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Por:   •  24/11/2021  •  Ensaio  •  2.454 Palavras (10 Páginas)  •  121 Visualizações

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Literatura Brasileira II

Professor: Daniel Reizinger Bonono

Aluna: Milvana Miguel Martisn

RAMOS, Graciliano, S. Bernardo. 102ª ed., Editora Record: Rio de Janeiro/RJ, 2019.

“S. Bernardo” consiste em um romance dividido em trinta e seis capítulos, apresentado como protagonista da estória Paulo Honório, descrevendo no contexto da obra a dura vida no interior do nordeste brasileiro. O romance narra a ascensão e a queda das memórias de sua vida, seu talento aguçado para os negócios, o modo em que consegue se defender, se abstendo das mazelas da região com uma ética própria de trabalho.

Paulo Honório, um menino órfão, revela que foi criado por uma preta velha chamada Margarida, guiava um cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Posteriormente, passou a trabalhar na roça até aos 18 anos. Encantou-se por Germana “cabritinha sarará danadamente assanhada”, moça com quem namorava e que o traiu com João Fagundes. Ao descobrir o ocorrido, Paulo Honório, dá uns “cocorotes” na Germana e esfaqueia João Fagundes, cometendo, portanto, seu primeiro homicídio. Detido e preso, conhece o sapateiro Joaquim, com quem aprende a ler e escrever.

Até os dezoito anos gastei muita enxada ganhando cinco tostões por doze horas de serviço. Aí pratiquei o meu primeiro ato digno de referência. Numa sentinela, que acabou em furdunço, abrequei a Germana, cabritinha sarará danadamente assanhada, e arrochei-lhe um beliscão retorcido na popa da bunda. Ela ficou-se mijando de gosto. Depois botou os quartos de banda e enxeriu-se com o João Fagundes, um que mudou o nome para furtar cavalos. O resultado foi eu arrumar uns cocorotes na Germana e esfaquear João Fagundes. Então o delegado de polícia me prendeu, levei uma surra de cipó de boi, tomei cabacinho e estive de molho, pubo, três anos, nove meses e quinze dias na cadeia, onde aprendi leitura com o Joaquim sapateiro, que tinha uma bíblia miúda, dos protestantes.

Saindo da prisão, Paulo Honório começa sua trajetória capitalista a partir do momento que toma emprestado cinquenta mil-réis, a juros com o agiota Pereira.                   Submeteu-se a todo tipo de trabalho e remuneração, se arrastando pelo sertão a fora negociando gado e qualquer tipo de negociata, enfrentando injustiças, fome, sede..., apresentava frieza no trato utilizando-se de ameaças de morte e roubo nas negociações. Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua ascensão social, utilizando-se muitas vezes de métodos nada convencionais como ameaças, assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para Paulo Honório, o que se torna importante é “ter”. Após muito trabalhar conseguiu pagar o empréstimo e após economizar um montante satisfatório, retorna a sua cidade natal, Viçosa, com a vontade de ter para si a fazenda São Bernardo onde havia trabalhado em uma determinada época de sua vida.

No romance, Paulo Honório representa o capitalista insensível, cujas ações são guiadas por valores materialistas que visam alcançar seus objetivos, sendo o maior deles a posse e a manutenção da Fazenda São Bernardo. Ao longo de toda narrativa, o protagonista se apresenta com a mesma personalidade, um homem brutalizado, desprovido de grandes emoções, desumanizado.

A negociação e compra da fazenda São Bernardo, frente as dívidas de Padilha, proprietário da fazenda, que contrai dívidas com Paulo Honório (o protagonista):

[...] Cheguei a ameaçá-lo com as mãos [ao Padilha, cobrando-o e negociando o pagamento com a fazenda S. Bernardo]. Recuou para cinquenta. Avancei a quarenta e afirmei que estava roubando a mim mesmo. Nesse ponto cada um puxou para o seu lado. Finca-pé. Chamei em meu auxílio o Mendonça, que engolia a terra, o oficial de justiça, a avaliação e as custas. O infeliz, apavorado, desceu a quarenta e oito. Arrependi-me de haver arriscado quarenta: não valia, era um roubo. Padilha escorregou a quarenta e cinco. Firmei-me nos quarenta.

Para a aquisição do bem almejado, o narrador aproxima-se de Luís Padilha, herdeiro da propriedade São Bernardo, um homem fraco, inclinado à vida de jogos, mulheres e bebidas. O narrador incentiva Padilha a cultivar as terras de São Bernardo, emprestando-lhe dinheiro. Por consequência, o jovem herdeiro não consegue pôr em prática a vontade de reerguer a fazenda e acaba fracassando. A intensão de Paulo Honório é levar Padilha à falência financeira e desta forma, conseguir comprar o bem almejado por um preço irrisório. Padilha, nas palavras do narrador, revelava “ignorância lastimável num proprietário” e, embora apresentando certo apego às terras herdadas, acabou se tornando uma presa fácil para Honório. Para o protagonista, ver aquelas terras de qualidade improdutivas nas mãos de um desinteressado como Padilha, era um despropósito. Vencidas as dívidas (letras promissórias), Honório vai exigir a venda da fazenda ao preço que lhe convier, conquistando então o que tanto almejara, a posse da fazenda S. Bernardo.

O recém-proprietário da fazenda, observa que Mendonça, vizinho de divisa com suas terras, havia aumentado o tamanho de sua fazenda roubando terras das propriedades vizinhas, inclusive com uma cerca invadindo também as terras do narrador. A figura de Mendonça, se impõe como um obstáculo e Paulo Honório começa a ter problemas com o dono da fazenda Bom-Sucesso, dessa forma, o narrador planeja seu projeto de assassinato. Para resolver o impasse ele conta com a ajuda de seu capanga e amigo fiel Cassimiro Lopes, que a seu mando assassina Mendonça. No domingo à tarde de volta das eleições, Mendonça recebe um tiro e bate as botas. É dessa forma, que o narrador toma posse das terras do vizinho, aumenta as áreas de sua fazenda.

[...] Mais tiros na pedreira, os últimos. Pensei no Mendonça. Canalha. [...] Quantas braças de terra aquele malandro tinha furtado! Felizmente estávamos em paz. Aparentemente. De qualquer forma era-me necessário caminhar depressa.

Desci a ladeira e fui jantar. Enquanto jantava, falei em voz baixa a Casimiro Lopes, a princípio com panos mornos, depois delineando um projeto. Casimiro Lopes desviou-se dos panos mornos e colaborou no projeto.

[...] No outro dia, sábado, matei o carneiro para os eleitores. Domingo à tarde, de volta da eleição, Mendonça recebeu um tiro na costela mindinha e bateu as botas ali mesmo na estrada, perto de Bom-Sucesso. [...] Na hora do crime eu estava na cidade, conversando com o vigário a respeito da igreja que pretendia levantar em S. Bernardo. [...]

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