Resenha da obra Mulheres Plurais
Por: lucasousasoares • 23/1/2017 • Resenha • 1.513 Palavras (7 Páginas) • 1.778 Visualizações
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Mulheres plurais: a condição feminina em Teresina na Primeira República. Teresina: F.C.M.C., 1996.
Lucas de Sousa Soares
Pedro Vilarinho Castelo Branco possui Graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Piauí (1992), Mestrado(1995) e doutorado(2005) em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Piauí, atuando junto ao Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, e ao Departamento de Geografia e História. Integra o grupo de pesquisa História, Cultura e Gênero, cuja Linha de Pesquisa se enquadra em História, Família e Gênero; e História e Catolicismo no século XIX. Além do GT Nacional de História Cultural. Tem dado especial atenção ás pesquisas em História do Brasil Império e República, atuando principalmente nos seguintes temas: identidade, cidade, escrita, literatura, gênero, condição feminina e educação. Entre suas obras se destacam os livros história e masculinidades (2008) e a obra aqui trabalhada, mulheres plurais.
Esta obra surgiu como dissertação de mestrado apresentada em 1995 à universidade de Pernambuco, em sua pesquisa Vilarinho procurava estudar o processo de modernização de Teresina frente às modificações urbanas então em curso no inicio do século XX, e entender seu impacto sobre os comportamentos femininos, mas com os recortes feitos no decorrer de sua pesquisa a situação das mulheres teresinense no período em estudo passa a ser o centro do seu trabalho, dando ênfase a três eixos principais: lazer, educação e trabalho, assim ele vai demonstrando a lenta e incerta conquista do espaço urbano pelas mulheres.
Para desenvolver seu trabalho Vilarinho faz uso de vários tipos de fontes: jornais, livros e revistas que retratavam o cotidiano e os acontecimentos da época, alem de documentos oficiais e entrevista com mulheres que viveram no período em estudo. O livro encontra se dividido em quatro capítulos e mais a introdução, de caráter descritivo se apresenta como um texto de leitura agradável e didática.
No primeiro capitulo “as mulheres e o lazer”, Vilarinho trata das mudanças ocorridas nas formas de lazer urbanas, mostrando as mulheres cada vez mais adentrando as ruas e suas novas formas de atração. Assim como no resto do país, Teresina movida pela onda modernizadora que adentrará o país passa a valorizar mais os espaços públicos e as novas formas de lazer, buscando torna se uma cidade moderna livres dos costumes provincianos agora vistos como testemunha do atraso. Uma das formas de lazer na época eram as festividades religiosas que se estendiam ao longo do ano, e nelas as mulheres desempenhavam papel de destaque ao participar desde a organização ate o desenrola dos eventos onde todas as classes podiam se divertir seguindo os preceitos da igreja católica. O autor destaca também os bailes, festas esplendorosas realizadas em salões particulares onde as classes menos favorecidas não podiam participar; nelas as mulheres deveriam exibir todo seu polimento e demonstrar sensualidade sem jamais ser vulgar, com o tempo esses bailes ganham novas conotações e espaços próprio passando a ser realizado em clubes particulares e aderindo novos ritmos que permitiam uma maior proximidade entre moças. As classes menos favorecidas que não podiam participar destes bailes encontravam suas próprias formas de lazer nos bairros afastados do centro da cidade.
No teatro a participação feminina ocorria geralmente em dois momentos, primeiro na plateia onde chamava atenção por seus trajes e em segundo no palco onde participavam das apresentações, esse ambiente era reservado a elite teresinense devido aos altos preços das entradas e da vestimenta elegante que a etiqueta da época exigia. Outra forma de lazer eram as festividades carnavalescas que aconteciam tanto em espaços privados, mas reservados aos das classes altas, como no espaço publico; a presença feminina era permitida em ambos os espaços, sempre sobre a vigilância dos pais e irmãos e ainda por pessoas da sociedade que se mantinham sempre atentos aos comportamentos femininos. Nos passeios públicos, que só chegaram a Teresina a partir de 1914, as mulheres se tornaram frequentadoras assíduas, mas sempre sobre os olhos vigilantes da sociedade, estes locais se tornaram os principais pontos de convivência da sociedade para todas as idades, gênero e classe. O cinema chega a Teresina por volta de 1901e encanta toda a população, sendo menos exigente em seu publico do que o teatro torna se frequentado ate mesmo pelas classes pobres, no entanto com o passar do tempo passa a receber forte critica principalmente por parte de pensadores católicos que o consideram “uma invenção do diabo”, um lugar inapropriado para os jovens, principalmente para as mulheres de família que, no entanto continuam frequentadoras assíduas. Embora heterogêneo em forma e espaço as formas de diversão de ricos e pobres mantinham mecanismo similares no tratamento às mulheres que poderiam participar dos momentos de lazer e do espaço publico desde que estivessem sempre bem vigiadas. As mulheres de elite pouco a pouco adentravam os espaços públicos, já as mulheres pobres já estavam neste espaço a mais tempo, nem tanto pelo desejo de emancipação ou escolha mas como imposição da condição de vida que levavam tendo que ingressar desde cedo no mundo do trabalho; para elas os momento de lazer eram raros momento de descontração das labutas e dificuldades diárias.
No segundo momento, “a educação feminina no inicio do século XX”, Pedro Vilarinho faz uma retomada da educação desde o século anterior para facilitar a compreensão da educação de então, pois é a partir da segunda metade do sec. XIX que o processo de urbanização e modernização passa a exigir das mulheres um maior polimento com o domínio de outros dotes, assim são acrescentados novos ensinamento a educação feminina além daqueles que as preparavam para exercer o papel de dona de casa, mãe e esposa. As poucas escolas aqui existentes e a precariedade em que se encontravam levavam muitas famílias de elite a enviar suas filhas para o exterior ou optaram por ensinos particulares.
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