O Quarto de Despejo
Por: Maria Leyma • 6/10/2020 • Resenha • 1.133 Palavras (5 Páginas) • 373 Visualizações
“A vida é igual a um livro. Só depois de ter lido é que sabemos como encerra. É nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro”[pg.147]. A desigualdade social, racial, de gênero e econômica sempre existiu. Nós, como parte da sociedade privilegiada, não temos consciência disso. Por meio do livro o Quarto de Despejo, escrito por Carolina Maria de Jesus, conseguimos, através dos olhos da própria autora, vivenciar um pouco do que é ser uma mulher negra na favela.
O “Quarto de Despejo”, se encontra no norte de São Paulo, chamado favela do Canindé. O livro recebe esse nome, pois Carolina considerava a favela o lugar onde as coisas sem utilidade se localizavam, eles eram despejados pelas pessoas com melhores posições sociais, que não tinham que enfrentar a fome e as injustiças. Os diários escritos por ela são relatados em primeira pessoa, divididos em dia, mês e ano levando o leitor a sentir os acontecimentos e experiências únicas entendendo mais a vida do favelado.
Um dos problemas mais importantes abordados pelo livro é o escasso acesso à educação, que foi especialmente retratado no diário através dos erros gramaticais, deixados propositalmente pelos editores do livro, como menciona Carlos Bom Meihy, professor de letras na universidade de São Paulo: “Seus erros gramaticais, em contraste com a difícil explicação de seu vocabulário, representam facetas que fundem na necessidade expressiva a afetação de quem vê a literatura como poder.” Estes mostram ao leitor as dificuldades e a falta de recursos enfrentados pela autora, que cursou apenas até o segundo ano do primário, e adoraria ter sido professora, mas devido a urgência de ajudar em casa teve que começar a trabalhar desde cedo, como conta o livro.
Os dias de Carolina se baseiam em acordar cedo, pensando em “o que comeremos hoje?”, catar papel e latas para conseguir alguns cruzeiros, passar pela feira para juntar tomates é ir no frigorífico para conseguir alguns ossos. Desde fome, gritos, violência, poucas horas de sono, e longas horas de caminhadas, conseguimos ver como Carolina, sendo mãe solteira das três crianças, Vera Eunice, José Carlos é João Carlos, só se preocupa na alimentação e na sobrevivência dos filhos. Conforme os dias vão passando, conseguimos ir coletando pedaços de como Carolina pensa e entendemos o mundo pelo seus olhos. Ela explica que a fome é uma escravatura com o poder de influenciar qualquer indivíduo, e levá-lo ao desespero da morte, como está representado no trecho seguir, “É assim no dia 13 de 1958, eu lutava contra a escravatura atual - a fome!.” Também entendemos as consequências de o que não ter acesso a comida. Ela explica que a fome deixa todos amarelos é que por meio de esse sentimento não consegue viver a vida, só sobreviver-la. Nós percebemos também um forte questionamento do destino estabelecido por Deus. Ela reflete sobre a infelicidade e o suicídio que bate várias vezes na porta, “Parece que vim ao o mundo predestinada a catar. Só não cato felicidade”. Inclusive se faz presente na política. Ela entende a farsa dos políticos que aparecem nas favelas só para ganhar apoio é não tem dúvida de escrever é incriminá-los nos diários.
“As aves devem ser mais felizes que nós. Talvez entre elas reina a amizade e igualdade”. A frase acima demonstra o forte racismo e falta de igualdade presente no Brasil desde antes da década de 60 até os dias de hoje. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumem como pretos, enquanto 89,7 milhões se declaram pardos. Apesar disso, o racismo se faz presente na atualidade como também a desigualdade de gênero. Ser mulher por muitos anos significou priorizar o estabelecimento de uma família acima da educação e do trabalho e saber limpar, passar e cozinhar dentro de casa. Maria Carolina de Jesus foi contra ambos estereótipos. Ela nunca se casou, sendo responsável por sustentar a ela mesma e aos três
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