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Por:   •  10/11/2014  •  3.626 Palavras (15 Páginas)  •  350 Visualizações

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Ca d er n os d o CN L F , V ol . X I I I, N º 0 4

AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

COMO GÊNERO TEXTUAL:

CARACTERÍSTICAS DE UM GÊNERO HÍBRIDO

Kátia Regina Franco (UFES)

kathiag@positivo.com.br

Mônica Lopes Smiderle de Oliveira (UFES)

monicasmiderle@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Diante da multiplicidade de estudos sobre gêneros textualdiscursivos, muitos autores desenvolveram trabalhos voltados para

discussões conceituais em torno dessa questão. A importância de

uma reflexão sobre tais conceitos não é de caráter puramente terminológico; antes, seu caráter evidencia o aspecto teórico-metodológico adotado para atender o intento desta pesquisa.

Este trabalho tem como função esclarecer alguns pontos sobre

as histórias em quadrinhos (HQs), como se constituem para serem

consideradas um gênero especifico, com características próprias, que

lhes permitem estabelecer-se como gênero textual.

A POLÊMICA EM TORNO DOS CONCEITOS DE GÊNERO

DISCURSIVO, GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL

Uma autora que se ocupou em analisar a evolução dos estudos

envolvendo a questão de gênero, Roxane Rojo (2005), destaca que a

mais importante constatação foi a de que esses trabalhos poderiam

ser divididos em duas vertentes metateoricamente diferentes: teoria

de gêneros do discurso ou discursivos e teoria de gêneros de texto ou

textuais. Ambas as vertentes encontravam-se enraizadas em diferentes releituras da herança bakhtiniana.

Em

sua pesquisa, Rojo pôde perceber que, embora os trabalhos adotassem vias metodológicas diversas para o tratamento do gênero, todos acabavam por fazer descrições de “gêneros”, de enunciados ou de textos pertencentes a algum gênero. Os dados levantados

levaram-na a questionar se as designações gêneros do discurso (ou

Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009,

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discursivos) ou gêneros textuais (ou de texto) significam o mesmo

objeto teórico, ou não. A pertinência da questão tornou necessário

um olhar sobre a teoria de alguns autores que se ocuparam em conceituar os termos supracitados.

Bakhtin (2000) afirma que a língua, ao ser utilizada nas diversas esferas da atividade humana, elabora seus “tipos relativamente

estáveis” de enunciados (orais ou escritos): os “gêneros discursivos”.

Assim como as atividades humanas são inumeráveis, o é a diversidade dos gêneros. Estes incluem desde a curta réplica do diálogo cotidiano, a carta e os documentos oficiais até as várias formas de produção científica e as formas literárias.

Para o autor, em cada esfera da atividade há um repertório de

gêneros do discurso, transformando-se e ampliando-se na medida em

que a própria esfera se desenvolve. A noção de gêneros do discurso

difere da noção de tipologias de gêneros, no sentido de Bakhtin, por

não enfatizar as classificações, mas a função de cada

gênero, o fato

de que se modificam e se expandem. Embora os gêneros mais estabilizados possam ser reconhecidos pela sua dimensão lingüísticotextual, Bakhtin atribui aos gêneros uma natureza social, discursiva e

dialógica, e enxerga-os a partir de sua historicidade. Desse modo,

pode-se afirmar que Bakhtin e o Círculo correlacionam os gêneros às

esferas da atividade humana, às situações de interação dentro de determinada esfera social. Um gênero se constitui em uma dada situação social de interação; tem sua finalidade discursiva, sua própria

concepção de autor e destinatário.

Segundo Rodrigues (2005), diante desses elementos que constituem um gênero, a situação social de interação dos gêneros pode

ser articulada à noção de cronotopos. Cada gênero tem seu campo

predominante de existência (seu cronotopos), onde é insubstituível,

não suprimindo aqueles que já existem.

Para essa autora, a forma dialética da constituição dos gêneros

pode explicar a concepção de gênero como um “tipo relativamente

estável de enunciado”. Historicamente constituídos, os gêneros adquirem um efeito “normativo” sobre as interações verbais, “englobam forma histórica, são produtos culturais, modos sociais de dizer,

mas são antes uma atividade social da linguagem, modos de significar o mundo”. (Rodrigues, 2005, p. 166).

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Bakhtin (2000) apresenta ainda outros três componentes indissociáveis dos gêneros: o conteúdo temático determinado; a composição, heterogênea devido à grande diversidade da atividade humana; e o estilo, que diz respeito ao uso típico dos recursos lexicais,

fraseológicos e gramaticais da língua.

Rojo (2005, p. 197) lembra que esses elementos essenciais

são, muitas vezes, determinados “pelas relações sociais, institucionais e interpessoais”

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