A Comparação de Contos
Por: thatyysa • 29/4/2019 • Trabalho acadêmico • 788 Palavras (4 Páginas) • 249 Visualizações
Comparação dos contos
Nas águas do tempo e A Terceira margem do rio
“A terceira margem do rio”, do livro Primeiras estórias, publicado em 1962, e “Nas águas do tempo”, narrativa que abre Estórias abensonhadas, publicado em 1994, logo depois do fim da guerra civil em Moçambique, nos mostra que há uma grande afinidade entre os dois contos, ambos narrados em primeira pessoa – por um filho e por um neto .
Apesar dos autores viverem em épocas e países diferentes eles trabalham a linguagem de forma que as camadas populares antes esquecidas, passam a serem ouvidas, numa construção de linguística produzindo uma leitura agradável, além do mais a discussão da Literatura oral (re)significa tal aspecto.
Trecho :
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de novo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho. (ROSA, 2001, p. 80)
Vários símbolos podem ser percebidos neste recorte, como a canoa: objeto que liga vida e morte, sem, no entanto, pertencer a uma ou à outra. O pai não voltou, mas também não tinha ido, passa a habitar na margem, no espaço do indefinível do desconhecido.
Mia couto assemelha-se à Guimarães Rosa nesse aspecto de seu conto, pois também possui um narrador habitante na periferia, em Nas águas do tempo encontramos um menino contando suas memórias, momentos que passava com o avô. Observamos novamente o símbolo da canoa, e o rio como marcas fortes no decorrer da narrativa e situam-se como objetos presentes num momento de transição, sobre o ambiente o narrador nos diz: "Tudo o que ali se exibia, afinal, se inventada de existir. Pois, naquele lugar se perdia a fronteira entre água e terra". (COUTO, 1994, p.14).
Percebemos que ambos os contos possuem características que fazem perceptíveis o fato deles se encontrarem no entre- lugar, o espaço físico não é bem delimitado, suas personagens estão na fronteira de dois mundos, sem que se perceba que elas habitam algum, estão na transição, no território onde nascem os hibridismos, isto é, a mistura. A sabedoria do velho encontra a sabedoria do novo. A crença encontra a não crença. A vida encontra a morte. A sanidade encontra a loucura. Não há conflitos, há contaminações, onde ao encontro de dois origina um terceiro.
Os dois contos a terceira margem do rio de Guimarães rosa, e nas águas do tempo de Mia Couto apresentam um elenco de personagens com uma dualidade temporal entre os personagens masculinos pai e o filho, e o avô e o neto. A história contada por Guimarães Rosa tem como temática a "loucura" que conduz o entendimento ao mundo do inconsciente e ao questionamento sobre a origem de determinadas preferências humanas. O rio nesse conto representa uma ponte que leva ao imaginário, ao desconhecido, provocando uma reflexão sobre os segredos da existência humana, onde a relação com a morte e desejo de imortalidade se faz presente.
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