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A Carta ao Professor André

Por:   •  4/11/2021  •  Dissertação  •  3.409 Palavras (14 Páginas)  •  820 Visualizações

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Caro professor André,

Lemos sua história e confessamos que nos assustamos um pouco. Sendo assim, pensamos que esta é a oportunidade ideal para expressarmos nossa preocupação quanto a sua atual situação.

Somos estudantes do curso de Letras Português/inglês e como futuras professoras passamos a nos questionar o que faríamos se estivéssemos em seu lugar. Para isso nos recordamos de nossos estágios em escolas da rede pública e lembramos de vários episódios de indisciplina com algumas caraterísticas em comum com o seu caso.

Em uma das escolas em que estagiamos no ano de 2018 haviam dois alunos bem conhecidos por serem “difíceis”. O primeiro era um menino de mais ou menos treze anos, estudante do sexto ano do ensino fundamental II, que segundo seus professores vinha causando dor de cabeça desde o primário. O pré-adolescente era o palhaço da turma, falante e agitado incomodava os colegas, iniciava discuções com a professora e frequentava a escola de segunda a quinta-feira, pois as sextas ficava o dia inteiro jogando futebol (segundo o irmão e também colega de classe). Eram raras as vezes que trazia o material e fazia a lição. A professora confessou que já havia tentado de tudo para ensiná-lo, mas o menino não queria aprender. Ela também relatou que estava cansada das palhaçadas e dos confrontos em sala, por isso sempre que ele aparecia, ela já esperava algum motivo para expulsá-lo da sala. A única saída, segundo ela, era passa-lo de ano, pois para ela era uma perda de tempo prendê-lo no sexto ano.

Dentre todas as ocorrências de indisciplina desse aluno uma nos chamou a atenção: O estudante chegara atrasado e trazia consigo uma bola e a professora lhe disse para guardá-la, mas contrariando-a continuou a joga-la por toda sala, atrapalhando os colegas que faziam a tarefa. A professora muito irritada tentou lhe tirar a bola, mas ele continuou a ignorá-la e em certo momento jogou a bola contra ela e como de costume foi expulso da sala.

O segundo caso foi de um rapaz de dezesseis anos, matriculado no sétimo ano do ensino fundamental II, que apesar de não fazer muita baderna como o primeiro, não participava da aula, vivia no celular, saia quando queria da aula e estava sempre aos beijos com uma menina dentro da sala. Muitos professores já haviam reclamado desse comportamento até que um dia o balde entornou.

O rapaz havia chegado após o recreio, o que era comum, e depois de se acomodar na cadeira perto da namorada, tirou o celular do bolso. O professor o avisou que se ele não guardasse o celular, iria confiscar o aparelho, mas o rapaz continuou a usá-lo. Em determinado momento o professor se irritou, lhe passou um sermão e foi até onde estava, tentou arrancar o celular de suas mãos fazendo com que o aparelho caísse no chão e trincasse a tela. Muito nervoso o docente pegou o celular do chão e saiu para entregá-lo a diretora, o adolescente o seguiu e quase acertou-lhe um soco.

Horas depois a polícia foi chamada pela diretora, porque esse mesmo garoto estava beijando a namorada na sala enquanto outro professor ministrava sua aula. Um dia depois do ocorrido o professor voltou a encontrá-lo após o recreio, o adolescente ironizou a que havia acontecido, não parecia arrependido ou amedrontado.

Apesar de entendermos a atitude dos dois docentes, opinamos que a professora do primeiro garoto poderia tentar procurar outras formas para discipliná-lo e não apenas passá-lo adiante sem que ele tenha aprendido nada;

E o professor do adolescente do segundo caso poderia ter agido com mais prudência. Em ambos os casos a diretora foi envolvida (e no segundo caso a polícia), mas nada de significativo aconteceu. O estudante do sexto ano não passou de ano e está exatamente como antes, o outro saiu da escola.

Contamos estas duas histórias a você, professor André, porque não queremos que Carlos termine como esses dois garotos.

Pensamos que se a diretora não está conseguindo resolver o problema e a polícia não é uma opção, acreditamos que o melhor seria se você tentasse conversar com Carlos e o avô pessoalmente, sem intermediários para que consiga conhecer a realidade do rapaz.

