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Análise do Poema Pensão Familiar de Manuel Bandeira

Por:   •  27/11/2018  •  Resenha  •  1.282 Palavras (6 Páginas)  •  4.509 Visualizações

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O poema pensão familiar de Manuel Bandeira de seu livro Libertinagem, lançado na primeira fase do modernismo, apresenta intensamente características estéticas e ideológicas da época e do próprio momento histórico, como as tensões existentes devido às contradições em diversos setores da sociedade.

O tema é de caráter extremamente modernista uma vez que se trata da urina de um gato, além de por trás disso haver uma intensa crítica a classe burguesa. Esta é feita por meio de oposições de ideias contrárias associadas às personagens implícitas e explícitas do poema.

O título já começa com uma contradição, as pensões, por serem divididas em quartos, às vezes compartilhados e apresentarem áreas de uso comum entre os residentes, trazem consigo a ideia de um lugar hostil, promísculo, sujo, diferente daquilo que se espera de uma casa de família. Pensão Familiar carrega uma tensão de ideias opostas, uma vez que o esperado de um ambiente de pensão tido pelo senso comum difere das expectativas de um espaço familiar.

 Na segunda estrofe do poema vê-se o uso do diminutivo sendo empregado fortemente, este terá o significado de afetividade, proximidade para com o gato e sua “mijadinha” e um sentido depreciativo para a pensão dos burgueses. Há uma crítica sendo feita à classe burguesa, de forma jocosa não só pelo uso do diminutivo dando um tom de ironia, mas também pelas escolhas lexicais do poeta como “pipi” e “mijadinha”. Bandeira coloca o gato em um patamar elevado ao aproximar-se dele, mostrando afeto com as formas diminutivas empregadas referentes ao animal, seu dejeto e sua pata. Graciosidade, elegância e sutileza são associadas à criatura, uma vez que ela age “cuidadosamente”, adjetivo longo que na demora da leitura passa a ideia do tempo dedicado pelo animal para enterrar seu dejeto. Isso tudo feito de forma natural, sem imitar nada nem alguém, uma vez que estes são seres que agem institivamente. Portanto, percebemos que o garçom do restaurante, no verso dez, imita o movimento do animal, dando a entender que não é natural ao ser humano burguês graciosidade, elegância e sutileza ao agir. Aqui já reside mais um par de ideias opostas, o natural e o forçado que nos leva a concluir outro par que refere-se ao animal mais evoluído e o menos evoluído, convindo ao burguês, que no poema é tratado como “criatura”, a segunda posição. Finalmente a crítica à classe burguesa se acentua se pensarmos no gato como a metáfora animal do malandro, um ser socialmente denegrido que ainda assim é fino, elegante e cuidadoso, capacidades totalmente desassociadas com as criaturas burguesas.

Dentro do campo metafórico estão também as flores da primeira estrofe a quem o poeta atribui traços humanos como resistir e ser plebeu, com isso as flores representam a plebe em mais um par de opostos que convivem dentro do poema, o burguês e o plebeu.

A descrição do jardim feita no início da obra nos mostra um local degradado, todavia, há pontos de beleza, pureza e perfeição, visto nos girassóis que resistem e nas dálias. Sobre estas nos é passada uma ideia de resistência também, pois o oitavo verso começa com a conjunção aditiva “e”, logo após os três versos que caracterizam os girassóis. O plebeu sendo as flores nessa metáfota é visto como integrante da natureza, aquele que naturalmente produz beleza para o ambiente, no poema em forma de flor, traduzindo-se para a realidade, pode representar o elemento base para as construções grandiosas e belas onde habitam e/ou trabalham os burgueses ou os produtos que produzem para o consumo e/ou enriquecimento dessa classe.

 Bandeira, sendo um poeta que acreditava no fazer poético dependente de momentos de inspiração ou alumbramento, que viriam de forma natural, compreende que quando se tenta mudar a natureza forçosamente, o resultado não é positivo. Sendo assim a resistência dos girassóis e das dálias à degradação que ocorre no jardim vem de o burguês tê-lo construído ali na pensão para seu desfruto, algo que é feito artificialmente pelo homem e não naturalmente. Essa artificialidade da construção do jardim resulta na deterioração natural desse local. Trazendo isso da metáfora para o estilo de vida plebeu/trabalhador, pode-se dizer que a resistência ocorre quando o último tenta aproveitar minimamente da beleza que produziu para desfruto da classe burguesa, depois de uma longa jornada ou vida de trabalho árduo, com suas forças vitais quase se esvairindo. Todavia essa produção sendo incitada de forma artificial acaba sendo degradada ou desvanecendo-se na renovação da natureza.

O modernismo é um momento em que o artista percebe as modificações ocorridas no mundo, as invenções artificiais do ser humano que o ameaçam e o dominam e a incapacidade humana de aplicar leis ao universo, vendo que passara muito tempo observando-o e tentando descrevê-lo ao invés de ser parte integral dele. O artista tentará aproximar-se do mundo, eliminar essa distância gerada pela falsa noção de compreensão dele, vinda de uma observação longínqua, um dos recursos usados para isso é a perspectíva que sofrerá alterações.

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