Resenha de "As sociedades andinas anteriores a 1532", de John Murra
Por: Filmagens Blume • 5/5/2016 • Resenha • 1.064 Palavras (5 Páginas) • 5.340 Visualizações
MURRA, John. As sociedades andinas anteriores a 1532. In: História da América Latina: América Latina colonial, vol. I .p. 63-99.
Nessa obra de Murra, encontramos as características que predominaram no império Inca, em uma análise feita a partir dos nichos imperiais. Construindo um panorama da agricultura e da produção de artefatos cerâmicos e têxtis, o autor nos mostra algumas peculiaridades que transformaram a região andina em um mundo à parte. Murra traz ao seu trabalho, a cultura dos principais povos que antecederam, ou melhor, que constituíram o império Inca. Entre eles encontramos os Chavín, Tiahuanaco, Huari e os Chimú, cada qual com suas particularidades.
Para que o resumo não fique muito extenso, foquei em dois aspectos: os problemas encontrados pelos pesquisadores e o pilar que tornou a expansão territorial possível – que,ao meu ver, fora o grande desenvolvimento agrícola e suas redes de distribuição.
Em um primeiro momento, o autor traz ao seu trabalho, as maiores dificuldades encontradas entre os pesquisadores para uma maior compreensão da civilização Inca. Além dos problemas por eles encontrados – que eu falarei a seguir - ainda temos uma falta de conversa entre os diferentes campos, ou seja, há uma distância entre os historiadores, antropólogos, geólogos e arqueólogos.
Uma das primeiras dificuldades encontradas pelos pesquisadores é a questão da confiabilidade para com as crônicas. O autor salienta que, “os especialistas costumam queixar-se das falhas desses relatos; todo especialista tem listas de questões importantes que permanecem sem resposta.” Portanto, nem todas as crônicas são bem vistas pelos pesquisadores. Um segundo problema, está voltado à pesquisa arqueológica. Os arqueólogos estariam muito presos aos grandes centros urbanos - onde a monumentalidade surpreende qualquer um que os veja – deixando escapar detalhes cruciais para a composição completa do “enredo”, como por exemplo, uma pesquisa mais dinâmica abordando os centros rurais e as estradas reais – essas, que por sua vez, formavam uma interessante rede cultural que abrangia os povos periféricos e os povos urbanos.
Outro ponto que deixa os pesquisadores de cabelos brancos está no aspecto geográfico. A altitude dos Andes, combinada com a densidade demográfica, não proporcionava um local ideal para a agricultura – que era praticada em curvas de nível -e muito menos para a aglomeração de uma população tão densa. Afinal, supõe-se que quanto maior for a população, maior será a produção agrícola. Dentro desse contexto, o autor, com o intuito de discutir o problema, formula a seguinte pergunta: “por que uma população agrícola tão numerosa insistiria em cultivar num local onde, a qualquer ano, pode-se esperar trezentas geadas, ou mais?”
A partir desse ponto, os pesquisadores começaram a compreender a necessidade de tirar seus olhos da monumentalidade dos centros cerimoniais Incas e voltar-se às pequenas colônias. Dentro delas existiam, em primeiro plano, os assentamentos destinados à produção agrícola e posteriormente, com o incontrolável poder expansionista Inca, serviram como guarnições de fronteira, impedindo futuras invasões. Portanto, as colônias poder ser vistas como peça fundamental para o desenvolvimento, crescimento populacional e cultural da civilização Inca; sem elas, tudo seria mais custoso.
Lembremo-nos de que o povo Inca é a junção de numerosos grupos étnicos subordinados ao chefe de estado, que segundo dizem os relatos, era também o líder espiritual do povo. Tal instituição fora denominada teocracia – transformando a religião em uma das bases do império. Logo, há um centro espiritual onde os grupos dos mais diversos cantos do império se reúnem para celebrar.
Tal domínio submeteu os povos “bárbaros” a aderirem aos costumes religiosos do grupo dominante, e como consequência, os “bárbaros”, agora anexados ao grupo dominante, passaram a ser “civilizados”. Grandes distâncias separavam os grupos e juntamente com a distância, há uma disparidade na produtividade das terras entre os grupos. Portanto, para suprir o problema das distâncias, haverá a criação de inúmeras estradas – ligadas ao centro cerimonial – e a uma grande organização agrícola.
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