Se mesmo assim constatar que o adolescente é um risco a sua segurança sugerimos que peça a transferência do mesmo.

P.S. Se nada disso funcionar você pode procurar emprego em outra escola, uma vez que você já terá feito tudo que estava a seu alcance para ajudar Carlos. Não vale a pena viver com medo e estressado. Carpe Diem. Atenciosamente, Simone Santos da Neiva e Mônica Vieira Alves Silv

Marecha l Ca ndi do Ro ndon , 22  de A bril de  2 019  C aro profe ssor A ndré,  Estive  muito  pe nsativa  apó s  ler  sobre  seu  caso   e  resolvi   escrever  esta  car ta  p a ra expressar   minha   op i nião   ao  ocorri d o   e   te n tar  de  a j udar  com   essa  ocorrê nci a .

 A ntes  de  mai s  nada   gostari a   de  sab er se  alguma  medi da  foi   tomada  e  se  o  se nho r  está  bem co m a si tuaçã o,  poi s se i  que   não  é  fácil.   So u  pro fessora  já  fa ze m  três  a nos.   Nesse  p o uco  te mpo  já   ti ve  vá ri as experiênci as,  as  quai s  ap re ndi   muitas  coi sas,  assim  também  com  experi ênci as  de  cole gas,  uma  dela s  é   semelha nte  à  sua.  Em  resumo,  um  al u no  do  8 o  a no  do  ensi no fu ndame ntal  di sc uti a  di a ri amente  com  o  p rofesso r  de   matemá tica,  usa ndo  pala vras  i nadequada s  e  f reque nte me nte  ameaça ndo  ele  e  s ua  fam íli a  de  morte ,  um  di a  o  professo r  sem  pa ci ênci a  e   cansad o  d e  i gnorar  responde u  ao   al uno  o   q ua l  ret ruco u jog ado uma  ca dei ra  neste  professo r , não sa ti sfe i to  ai nda  conti nuo u amea çando .

Si nceramente,  ao  ler  sobre  o  o corri do   com  você,  se nti   m ui ta   t risteza   no vame nte,  como  pode  nos  di as  de   hoje  não   ha ver  medi das  jur íd i cas   cab i ve i s  pa ra  casos  como esse?  Foi   aí  que  f ui  em b usca  desse  co lega  para  sab er como  foi  resol vi do  o   caso  dele .

