LEROY, Maurice. As grandes correntes da linguística moderna. São Paulo: Cultrix, 1974.
Por: Caetano Maquiny • 8/9/2017 • Resenha • 1.459 Palavras (6 Páginas) • 1.567 Visualizações
LEROY, Maurice. As grandes correntes da linguística moderna. São Paulo: Cultrix, 1974.
Ana Carolina Martins Varela[1]
A unidade 3 da obra As grandes correntes da linguística moderna, de Maurice Leroy (Professor da Universidade Livre de Bruxelas e membro da Academia Real da Bélgica) tem como objetivo mostrar como a linguística desenvolveu-se ao longo do século XX e como Ferdinand Saussure transformou o estudo da linguística moderna.
O curso de linguística geral, de Ferdinand Saussure, organizados por seus alunos Charles Bally e Albert Sechehaye foi um marco para o inicio dos estudos da linguística como ciência. Saussure esforçou-se para descobrir as leis gerais da linguagem utilizando um método filosófico. Algumas opiniões com relação ao Cours tornaram- se motivo de grandes discussões que geraram uma série de desenvolvimentos e também levou aos discípulos de Saussure a percorrer caminhos diferentes. Desde o inicio do século surgiram pensamentos e doutrinas que continuaram a se desenrolar mesmo depois de exposto o pensamento saussuriano.
No primeiro capítulo o autor fala sobre a Escola de Genebra, que tem como defensores Bally e Sechehaye que permaneceram fiéis aos ensinamentos de seu mestre. Bally, estudando a relação entre o pensamento e a sua expressão linguística renovou a estilística “definindo-a como o estudo dos elementos afetivos da linguagem e dedicando sua atenção aos desvios que o uso individual (a fala) é levado a impor ao sistema (a língua)”. Já Sechehaye dedicou-se a estudar as teorias saussurianas e propôs um método gramatical, que talvez tenha sido uma das fontes de reflexão de Saussure. Uma das características desses estudiosos é a sua preocupação em explicar os princípios do Cours, sempre o considerando como “dogmas admitidos sem discussão”.
No segundo capitulo, o autor objetiva mostrar como se deu o surgimento de uma nova disciplina: a fonologia, que se trata das “diferenças significativas” que caracterizam os elementos de qualquer sistema fonológico. Enquanto a fonética é o estudo dos sons da fala, a fonologia é o estudo dos sons da língua, principalmente da relação entre o som e sua significação. Com a ajuda da teoria saussuriana língua/fala foi possível que Trubetzkoy encontrasse em germe a fonologia inteira, para ele a fonética é a ciência da face material dos sons da linguagem humana, enquanto a fonologia só considera, em matéria de som, aquilo que preenche uma determinada função na língua. A fonologia foi um enriquecimento do pensamento saussuriano e teve o mérito se suscitar uma renovação da reflexão linguística.
No terceiro capitulo Leroy discorre sobre o estruturalismo, que foi uma nova etapa nos estudos dos princípios saussurianos. Os estruturalistas esforçaram-se para explicar a língua por ela própria e dedicaram-se a um exame atento das relações que unem os elementos do discurso, suas pesquisas se encaminharam no sentido de determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. Leroy cita a comparação que Saussure fez da língua ao jogo de xadrez para explicar como a língua é um sistema articulado, onde tudo está ligado. Ele também apresenta diversas teorias que foram elaboradas nessa corrente de pensamento e destaca as que tiveram maior repercussão.
O próximo capitulo trata de uma ciência que foi proposta por Saussure: a semiologia, que ensina em que consistem os signos e quais as leis que o regem. Para Saussure a linguística é apenas uma parte da semiologia. Leroy também aborda a questão da “linguagem” dos animais, cita como exemplo o caso das abelhas que são capazes de simbolizar por meio de gestos os elementos de uma realidade e se as outras abelhas fizerem parte da mesma comunidade elas são capazes de interpretar a mensagem, e com esse exemplo pode-se perceber como há também na linguagem humana codificação e descodificação. Podemos então perceber que para os animais “o signo não se distingue da coisa significada; a expressão é global, não analisada: a distinção no que toca à linguagem humana continua fundamental”. Assim pode-se manter a distinção entre a linguagem humana e comunicação animal, pois a capacidade para dizer tudo é específica do ser humano.
Essas observações nos permite definir melhor outro caráter especifico da linguagem humana observada por Saussure, mas esclarecido por Martinet: a dupla articulação linguística. Onde um enunciado pode recortar-se por um lado em unidades significantes chamadas monemas, que são o menor segmento do discurso ao qual se pode atribuir um sentido e por outro lado, em unidades menores e não significantes que são os fonemas. E ressalta que somente a linguagem humana se utiliza dessa articulação linguística.
Leroy cita a posição-chave de Saussure: “o signo linguístico é arbitrário” e ressalta que essa afirmação foi sem dúvida a que gerou maiores controvérsias. “A palavra arbitrário significa imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum vínculo natural na realidade”. O autor cita diversas teorias que eram contrárias a essa afirmação e procura desfazer e explicar algumas delas.
Ele também destaca outra teoria estabelecida por Saussure que se tornou clássica: língua e fala. Essa dicotomia encontrou adversários que se incomodaram com a separação que Saussure fez ao estabelecer esses dois aspectos da linguagem. De diferentes lados propôs-se fazer intervir um terceiro elemento, que seria o uso ou a norma. É ressaltado na obra que Coseriu fala da norma como que desempenhando um papel intermediário entre a língua e a fala. Mas Leroy explicita que “a língua não é um dado ao qual possamos aceder de maneira sensível; somente considerando fatos de fala como atualizações da língua é que chegamos a representar-nos essa abstração; por outro lado, a fala só é compreensível na medida em que possamos referir-nos à língua, fato que Saussure punha bem evidência ao dizer que a língua é, a uma só vez, o instrumento e o produto da fala”. Além da língua/fala, a sincronia e a diacronia também desempenharam papéis importantes na doutrina do Cours.
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