O Letramento Digital
Por: Letícia Rodrigues • 10/5/2017 • Artigo • 5.221 Palavras (21 Páginas) • 357 Visualizações
E AGORA, JOSÉ? É MUITA TEORIA E INFORMAÇÃO NO ENSINO DE PORTUGUÊS: UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS E DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA ALINHADO AOS TEMAS TRANSVERSAIS.
Letícia Rodrigues Silva[1]
I - INTRODUÇÃO
Via de regra, o ensino de Língua Portuguesa pauta-se na apresentação de conteúdo gramatical desconexo da realidade, obrigando jovens alunos dos ensinos fundamental e médio a decorarem um contingente imensurável de regras e nomes que em nada corroboram para a ampliação da competência linguística do sujeito e a construção de agentes sociais ativos.
Sob o advento dos PCNs (1996), ancorado com as novas discussões na área de linguística aplicada, percebe-se que um novo enfoque é dado ao ensino de língua materna. Entretanto, há ainda um grande desencontro entre teoria e prática, seja pela falta de formação continuada por parte de muitos professores ou pela resistência e apego de muitos aos métodos tradicionais de ensino.
Embora já encontremos muitos docentes alinhando-se a essas novas metodologias de ensino, que têm no gênero do discurso o seu foco, parece-nos relevante questionar a pouca importância dada aos temas transversais, apontada nos PCNs como componente intrínseco as discussões de todas as áreas. Ademais, com o advento das novas tecnologias e acesso à informação (nem sempre de qualidade) através da internet, uma grande gama de novas possibilidades de textos e possibilidades de aprendizagem surgem na esfera social (uma pequena busca no youtube por “aula de português” mostrar-nos-á a imensidade de maneiras de aprender o mesmo conteúdo). Além disso, a “era digital” faz com que professores percebam a importância de usar as novas tecnologias como ferramenta de aprendizagem.
Portanto, diante do exposto, essa sequência didática objetiva apresentar não só uma proposta de ensino de Português com base nos gêneros textuais, mas também que alinhe o uso de textos reais, recursos web como ferramenta de aprendizado da língua e tema que ajude na construção de agentes sociais ativos e críticos. Nesta sequência, escolheu-se a resenha como gênero a ser trabalhado e o blog como suporte comunicativo web em torno do qual será trabalhado o letramento digital.
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A revolução que transformou a Educação brasileira tornou necessária a reformulação dos currículos e a criação de aportes teóricos norteadores desta nova realidade. Com a instituição da Constituição de 1988, iniciou-se a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, concluída e publicada em 1996) a qual, por sua vez, deu início aos trabalhos que culminaram na publicação daquele que se tornaria um dos mais – se não o mais – importantes documentos norteadores do ensino público brasileiro: os Parâmetros Curriculares Nacionais (doravante PCNs, publicado em 1998).
Em carta apresentada ao início do documento e direcionada ao professor, percebe-se uma perspectiva democrática que contempla uma função social ao ensino e que pode ser constatada em:
O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. (...) pretende-se criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania. (PCN’s, 1998, p.5).
Os PCNs de Língua Portuguesa instituem diretrizes inovadoras que atendem o conceito moderno de educação e seu respectivo objetivo. Uma nova concepção de língua passa a ser considerada e, assim, o conteúdo e a abordagem do ensino são reformulados. Visando a uma plena participação social, o foco é centralizado no domínio da linguagem (enquanto atividade discursiva e cognitiva) e da língua, os quais possibilitam acesso à informação, expressão e defesa de pontos de vista, produção cultural, etc.
Dessa forma, a escola assume a responsabilidade de assegurar aos alunos o acesso aos conhecimentos linguísticos inerentes ao exercício da cidadania, buscando uma democratização cultural e social, uma vez que, de acordo com as orientações fornecidas no Conteúdo Básico Comum do Estado de Minas Gerais (2005, p. 12), “a linguagem nos constitui como sujeitos de discurso e nos posiciona do ponto de vista político, social, cultural, ético e estético, frente aos discursos que circulam na sociedade”.
Contrário à crença popular no que diz respeito ao ensino democrático, este não pode – ou deve – ser uniforme. A educação democrática é caracterizada pela igualdade na formação intelectual e social de todos os alunos. No entanto, a realidade destes alunos deve ser levada em consideração, uma vez que há necessidades particulares a cada contexto, seja regional, social, etc. O docente, representante maior da escola perante o aluno, é responsável por nivelar e avaliar a pertinência de determinados conteúdos e opções metodológicas a fim de favorecer a aprendizagem de seus alunos. No decorrer do ensino fundamental, a escola, através do docente, deve conduzir um letramento contínuo transformando os alunos em cidadãos capazes de interpretar e produzir eficientemente diferentes textos nas mais diversas circunstâncias.
Segundo os PCNs de Língua Portuguesa (1998, p. 20), no ensino fundamental entende-se linguagem como “ação interindividual orientada por uma finalidade específica, um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos de sua história”. Assim, considerando que as práticas sociais que transportam a linguagem não constituem modelos estanques ou estruturas rígidas, pode-se perceber que a interação ocorrerá através da linguagem por meio de diversos gêneros textuais, os quais são “formas culturais e cognitivas de ação social (MILLER, 1984) corporificadas na linguagem, (...) entidades dinâmicas, cujos limites e demarcação se tornam fluidos” (MARCUSCHI, 2008, p. 151). Todo texto, seja oral ou escrito, é organizado dentro de determinado gênero de acordo com suas intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura.
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