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Resenha do documentário brasileiro “Cidadão Boilesen”

Por:   •  12/6/2018  •  Resenha  •  997 Palavras (4 Páginas)  •  692 Visualizações

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Resenha do documentário brasileiro “Cidadão Boilesen”

Cidadão Boilesen, um dos empresários que financiou a tortura no Brasil

        O documentário Cidadão Boilesen, dirigido por Chaim Litewskie montado por Pedro Asbeg é mais um das muitas histórias obscuras que aconteceram durante a ditadura brasileira. Trata de um tema polêmico, que foi o financiamento das atividades ilegais de repressão que ocorreram em São Paulo, Estado onde também ocorriam a maior atividade de resistência por parte dos chamados subversivos. Esse financiamento teria sido feito por grandes empresários que, em pânico com o que poderia acontecer com seus negócios caso a esquerda conseguisse atingir seus objetivos, colaboraram com as forças armadas no poder na criação e aparelhamento de uma divisão de atividades anti-terror, que agia quase que na clandestinidade e tinha o direito de prender, torturar e até matar quem achasse necessário.

O filme foca naquele que foi considerado o mais notório dentre os empresários que apoiavam financeiramente as atividades da OBAN (Operação Bandeirante), Henning Albert Boilesen, empresário dinamarquês que viveu no Brasil e foi presidente da Ultragás.

O documentário mostra um cidadão marcado pelas ambiguidades e paradoxos típicos dos seres humanos. O filme inicia demonstrando o desconhecimento de moradores de uma rua que leva o seu nome em São Paulo, o que nos remete a eficiência das políticas de esquecimento, amplamente adotada nesse caso do empresariado, afinal, Boilesen foi aquele que não teve medo de colocar a face exposta, enquanto que todos os demais empresários, por motivos óbvios, nunca foram mencionados de forma veemente, uma vez que muitas dessas empresas existem hoje no cenário nacional.

O documentário faz uma análise desde sua terra natal, visitando os arquivos de histórico escolar; até entrevistando amigos, colaboradores civis e militares do empresário, o filho mais velho dele, o cônsul americano em São Paulo na época dos acontecimentos e um dos terroristas que participaram da morte deste.

Contém ainda depoimentos de figuras políticas importantes como o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de São Paulo, Paulo Egídio Martins, Erasmo Dias e do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, entre outros personagens importantes da época. O filme debate abertamente o hábito do empresário de assistir as sessões de tortura, apesar da ausência de provas.

Graças a seu hobby de presenciar as torturas, Boilesen acabou sendo identificado pelos militantes de esquerda de ser um dos financiadores da Operação Bandeirante, que foi um centro de informações e investigações montado pelo exército do Brasil em 1969, cuja função era coordenar e organizar documentos que levaram as ações de repressão aos elementos considerados subversivos no Estado de São Paulo durante o regime ditatorial. 

Desde 64 foi se configurando um grupo mais radical com o objetivo de fazer uma operação limpeza, ou seja, eliminar os inimigos comunistas. Em 68 com o AI5, o governo anulou todos os direitos dos cidadãos e colocou o Congresso em recesso. Com isso, a resistência que até então era pacífica, restrita à passeatas e discursos em comícios, foi empurrada para a clandestinidade e iniciou a luta armada.

Assaltos a bancos tornaram-se cada vez mais comuns para financiar a revolução urbana e isso preocupava muita gente, principalmente os empresários. As forças armadas não estavam preparadas para combater esse tipo de inimigo, o “inimigo interno”. O exército, então, resolveu criar uma divisão interna capaz de fazer a luta dentro do meio civil, a chamada OBAN (Operação Bandeirante). Para tanto, identificou dentro das polícias civil, militar e federal, profissionais com capacidade e conhecimento necessários para realizar o papel de se contrapor aos subversivos. Desencadeou-se em São Paulo, a operação mais cruel de repressão da Ditadura.

Havia na polícia civil um grupo liderado pelo delegado Fleury, cuja ideologia era a eliminação sumária de bandidos. Eles foram incorporados nessa iniciativa para atuar na repressão política. E trouxeram junto as técnicas de tortura amplamente já utilizadas pelo grupo.

No documentário há relatos que o empresário também ensinava técnicas de torturas e trazia maquinas de tortura de fora do Brasil. Era um dos tesoureiros responsáveis por recolher o dinheiro com o empresariado, organizando as reuniões, onde as vezes acompanhado pelo então Ministro da Fazenda, Delfim Neto, após palestras passava em recolhimento das doações, muitas vezes pressionando os empresários por fazê-lo.

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