O Problema de se usar livro didático
Por: Vivian Chiamulera • 7/5/2018 • Trabalho acadêmico • 1.765 Palavras (8 Páginas) • 329 Visualizações
O que percebemos na sala de aula observada e acredito que isso ocorra em várias escolas é que o ensino de Língua Portuguesa, infelizmente, está condicionado, ou seja, depende do uso do livro didático para ditar os conteúdos e as metodologias de ensino, não permitindo nem ao professor nem ao aluno, conhecimentos diferentes através de leituras e recursos diferentes.
Infelizmente encontramos vários problemas em relação a isso e o uso ilimitado do livro didático parece ser o maior deles: conteúdos fora de contexto, leituras sem prazer, gramática normativa, não uso de outras linguagens e pouco, ou nenhum espaço, para a realidade desses alunos. O efeito causado pelo livro didático não está relacionado apenas ao seu conteúdo descontextualizado, mas também e principalmente, no modo de utilizá-lo.
Em primeiro lugar, o livro didático é imposto pelo governo. O professor recebe uma lista e tem que escolher qual o melhor livro para se trabalhar. Eles não são livres para trabalharem o que quiserem. Devem escolher um livro que o governo acha que é bom para o aluno e que foi aprovado pelo MEC. Seria muito bom se o professor junto com a equipe de sua escola, pudesse escolher o livro que deseja trabalhar. E esse livro, uma vez escolhido, fosse apenas mais um recurso e não o único. O professor não pode ficar agarrado ao livro. Deve segui-lo como um roteiro, um apoio, mas não como a única fonte de trabalho, pois o mesmo serve de modelo para o professor, um ponto de referência, mas o professor estará errado se ficar agarrado a ele efetivamente. A criatividade de um professor deve ir muito além dos livros didáticos.
Desses livros devem ser retirados somente conteúdos relacionados à realidade dos alunos. Não devem ser seguidos como uma regra, trabalhando página por página, porque muitos dos assuntos neles abordado simplesmente não condizem com a realidade dos alunos.
É muito triste percebermos como alguns conteúdos não fazem sentido algum para os alunos e ainda assim, são trabalhados em sala de aula, por professores afirmando não possuírem nenhum outro material disponível.
Parece-me que o mais caótico da atual situação do ensino de Língua Portuguesa em escolas de 1° grau consiste precisamente no ensino, para alunos que nem sequer dominam a variedade culta, de uma metalinguagem de análise dessa variedade - com exercícios contínuos de descrição gramatical, estudo de regras e hipóteses de análise de problemas que mesmo especialistas não estão seguros de como resolver.
Apenas para exemplificar, Geraldi diz que:
...já tive a oportunidade de folhear cadernos de anotações de alunos de 5° série. “O pobre menino” anotara que, para Saussure, a língua é um conjunto estruturado de signos lingüísticos, arbitrários por natureza, mas que para Chomsky grafado Jonsqui, estudar uma língua era estabelecer “regras profundas” da competência dos falantes.
João Wanderley Geraldi p-45
O problema então, não se encontra apenas no livro didático, mas também no professor que utiliza-o como único recurso, como única fonte de pesquisa, excluindo outras fontes riquíssimas de conhecimento.
O professor deve tomar o livro didático como uma das ferramentas de seu trabalho. Ele dever ser um apoio para o seu trabalho e deve tambem ser trabalhado de forma dinâmica e criativa.
É preciso deixar clara, no entanto, que não queremos ou pretendemos expulsar os livros didáticos do contexto escolar já que o problema não está no livro em si, mas na forma como ele é utilizado, impiedosamente, pelos professores. É necessário rever os livros didáticos bem como repensar a forma como são utilizados em sala de aula.
Os professores não devem se deixar escravizar. O professor qualificado tem o entendimento de que nenhum livro é merecedor de ser seguido totalmente e por isso, sabe trabalhar com diversos materiais.
Não adianta somente criticar os livros didáticos, é preciso que sejam propostas alternativas de como conciliá-lo às mais diversas realidades escolares. Talvez, uma das saídas seria repensar a própria estruturação desses materiais, revendo-se a escolha dos conteúdos e dos temas a serem trabalhados. É necessário tambem que os materiais didáticos postos à disposição dos professores sejam mais flexíveis para que ele se sinta encorajado e motivado a buscar, a inovar, a pesquisar. Assim, quem sabe, não se recuperará o prazer em ensinar e aprender a matéria?
Há muito para ser trabalhado e para ser mudado pelo próprio educador. Percebe-se a necessidade de desviar um pouco o olhar do conteúdo propriamente dito e focá-lo um pouco mais, na sua significância e relevância social.
É preciso que o livro seja utilizado não apenas como fonte de informações, mas como um instrumento educacional, que promova o desenvolvimento de habilidades necessárias para a vida, tais como a observação, a crítica, a análise, a reflexão e principalmente, a capacidade de estabelecer relações entre os conteúdos estudados e aqueles vivenciados no dia- a -dia.
Os livros devem buscar uma maior valorização da construção crítica do aluno, desenvolvendo textos que propiciem ao aluno tirar suas próprias conclusões, formando cidadãos- políticos. Cabe a nós, educadores, fazer com que cada vez mais seja estimulada essa capacidade crítica do aluno, através de uma atividade pedagógica mais elaborada, utilizando o livro didático como auxiliar desse processo, e não como elemento definidor.
Devemos ressaltar que os livros devem priorizar as atividades com gêneros textuais. O aluno precisa conhecer e aprender a utilizar os diferentes tipos de textos que encontramos por aí, no nosso dia-a-dia.
Infelizmente notamos que há uma não- preocupação nos didáticos com a questão dos gêneros de texto. Existe entre os professores, uma mania de trabalhar quase exclusivamente com as narrativas- escrever histórias, ler histórias. Isso é artificial, porque não corresponde ao tipo de textos que circulam na sociedade.
Esses livros deveriam trazer todos os tipos de textos, se possível. É importante que o aluno se familiarize com diferentes gêneros de texto, como o literário, a correspondência carta, bilhete etc, o texto jornalístico, a história em quadrinhos, a publicidade, regulamentos, instruções, textos teatrais, contas de serviços públicos água, luz, telefone e muitos outros, e tenha a oportunidade de conhecer textos escritos em linguagem formal e também na coloquial. A leitura e a escrita que se fazem fora da escola, na sociedade, como dissemos, são de diferentes gêneros e o problema é exatamente esse: o que se faz na escola geralmente não se usa fora dela mas, na vida comum, o aluno convive com esses vários gêneros. Por isso o livro didático e a escola devem abordá-los.
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