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As Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa

Por:   •  23/8/2018  •  Ensaio  •  898 Palavras (4 Páginas)  •  445 Visualizações

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Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa

Prof.ª Dr.ª Marina Silva Ruivo

Elislislaine Aparecida de Oliveira

Thommy Rodrigues de Oliveira Pedro (Noturno)

Assis

2017


O escritor Aires de Almeida Santos (1922 - 1991), nascido no município de Chinguar, província do Bié, Angola, é um grande representante da poesia nacionalista de seu país. Aires de Almeida Santos começou a escrever desde muito novo, por volta de seus 15 anos de idade. Foi preso pela primeira vez em 1941 por suas ideias serem consideradas subversivas pela polícia colonial. Anos mais tarde foi preso novamente, fazendo parte do “Processo dos 50”. Após esse momento, já livre, passou a residir em Luanda com residência fixa, onde trabalhou como jornalista. Entre altos e baixos, o escritor é membro fundador da União dos Escritores Angolanos e também foi Prêmio Nacional de Literatura em 1989.
Sua poesia é de caráter essencialmente nacionalista, os quais denunciam a exploração e repressão do regime colonial, considerado um poeta da “geração da Cultura”.
Segue o poema “A MULEMBA SECOU”, objeto de análise deste trabalho o qual servirá de exemplo para ilustrarmos a riqueza lírica e de denúncia social do autor Aires de Almeida Santos.

A MULEMBA SECOU

A mulemba secou. 
No barro da rua,
Pisadas, por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.

Depois o vento as levou... 
Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro.

De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba.

De noite, 
Faziam roda, sentados,
A ouvir, de olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feitiçeiro Catimba.

Mas a mulemba secou 
E com ela,
Secou tambem a alegria
Da miúdagem do bairro; 
O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.

O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.

E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego.
 
Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou... 
Só o velho Camalundo
Sorri ao passar por lá!...

O elemento que mais nos chama a atenção é a mulemba. A mulemba é uma árvore africana (especificamente da Angola) a qual é facilmente encontrada em terrenos secos e arenosos, podendo alcançar de quinze a vinte metros de altura. Sua copa é muito volumosa e tal árvore é apreciada pela sombra que produz.

A mulemba possui um significado muito interessante, ela é considerada "sagrada”, por possuir ligação com antepassados, os quais foram recebidos por Kalungangombe, o Deus da morte no Candomblé.
No poema, o autor ressalta a importância da árvore para os convívios sociais entre as pessoas do bairro:
“De noite/Faziam roda, sentados/A ouvir, de olhos esbugalhados/ A velha Jaja a contar/ Histórias de arrepiar/Do feitiçeiro Catimba”.
Árvore possui uma simbologia muito rica em diferentes culturas, porém, pelo menos na maioria, a árvore simboliza primordialmente a vida, a vivacidade das pessoas e também representa a perpétua evolução.
O que o poema nos conta é exatamente o rompimento destas qualidades, atribuídas à simbologia da árvore (Mulemba), devido a sua secura, com o bairro. Porque as pessoas costumavam e se encontrar para trocar informações, passar ensinamentos, entre outras coisas.
Segundo a crença africana, a árvore mulemba quando seca/destruída, rompe a ligação entre os dois mundos, o que significa má sorte, mal presságio. Tal crença e/ou fato remete às frustrações das pessoas que moram no bairro, após a mulemba secar, foram-se a vivacidade, a alegria dos miúdos e os sonhos gaiatos.

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