Fichamento Literatura Comparada

O termo literatura comparada designa uma forma de investigação literária que confronta duas ou mais literaturas, mas não deve ser entendida como sinônimo de comparação (apesar de ser utilizada para exploração de seus campos de trabalho, a comparação é um ato do saber humano, ou seja, não é um método específico e sim um procedimento mental que faz parte da estrutura de pensamento e que favorece a generalização ou a diferenciação). O termo se expandiu por vários lugares, porém não mudou a denominação utilizada pelos franceses – em que o termo literatura designava um conjunto de obras. Foi reconhecida como disciplina apenas no começo do século XX e passou a seguir duas orientações básicas. A primeira era de que a validade de uma comparação literária depende da existência de um contato comprovado entre autor-obra e/ou autor-país. A segunda determinava o vínculo definitivo entre os estudos literários e a perspectiva histórica.

Devido a sua definição imprecisa e ambígua, a literatura comparada frequentemente compete com a literatura geral. Ambas são usualmente associadas e alguns consideram a geral como um campo amplo e que abarca os estudos comparados. Outros a associam com a literatura mundial, termo que Goethe cunhou para a sua concepção de uma literatura de fundo comum, e pode ser vista como uma possibilidade de interação entre literaturas que corrigem-se umas às outras. Essas e outras orientações são base para doutrinas das grandes escolas – sendo que escola seria um grupo de estudos em que predominam relações entre obras/autores. Essa denominação começou com René Wellek, que sugeriu uma separação formal entre a escola francesa e a escola norte-americana. Porém, ao lado dessas orientações, também podemos designar como escola a soviética.

Os comparativistas norte-americanos privilegiam a análise do texto literário em oposição ao interesse das relações entre autores/obras e aceitam os estudos comparados dentro das fronteiras de uma única literatura (o que não é aceito pela doutrina francesa). Já os soviéticos compreendem a literatura como produto da sociedade e têm a preocupação em distinguir analogias e influências.

Tratando dos manuais franceses, é interessante sintetizar algumas orientações, começando por Paul Van Tieghem. O autor considera a literatura comparada mais analítica e confere à ela um caráter complementar e restringindo seu objeto de estudo às relações e fatos comuns a duas literaturas, além de excluir os contos populares e lendas do âmbito da literatura comparada devido ao anonimato de seus produtos. Já Jean-Marie Carré vê a literatura comparada como um ramo da história literária e sem considerar as obras no seu valor original, mas sim as transformações que cada nação e cada autor impõe. Ainda tratando dos franceses, Marius-François Guyard também merece destaque. Ao seu ver, a literatura comparada é a história das relações literárias internacionais e cabe ao comparativista “fiscalizar” esse intercâmbio intelectual, sendo que à crítica destina-se o paralelismo e ao comparativismo cabe apenas o levantamento de dados sobre o que um autor leu do outro. Claude Pichois e André-Michel Rosseau viam a literatura geral como parte da literatura comparada, delegando à primeira o estudo das coincidências e à segunda, das influências. Porém tal definição privilegia apenas o estudo das semelhanças, sem ocupar-se com as diferenças. Seguindo a orientação francesa há ainda Etiemble, que deixava para o comparativista a tarefa de reconhecer que a civilização dos homens não pode ser compreendida sem referência às trocas de valores e que propõe o estudo de obras parecidas sem ter em conta seus possíveis contatos ou derivações.

Quanto aos comparativistas