Aco ntece   q ue  nada  se  foi  resolvid o,  o  ca so  foi   se  enrola ndo  até   q ue ,  i n feli zme nte ,  po r medo  de   a contece r  algo  com  sua  fam íli a,  ele  acabou  pedi ndo   d emissão .  Ao  ouvi r  i sso fi q uei   mai s  de cepci onada   ai nda ,  sei   q ue  to do   nos  p rofesso res  merece mos  s upo rte  nessas  horas .  Ai nda   se  di scute  mui to  a  respei to  dessa s  si tuaçõ es  e m  e scolas  hoje  e m  d i a, ai nda  mai s  em  escolas   co mo  a  q ue  ocor reu  o  se u  caso.  Infe li zmente  nosso   p ai s  nã o  te m  estr uturas  f ísica s,  j ur ídi ca s  e  pedag ógi ca s  para  li dar  com  essas  si tuaçõe s.  D i ante de t udo i sso, p arei pa ra pe nsar.  E u em  situaçã o  como  essa  iria  i g nora r  o a lu no  em sa la,  poi s  o  q ue  ele  q uer,   p ro va velme nte,  é  c hama r  ate nção,  poi s  a   fa m íli a  do  se u  a luno  lame nta vel me nte  não   de ve   se r  estr ut urada,  como  mencio nado   a  fam íli a  dele  nunca  está  presente ,  com  pare nte s  na  cad ei a  e  sua  mãe  co m  problemas  mentai s,   fa zendo  com  que  e le  prati ca mente  se  crie  sozi nho.  Po rem  fo ra  d e  sala   de   aula,  e u  te ntaria conversar  em  pa rti c ular  com  ele  sobre  a  q uestã o  d o  seu  co mportame nto   d entro  e  fo ra de sala de a ula,  essa abordage m  teria q ue ser  fei ta  de  uma  fo r ma m ui to  deli cada  e  com  caute la,  para  ele  não   se   se nti r  ameaçad o  de  alguma  fo rma  e  si m  se  senti r  a col hid o  e de  ter  a  a te nção  de  alg uém  de  uma  forma  posi tiva .  Te ntari a   e nte nder o   q ue  ele  preci sa para  poder  aj udar, most rari a  para  ele  q ue  e u  não  so u  uma   a meaça  e  ne m  alg uém   que  ele   d everi a   ter  medo  o u  eu  medo  dele ,  po i s  a lém  d e  ter  u ma  re laçã o  al uno -pro fessor,  ta mbém  poder íamos  ter  uma  re laçã o  de  amizade.  S e   e le  p reci sa   só  d e  algué m  que  escute   se us  p roblemas  o u  de  um  psi cólogo  i ria  a uxi li a -lo  a   proc urar  um  q ue  atend e ria m de  g ra ça  já   q ue   as  co ndi ções  fi na ncei ras  de le   não  s uporta riam  paga r  um   psi cólogo to da  semana,  caso  não  co nseg ui sse  te ntaria  eu  paga r ,  con ve rsari a  com  ele   se  ele queria  alg uma  a j uda  e m  casa  poi s  e sse  compo rta me nto   é  ref le xo  da   falta   de  ca ri nho  e  atenção  q ue  ve m  de  casa .  Res umi ndo,  d e  primeira  eu  i ria   conversa r  com  e le  e  te nta r  acolhe -lo,   fa zer   co m   que   ele   se  si nta  q uerido  po r   alg uém  pa ra  p oder  a j udar  e le   a   se  to r nar  uma pesso a me l hor.    C aso  i sso  i nfeli zme nte  não  resol va,  você  tem  todo  di reito  d e  chama r  a   p olíci a  e fa ze   u m  B . O.  na  ho ra  q ue  qui ser .  O   me nino ,  ai nda  se ndo  de   meno r,  e le   está  completame nte  ci ente  de   t udo  que  fa z.  E le  sabe  que  os  res ul ta dos  di sso  são  grave s,  que  ele  po de  pe rd er  a   bolsa  fam íli a  e   ai nda  os  responsávei s  perderam  a   sua  t ute la,  mas  e le  também  sabe  q ue  atua lme nte   as  co nseq uê nci as  não   são  di retamente  para  ele ,  i sso  ai nda   se  have r  conseq uê ncia s  já   q ue  nosso  go ver no  não  é  m ui to fa vorá ve l.  Mas  é um  di rei to   se u  de  q uere r  se  p roteger  e m  q ua lq uer  si t uação.  C on ve rse   também  com  a  coordenação  da   s ua  esco la   para   q ue  a   t urma   se ja  mel hor   d i vi d i da  ou  q ue  o  ensala mento   se ja  melhor  d i stri b uído   para  faci litar  as  aulas,  te n ta r  di mi nui r  b agunças  e desordem  durante   as  a ulas ,  faci li ta ndo  os  p rofessores  a  li da rem i g ualme nte  com  todos os  al unos.  A lém  di sso   a i nda  promo ve r  p ales tras  o u  um  trab al ho   sobre  o   respei to   e m  sala   de  a ula  e  a p li car  p uni ções  seve ras  aos  a l u nos  q ue  agredi rem   colegas  o u professo res.  Como  o  senhor  mora  sozi nho,  e u  te  i ndi co  que  se   muda  para  um  aparta me nto  segu ro,  ou  coloq ue  câmera s  e  tra va s  mai s  seg uras  em  casa,  adote  um  cachorro  para  a lém  de  c ui da r  da   ca sa  a i nda  te  fa ze r  compa nhi a,   poi s  i nfe li zme nte  te mos  que  nos  proteger  e m  qua l  que r  si tua ção  mesmo  não  sabendo  se  ele   realme nte  pode   i r  atrás  d e  você.  A c ho  i nteressante  alé m  di sso  você  ter  a compa nhame nto  psi cológico   p ar  li d ar  com  essa   si t uação,  mesmo   se  o  se nhor  não  e ste ja  t rauma ti zado ou se  senti ndo  ameaçado.

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