Conto Venha ver o Por do Sol

Professora: Raquel Pacci da Silva

Desfecho do conto  “ Venha ver o pôr do sol  “

Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.

– Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?

Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.

– Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!

– Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.

Ela sacudia a portinhola.

– Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra…

Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.

– Boa noite, Raquel.

Raquel implorava para Ricardo abrir a porta, gritando cada vez mais alto, suplicando a piedade dele para não morrer trancada naquele local

-- Seu louco, não pode me deixar presa aqui. Está ficando tarde e o meu noivo virá atrás de nós. Você é dissimulado, planejou tudo para eu cair na sua armadilha.

Ricardo ficou parado na escada, sem falar nada olhava fixamente para Raquel, com olhos furiosos temendo que seu plano fosse descoberto pelo noivo dela. Resolveu então sair da capela, foi em direção ao portão do cemitério, deixou Raquel sozinha e trancada, ela já não gritava mais, estava sem forças e exausta, suas suplicas foram em vão... ele caminhou apressado até o portão, as crianças ainda brincavam na rua em frente ao cemitério correndo sem medo, ele parou em frente a um dos meninos e disse:

-- Garoto! Faça um favor a um homem arrependido.

O menino achou estranho e respondeu:

-- O que você quer que eu faça ?

-- Entre no cemitério e salve a moça trancada na ultima capela. Vou lhe dar a chave. – disse Ricardo

O menino aceitou o pedido de Ricardo, pegou a chave e junto com os colegas foi até a capela, já estava escurecendo, ele abriu a porta conforme Ricardo orientou e viu Raquel sentada no chão iluminando o local apenas com a chama do seu isqueiro. Dois meninos entraram na capela

-- Quem são vocês ? – perguntou Raquel assustada

-- Meu nome é Gabriel, esse é meu amigo Pedro, viemos te tirar daqui – respondeu ele

-- Como conseguiram a chave ? -  indagou Raquel

-- Com o moço de blusão azul. Ele disse que estava arrependido ...

Agora Raquel entendia tudo, Ricardo desistiu do seu plano macabro de vingança e usou os meninos para resgatá-la do cemitério, então mais que depressa abriram a portinhola saíram de lá, ela agradeceu os meninos que foram embora para suas casas. Já estava tarde e Ricardo havia sumido em direção ao centro da cidade. Raquel ainda estava furiosa com ele, porém, aliviada por estar livre, então desceu a ladeira, caminhou ate a praça central e tomou um taxi para sua casa. Logo estaria o mais longe possível daquele pesadelo e poderia encontrar o seu noivo.

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