DISCURSO CITADO E A CONSTRUÇÃO DA AUTORIA EM ARTIGOS DE OPINIÃO DAS OLIMPÍADAS DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
Por: Jrdacosta • 15/5/2018 • Dissertação • 25.620 Palavras (103 Páginas) • 239 Visualizações
1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro capítulo, contextualizamos o nosso objeto de pesquisa, apresentamos as questões e objetivos que norteiam o estudo, a justificativa, a abordagem e a metodologia de pesquisa. Também expomos algumas pesquisas que de algum modo se relacionam ao objeto estudado e, por fim, descrevemos como a dissertação encontra-se estruturalmente organizada.
- CONTEXTUALIZANDO O OBJETO DE PESQUISA
Para iniciar esta contextualização, consideramos importante destacar a filiação institucional deste trabalho acadêmico, o qual está vinculado ao programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PPGL/UERN), pela linha de pesquisa “Texto e Construção de Sentidos” e inserido no grupo de pesquisa Grupo de Estudos do Discurso (GRED/UERN).
Estando nossas atividades profissionais situadas em uma determinada esfera da atividade humana, no nosso caso, a esfera educacional, inevitavelmente, nos tornamos sabedores de alguns fatos ocorridos em seu percurso histórico. Desse modo, como professora de língua portuguesa, conhecemos algumas das mudanças e dificuldades enfrentadas pelo sistema educacional brasileiro, especialmente na educação básica, no que se refere aos eixos de leitura e escrita.
Conforme Piunti e Oliveira (2012), somente a partir da criação da nova Lei de Diretrizes de Bases da Educação (LDB/1996) o ensino de 2º grau passou a ser denominado de ensino médio, tonando-se a última fase da educação básica brasileira. E até a última década do século passado esse nível de ensino era tido como o mais esquecido pelas políticas públicas, sendo que pouco mais da metade dos alunos de nosso país concluía apenas o ensino fundamental, pois diante de condições sociais precárias e de uma oferta restrita de vagas para o ensino médio, tornava-se impossível para mais da metade do alunado brasileiro concluir o ensino básico.
Nesse contexto de mudanças, visando à democratização e melhoria do ensino, surgiram também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1997), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) implantadas no ano de (1998) e, mais recentemente, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) publicados no ano (2000).
Com isso, torna-se perceptível que somente no final do século passado, a partir das alterações na Lei de Diretrizes de Bases da Educação (LDB), as mudanças no ensino básico começaram a surgir, embora, ainda de forma muito lenta. Foram criados também mecanismos de avaliação em larga escala, como o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), instituído em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) e realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), considerado o principal indicador da qualidade da educação básica do Brasil, criado pelo INEP no ano de 2007.
Este indicador, o IDEB, sintetiza dois conceitos básicos importantes para aferir a qualidade do ensino brasileiro. São eles: o fluxo, que representa a taxa de aprovação dos alunos, e o aprendizado, que corresponde ao resultado dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), inferidos pela Prova Brasil, avaliação censitária do ensino público, e pela avaliação amostral do SAEB, a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), que inclui também os resultados da rede privada.
Desse modo, o IDEB é o condutor da política pública em prol da qualidade da educação e a ferramenta para o acompanhamento das metas de qualidade do Plano de Desenvolvimento da Educação Básica (PDE), o qual estabelece que em 2022 o IDEB do Brasil deverá atingir a média 6,0, correspondente a um sistema educacional de qualidade.
Os resultados do IDEB são revelados em anos ímpares, portanto, o último disponível no site do INEP é o resultado do ano de 2015. Em consulta a esse site, constatamos, a partir dos resultados revelados pelo IDEB referentes aos anos de 2013 e 2015, que os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio não alcançaram a meta nacional. Esses dados revelam que apesar das alterações nos documentos oficiais, que propuseram mudanças significativas para o ensino, ainda há muitas deficiências que precisam ser superadas, principalmente, na leitura e na escrita de alunos da rede básica de ensino.
Portanto, é nesse cenário de busca contínua da expansão e melhoria da educação básica que surge a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (OLPEF), uma iniciativa do MEC e da Fundação Itaú Social (FIS), com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC). Trata-se de uma política pública promovida pelo poder público e pela iniciativa privada e sociedade civil, em prol de um bem comum: proporcionar um ensino de qualidade para todos.
A OLPEF oferece formação aos educadores por meio de materiais orientadores e de cursos presenciais e a distância, além de recursos didáticos para o desenvolvimento do trabalho em sala de aula. Através dessa iniciativa, em anos ímpares o Governo Federal oferece cursos de formação de professores, e em anos pares, promove o concurso de textos premiando as melhores produções de alunos do 5° ano do ensino fundamental a alunos do 3° ano do ensino médio das escolas públicas de todo o Brasil.
Atualmente, a Olimpíada é organizada em quatro categorias, sendo que cada uma delas envolve dois anos escolares, a saber: os alunos de 5° e 6° anos do ensino fundamental dedicam-se à produção do gênero poema; os alunos de 7° e 8° anos do ensino fundamental produzem o gênero memórias literárias; os alunos do 9° ano do ensino fundamental e do 1° ano do ensino médio dedicam-se a produção do gênero crônica; já os alunos do 2° e 3° anos do ensino médio produzem o gênero artigo de opinião, o qual constitui o corpus desta pesquisa.
O tema proposto para a produção dos gêneros trabalhados em todas as edições já realizadas do concurso foi “O lugar onde vivo”. Para tanto, os alunos deveriam realizar entrevistas, conversar com pessoas da comunidade, vivenciar experiências que os ajudassem a desenvolver o sentimento de pertença e favorecesse o reconhecimento dos saberes e problemas locais. Nos anos em que ocorre a Olimpíada, são enviados para as escolas e para os professores inscritos cadernos que orientam o trabalho com cada gênero por meio de uma sequência didática, a qual é definida como “um conjunto de atividades escolares
organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ; SCHNNEUWLY, NOVARRAZ, 2004, p. 97)[1]. Essa sequência encontra-se organizada em forma de oficinas e aborda conteúdos presentes nos currículos escolares, os quais possibilitam o desenvolvimento das competências de leitura e escrita.
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