Gêneros literários. In: SILVA, Vitor Manuel de Aguiar e. Teoria da literatura. 6 ed. Coimbra: Almedina, 2006
Por: bjose • 16/9/2017 • Resenha • 1.301 Palavras (6 Páginas) • 2.823 Visualizações
Gêneros literários. In: SILVA, Vitor Manuel de Aguiar e. Teoria da literatura. 6 ed. Coimbra: Almedina, 2006.
Resenhado por: Bruno José Ferreira Freitas
Para obtenção de notas na disciplina de Teoria Literária I
Professora: Maria Eugênia Curado
Letras – 1° período / Universidade Estadual de Goiás
Professor universitário, escritor e investigador português. Vítor Manuel de Aguiar e Silva licenciou-se na Universidade de Coimbra, onde também obteve o seu doutoramento. Foi professor catedrático nessa mesma Universidade.
Neste tópico do livro é ressaltado e discutido os gêneros literários. O teórico diz que o problema dos gêneros literários tem formado, desde Platão até a atualidade, uma das demandas mais controversas da teoria e das práxis da literatura. Fundamenta que o problema se conexiona com os problemas ontológicos e epistemológicos, a existência de universais e a sua natureza; a distinção e a relação categoriais entre o geral e o particular. Diz que num plano semiótico, o assunto dos gêneros é indissociável da conexão entre sistema e estrutura, entre código e texto, e do papel dos esquemas categoriais na percepção e na representação artística do real. E num plano mais especificamente literário, os gêneros encontram-se ligado a conceitos como os de tradição e mudança literárias; imitação e originalidade; regras e liberdade criadora.
Exemplifica que segundo Platão, todos os textos literários são “[...] uma narrativa de acontecimentos passados, presentes ou futuros. [...]” (p.340). Assim distingue Platão três modalidades: a simples narrativa, a imitação ou mimese, e uma modalidade mista (associação da narrativa e imitação). Fundamenta uma divisão tripartida dos gêneros literários, o gênero imitativo ou mimético, que se incluem a tragédia e a comédia; o gênero narrativo puro, representado pelo ditirambo; e o gênero misto, no qual encorpa a epopeia. Compara a estética platônica, que por sua lógica profunda, tende não dar relevância à arte, como diversidade e multiplicidade, com a estética aristotélica, que pelo contrário, em virtudes e fundamentos empírico-racionalista, confere uma cuidadosa atenção as distinções no domínio da arte. Aborda que, segundo Aristóteles a matriz e o fundamento da poesia consistem na imitação, que por sua vez, constitui o princípio unificador subjacente a todos os textos poéticos, mas também o princípio diferenciador destes mesmos. Afirma que segundo Aristóteles, a tragédia tende a imitar os homens melhores que nós e a comédia tende a imitar homens piores que nós. Diferencia as diversidades dos modos em que a imitação procede, já que o poeta pode imitar os mesmos objetos e utilizar idênticos meios, adotando modos distintos de mimese. Exemplifica a doutrina horaciana sobre os gêneros literários que concebe o gênero literário por uma determinada tradição formal, na qual sobressai o metro, por uma determinada temática e por uma determinada relação que, em função dos fatores formais e temáticos, se estabelece com os receptores. Fundamenta que não deve expor um tema cômico em versos da tragédia, e nem se deve exprimir um tema trágico em versos da comédia, isto é “[...] que cada gênero, bem distribuído ocupe o lugar que lhe compete. [...]” (p. 347), eliminando assim a possibilidade de hibridismo. Silva ressalta a divisão tripartida dos gêneros literários, que elaborada por Diomedes disfrutou de vasta difusão na Idade Média e que, salvo alguns aspectos terminológicos, constitui uma cópia da classificação platônica. Distinguindo assim o estilo elevado ou sublime, o estilo médio ou temperado e o estilo humilde ou baixo.
O estudioso aborda que no classicismo renascentista, o gênero literário passou a ser concebido como uma entidade substantiva, autônoma e normativa. Destacando três gêneros fundamentais: o épico, o dramático e o lírico, que subdividia em outros gêneros menores. Explica que o gênero foi concebido como uma essência inalterável ou, como uma entidade invariante, governada por regras bem definidas, vigorosamente articuladas entre si e imutáveis. Afirma que dentre essas regras sobressaía a de “unidade de tom”, que cada gênero possuía temas próprios, o seu estilo, e a sua forma e objetivos, devendo o escritor respeitar estes elementos configuradores de cada gênero. Destaca o movimento pré-romântico no século XVIII, conhecido pelo o nome “Sturn und Drang”, que anunciou uma rebelião contra a teoria clássica dos gêneros e das regras, pondo em prova a individualidade absoluta e a autonomia de cada obra literária e ressaltando o absurdo de estabelecer partições no seio de uma atividade criadora única. Fundamenta que a teoria romântica é multiforme e se revela por tensões e contradições que fluem das antinomias profundas da filosofia idealista. O teórico exemplifica Friedrich Schlegel, pela a distribuição taxinômica dos gêneros que se dá por uma ordenação diacrônica e lógica. O autor destaca também que, outro aspecto importante da teoria romântica dos gêneros literários diz respeito à apologia da sua miscigenação. Ressalta a visão substancialista de Brunetière, que apresentou o gênero literário como um organismo que completa o ciclo vital: nasce, desenvolve-se, envelhece e morre. Evidencia que segundo Croce, a poesia como toda a arte, revela-se como intuição-expressão: conhecimento e representação do individual. “[...] intuir é exprimir. [...]” (p.367). Destaca que a estética de Croce rejeita a substancialidade dos gêneros, mas aceita sua instrumentalidade para a construção da história literária, cultural e social, e fundamenta que o conceito de gênero pode construir um elemento extrínseco à essência da poesia e à problemática do juízo estético. Aborda a concepção de Tomasevskij definindo o gênero como um conjunto sistémico de processos construtivos, manifestando-se como processos dominantes na criação da obra literária. Juntamente com a de Bacthin, no qual o gênero representa o princípio de determinação efetiva, uma obra existe na realidade só na forma de um gênero particular. Exemplifica a caracterização dos gêneros por Jakobson, baseada na função da linguagem que exerce o papel de subdominante em cada gênero. O autor destaca também Northrop Frye, que estabelece uma teoria dos modos ficcionais, que é idealizada em função da capacidade de ação do herói, que também estabelece a existência de categorias narrativas, estas fundam-se na oposição e na interação do ideal com o atual, do mundo da incoerência com o mundo da experiência: o romance, a ironia ou a sátira. Traz os conceitos fundamentais da poética de Staiger, caracterizando o lírico como recordação, o épico como observação e o dramático como expectativa.
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