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O DESLOCAMENTO IDENTITÁRIO DE INDÍGENAS SUL-MATO-GROSSENSES

Por:   •  27/9/2022  •  Artigo  •  7.039 Palavras (29 Páginas)  •  118 Visualizações

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 O DESLOCAMENTO IDENTITÁRIO DE INDÍGENAS SUL-MATO-GROSSENSES[pic 1]

             

The identity displacement of south-mato grossens indigenous

Alessandra Dias Carvalho (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil/CAPES)      

                                                     

RESUMO: O objetivo principal desse artigo é refletir sobre o processo de constituição identitária de indígenas sul-mato-grossenses da contemporaneidade a partir de discursos veiculados na rede social denominada Facebook. Com um olhar crítico problematizamos as relações históricas, sociais e culturais desses povos e investigamos as marcas de exclusão deixadas pelo período colonial e que influenciam no deslocamento identitário desse grupo social. Este estudo foi desenvolvido a partir da proposta teórica da Análise do discurso de perspectiva francesa e nos estudos foucaltianos. Postulamos que na época da colonização os povos indígenas eram excluídos por possuírem costumes culturais diferentes do branco, no entanto esses hábitos indígenas sofreram uma metamorfose e as práticas culturais do branco foram incorporadas a seus costumes e mesmo assim a exclusão permanece, agora, pelo fato de terem seus hábitos culturais e econômicos afetados pelos modos de vida do branco.

PALAVRAS-CHAVE: Indígenas; Facebook; Identidade

ABSTRACT: The main objective of this article is to reflect on the process of identity formation of indigenous South-Mato Grosso of contemporaneity from discourses conveyed in the social network called Facebook. With a critical eye we problematize the historical, social and cultural relations of these peoples and we investigate the marks of exclusion left by the colonial period and that influence in the identity displacement of this social group. This study was developed from the theoretical proposal of Analysis of French perspective discourse and Foucaltian studies. We postulate that at the time of colonization indigenous peoples were excluded because they had cultural customs different from white, but these indigenous habits have undergone a metamorphosis and the cultural practices of white have been incorporated into their customs and yet the exclusion remains, now, because have their cultural and economic habits affected by the whites' way of life.

KEYWORDS: Indigenous; Facebook; Identity

Introdução

        Os estudos realizados na constituição desse artigo ancoram-se em princípios teóricos da Análise do Discurso (AD), de prespectiva francesa, e em conceitos e métodos utilizados pelo filósofo Michel Foucault ao longo de seus estudos. E, tem por objetivo principal problematizar a constituição identitária de indígenas sul-mato-grossenses a partir da interpretação da escrita em postagens realizadas na rede social Facebook, verificando como esse sujeito indígena do contemporâneo se representa e é representado nesse espaço discursivo oriundo das novas tecnologias que é o Facebook.

Por questão de espaço e organização, neste artigo, nos centramos em problematizar as relações históricas, sociais e culturais de indígenas sul-mato-grossenses da contemporaneidade, sofridas a partir da colonização, investigando as marcas de exclusão deixadas pelo período colonial e que influenciam no deslocamento identitário desse grupo social.

Ao propormos o estudo dessa identidade social, concebemos o discurso e o sujeito como são postulados pela perspectiva da Análise do Discurso (AD) de perspectiva francesa, a qual não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, considerando a produção de sentidos, o homem na sua história, os processos e as condições de produção da linguagem, ou seja, com a relação estabelecida pela língua e os sujeitos que a falam, nas situações em que o dizer é produzido, uma vez que consideramos que todo discurso é heterogêneo permeado de outros discursos, manifestação da memória discursiva e de dizeres outros que nos constituem como sujeitos. (GUERRA, 2012).

Para atingirmos nosso objetivo apresentamos uma breve reflexão sobre os conceitos de Discurso e Sujeito a partir de entendimentos de autores como Orlandi (2007), Foucault (1988, 2012), Pêcheux (2009), Hall (2005) e Guerra (2008). Num segundo momento desarquivamos alguns traços históricos dos sujeitos pesquisados. E, no terceiro e último tópico, analisamos duas postagens retiradas de páginas[1] criadas no Facebook e que se apresentam como propagadoras das causas indígenas, sendo intituladas Apoiamos os povos indígenas de Todas as Etnias e a outra; Solidariedade ao Povo Guarani Kaiowa.

1. Entre o discurso e a linguagem: o sujeito

        Como este trabalho é norteado pela visada discursiva, vimos a necessidade de trazermos a compreensão de alguns estudiosos da área, para articularmos os conceitos de Discurso e Sujeito, na concepção deste campo teórico. Nesse âmbito, entendemos que o discurso é visto como um efeito de sentidos, entre interlocutores, não se trata, pois, meramente da transmissão de informação, porque ele realiza, ao mesmo tempo, o processo de significação. Essa noção de discurso se distancia da dicotomia de língua/ fala proposta por Saussure, pois, em conformidade com Orlandi (2007, p. 22), “O discurso tem sua regularidade, tem seu funcionamento que é possível apreender se não opomos o social e o histórico, o sistema e a realização, o subjetivo ao objetivo, o processo ao produto”.

        O processo de significação, mencionado pode ser entendido como as relações de sentidos, em que não há um discurso que não se relaciona com outros discursos, ou seja, um discurso sempre aponta para outros discursos. Ele não surge de uma fonte una, fundadora, mas, sim, das relações com vários outros dizeres, do já dito, do anteriormente mencionado. A partir desta visão entendemos que os discursos, assim como os sujeitos, (re)significam-se, em meio às relações sócio-históricas.

        Segundo, Michel Foucault (2012), o discurso não é retrato das lutas ou sistemas de dominação. Ele separa os procedimentos externos e internos de controle do discurso e considerando como um terceiro grupo de procedimentos de controladores deste discurso, trata da rarefação dos sujeitos que falam. Para enunciar, o sujeito deve estar qualificado para tal, uma vez que nem todos os domínios constituem regiões abertas a qualquer dizer. Sobre os dispositivos de controle do discurso, observa-se que Foucault (2012) prioriza tecer sobre a vontade de verdade. Segundo o filósofo, os discursos são controlados, em nome de uma vontade de verdade, tornando-se o lugar onde o saber e o poder se articulam, uma vez que todo discurso manifesta e produz poder. Ainda segundo Foucault (2012, p.10), “[...] o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo porque, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar”.

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