O CRIME DO PADRE AMARO

O homem é, em sua diretriz básica, um ser sociável e, consequentemente, solidário. Nossa tendência natural é torcer sempre pelo lado mais fraco. E quando acontece de alguém surgir como um paladino lutando contra injustiças, ele torna-se um herói. “O Crime do Padre Amaro” é uma obra heróica e corajosa, porque desnuda toda a hipocrisia clerical do século XIX (se é que houve dignidade em alguma época naqueles porões) e expressa o desabafo do povo em relação à Igreja Católica no que tange à suas entranhas, demonstrando que todos têm demônios internos. É fácil perceber que Eça de Queiroz quer denunciar como a fé das pessoas é manobrada de forma cínica e vil, onde o pecado é facilmente “cancelado” em um confessionário. O filme, por ser um clássico da literatura portuguesa (e por que não mundial?), foi muito bem adaptado ao nosso atual contexto temporal, algo que, convenhamos, não é tarefa das mais fáceis. Espertamente, minimizou o vácuo temporal existente entre o século XIX e os dias de hoje, haja vista que nos prendemos à brilhante interpretação daquele grande elenco. Mas não podemos deixar de ressaltar outro ponto crucial da obra, que é o tórrido e emblemático relacionamento de Amaro com Amélia. Ele, um homem extremamente suscetível aos desejos carnais, vivendo um dilema: seguir sua carreira eclesiástica ou ceder às luxúrias de Baco; Ela, uma mulher exuberante, transbordando sensualidade, mas embora religiosa, com uma lascívia inexorável; Ambos apaixonados. Ambos vivendo um amor proibido, gravemente feridos pela adaga da culpa, fincada diretamente na dolorosa consciência. O único alento é a volúpia, que serve como cataplasma para anestesiar a culpa. E assim, poderem saborear o néctar doce do pecado, sentindo um prazer inenarrável, só entendido por àqueles que já o degustaram. Contudo, o preço por tanta ousadia é alto. E o desfecho foi trágico. Amélia, tomba sem vida, assim como o fruto desse romance. E jovem Amaro, mesmo corroído pelo remorso, retorna à seu caminho tortuoso. E continuará a “catequizar” outras Amélias.

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