bolsa e dar ao rapaz, o mesmo olhou para Louis e o agradeceu. Nesse momento, até Louis se surpreendeu com a atitude e, finalmente percebeu o que as mulheres passam todos os dias. Nesse contexto, ficou evidente que na mente do jovem o provedor do dinheiro, por mais que este tenha saído das mãos de uma mulher, é sempre o homem.

A escritora prossegue discursando sobre as diferenças biológicas entre homens e mulheres e, aponta que a distinção fisiológica não justifica os fatos de mulheres ainda receberem um salário abaixo ao dos homens, ainda que estejam exercendo o mesmo cargo, e que a presença feminina em cargos de poder e prestígio é praticamente nula. Ela ainda cita a discussão ocorrida nos Estados Unidos sobre a lei Lilly Ledbetter, que defende a equiparação salarial das mulheres. Ainda ressalta que o mundo é governado por homens ainda que a maioria da população seja de mulheres, isso persevera uma vez que no passado a força física era o melhor atributo para a liderança, porém hoje vivemos de maneira completamente diferente, um mundo em que a pessoa líder precisa ser inteligente, criativa e intelectiva, características que independem de gênero.

Ao escrever um artigo sobre como era a vida de uma jovem mulher em Lagos, Chimamanda foi duramente criticada por ter deixado transparecer raiva em seu texto. A própria admite que se expressou de forma raivosa, mas justifica dizendo que a questão de gênero é vista como uma injustiça, entretanto, nada é feito para mudá-la e, acrescenta enunciando que as mudanças positivas só ocorreram por causa da raiva. Esse é um ponto que me chamou muito atenção, uma

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