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Contos Novos e Libertinagem

Por:   •  10/5/2016  •  Trabalho acadêmico  •  832 Palavras (4 Páginas)  •  363 Visualizações

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Contos Novos e Libertinagem

            Contos Novos e Libertinagem são duas coletâneas extremamente importantes para o modernismo. A primeira, de contos de Mário de Andrade e a segunda, de poesias de Manuel Bandeira. Ambas representam uma maturidade da obra de ambos os autores, com ampla liberdade de expressão para sua arte.
       As duas obras tratam de assuntos parecidos, mas o aspecto principal que as une é que se tratam de expressões literárias com base na experiência pessoal de Mário e Bandeira, como uma espécie de desabafo dos autores de maneira trabalhosamente cuidadosa.
         
Tempo da Camisolinha e Porquinho da Índia, respectivamente conto e poema contidos em Contos Novos e Libertinagem, podem ser analisado de pontos de vistas interessantes, como as memórias de infância, a presença do narrador-personagem protagonista que mescla a visão do adulto-escritor com a da criança-narradora, e também de elementos que colocam esses dois textos como grandes exemplos do movimento modernista em sua primeira fase. Além desses motivos, são dois textos que se interligam diretamente a outros textos da coletânea ao qual estão inseridas, ao terem algumas de suas partes citadas em outros contos ou poemas.

          MEMÓRIAS DA INFÂNCIA E O NARRADOR DE EXPERIÊNCIA

         Mário de Andrade revisita sua primeira infância em
Tempos da Camisolinha, descrevendo duas situações paralelas: a do traumatizante corte de cabelo, e quando o garoto ganha de presente as três estrelas do mar para lhe dar sorte. Ambos os relatos são unidos por uma visão do adulto com as memórias de infância, trazendo uma interpretação para tais acontecimentos agora com uma experiência maior, porém sem deixar de lado uma linguagem que passa uma certa inocência da criança narradora da história do conto. O mesmo acontece no poema Porquinho da Índia de Manuel Bandeira, já que depois de descrever suas experiências com um animal de estimação, que não lhe dava a mínima atenção, o poeta conclui que o porquinho da índia foi “sua primeira namorada”.  A mescla da oposição entre o adulto x criança para dar duas visões do eu lírico aparece em Porquinho da Índia como uma mútua implicação do presente e passado. Manuel Bandeira usa dos diminutivos para dar voz a criança de seis anos, conectando-se ao seu eu do passado.
        Bandeira constrói o humor da poesia dando a expectativa de uma memória infantil de alguém que ganha um animalzinho de estimação, e na teoria, deverá protegê-lo. Mas as boas intenções do eu-lírico são frustradas pelas atitudes do animal que “só queria estar debaixo do fogão!”. Nesse poema, ao contar um fato de quando tinha seis anos, Manuel Bandeira deixa explícito que tal situação de rejeição seria bastante frequente em sua vida, mas posteriormente com mulheres.
       A sua maneira,
Tempos da Camisolinha também lida com situações que marcam fatos que poderão ser frequentes no futuro e também com as primeiras experiências do narrador-personagem.
       A primeira situação relatada no conto é a do corte de cabelo, onde o narrador-personagem se aproxima e se distancia do fato para dar respectivamente uma visão de criança e para analisar como um adulto, adicionando ao seu relato experiências vividas já em seu “presente”. É a primeira perda do garoto e consequentemente um medo do futuro, já que ele ouve uma “voz masculina falando “Você ficou um homem, assim!” ” e portanto, provoca no narrador um medo de não ser mais criança, de já ter que enfrentar os dilemas de uma vida adulta, que parecia antes tão distantes e com isso uma outra perda mais significativa: a da inocência.
       Essas primeiras cenas são mostradas como uma espécie de flashback do narrador, que, observando fotografias, que mostram os primeiros sinais de uma perda da inocência e os primeiros vestígios da realidade.
       No final do conto, o narrador sente o “gosto maltratado” ao se sentir desiludido e ver que o mundo não era tão mágico como imaginava. O conto apresenta as estrelas do mar como uma doação especial e inocente ao menino, que lhe traria sorte e como o garoto cuidava delas, para depois uma quebra de expectativa ao mostrar o garoto descobrindo uma outra realidade diferente daquela que ele estava habituado.
       O fato de mostrar esses pequenos vestígios pode ser explicado através da psicanálise como recordações descontínuas, fragmentos que surgem na memória como enigmas e que não tem ligação com outros fatos da mesma época, como descreve Freud em sua obra “
Lembranças Encobridoras”. Esses elementos são importantes por se tratarem de ligações diretas com outras situações semelhantes ou que tem com ela um elo simbólico.

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