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O Safári Definitivo

Por:   •  30/3/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.859 Palavras (8 Páginas)  •  445 Visualizações

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TRABALHO EM GRUPO – TG

Alunos:

Cesar Augusto Carpinelli          RA 1232657

Maya de Liz Branco            RA 1219233

Polo Shopping Butantã

2014    

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO                                                                        2

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA                                                2

3. ANÁLISE DO CONTO                                                                3

CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                        5

REFERÊNCIAS                                                                        5

1. INTRODUÇÃO

Ao analisar o conto O Safári Definitivo de Nadine Gordimer, é preciso antes entender o contexto histórico em que vivia a autora na África do Sul. Nadine Gordimer foi a mais feroz escritora ativista sul-africana contra o Apartheid - leis segregacionistas separando brancos e negros,que  vigoraram entre 1918 até 1994 em seu país. Suas escritas versam sobre os temas da injustiça e opressão do Apartheid, exílio e alienação (MORRE, 2014). Por conta disso ela teve vários de seus livros censurados, como World of Strangers (1958), Burger´s Daughter (1979) e Occasion for Loving (1963), e apesar das ameaças sofridas, se recusou a deixar o país. Por causa dessa censura, muitas vezes seus livros eram primeiramente publicados na Europa e nos EUA, o que ajudou a alertar a opinião pública internacional para exercer pressão via ONU e embargos econômicos que contribuíram para dar fim ao Apartheid em 1994.

O conto O safári definitivo retrata algumas atrocidades, fruto das colonizações na África, pelas quais passam as personagens (os negros nativos) que têm suas vidas e seu mundo fragmentados e têm de buscar refúgio para sobreviverem.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Nadine Gordimer publicou seu primeiro livro em 1949, um ano depois do Partido Nacional formado pela coalizão dos bôeres, os descendentes de holandeses brancos que se auto intitulavam donos das terras por vontade divina chegar ao poder e oficializar a segregação na África do sul. Tal ideologia serviu para justificar a instituição do Apartheid. Com isso, milhões de negros foram forçados a mudar para as “homelands” ou ”bantustans”, que eram pequenas áreas determinadas pelo governo branco para os negros morarem (FESTINO, 2014). Como consequência, distintos povos foram forçados a morar nessas áreas, perdendo a ligação com suas terras ancestrais e tornando-se destituídos culturalmente, espacialmente, materialmente e de suas tradições (ibid.).

Esse ambiente de exílio e alienação é consonante com o de outros países colonizados a exemplo de Moçambique, terra natal da menina narradora do conto de Gordimer. As histórias dos dois países se entrelaçam no conto.

De 1965 a 1975 havia em Moçambique uma campanha armada contra o mando de Portugal através da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, de inclinação marxista-leninista, composta pela união de vários grupos anti-colonialismo (FRELIMO; MIA COUTO). Quando o regime ditatorial do Estado Novo em Portugal é destituído do poder em 1974 pela Revolução dos Cravos em Lisboa, as colônias que já lutavam pela independência, finalmente a obtêm.

Com a independência de Portugal em 1975, a FRELIMO passa para o poder em Moçambique, mas enfrenta a Resistência Nacional de Moçambique - RENAMO, partido anti-comunista secretamente apoiado pela minoria branca no governo da África do Sul, resultando em uma guerra civil de 1976 a 1992 (ibid.; ibid.). Como política de dominação e para se manterem no poder, essa minoria branca do governo sul-africano queria desestabilizar os governos marxistas pós-coloniais de outros países africanos para que estes não servissem de modelo de insurgência aos seus nativos negros (CIELO, op. cit.). Isso gerou guerras que fizeram com que uma enorme massa de refugiados saísse de suas terras ou país em busca de proteção na África do Sul, que ao mesmo tempo financiava guerrilheiros como os da RENAMO, os quais a menina narradora no conto se refere aos “bandidos” que assaltam e assassinam pessoas da sua aldeia, a quem seu pai combatia, provavelmente junto da FRELIMO.

3. ANÁLISE DO CONTO

Em consonância com as literaturas Pós-Coloniais, marcadas pelo engajamento político, pela luta pelos direitos civis, o conto O safári definitivo retrata mais uma das vozes silenciadas – a dos que sofreram a dominação do colonizador.

Seu tema principal versa sobre a injustiça e a opressão gerada pelo Apartheid que é pano de fundo, e consequências da colonização. Também versa sobre o exílio e a alienação cultural e das tradições por serem forçados a mudar de país para fugir da fome e da morte, consequências da guerra civil em Moçambique secretamente incentivada pelo governo branco da África do Sul. O exílio, a alienação e essa guerra civil também são abordados no romance Terra Sonâmbula do autor moçambicano Mia Couto (COUTO, 2007). O exílio impõe dificuldades de se viver destituído das tradições culturais, de familiares e de pertencimento, temas frequentemente abordados não só pela literatura pós-colonial, em especial as caribenhas, como em Wide Sargasso Sea, como também no romance realista inglês Jane Eyre de Charlotte Brontë e no movimento Realista.

 A narrativa do conto em primeira pessoa é limitada à subjetividade dos olhos de uma menina de 9 anos de idade, uma técnica de narrativa típica do Modernismo, pois até então os escritores usavam um narrador omnisciente em terceira pessoa. Essa técnica aproxima o leitor da personagem ao mesmo tempo que tem o efeito de fazer com que o leitor se simpatize com ela porquê é uma criança cuja dura realidade ainda não corroeu seus sonhos e esperanças. Através do olhar da menina a autora mostra os horrores da guerra, da opressão do Apartheid das consequências da dominação dos colonizadores. Ao mesmo tempo que não se pode mais voltar a história (a autora mesma pessoa branca assim como outros brancos cujas raízes e identidade estão fincadas na África do Sul), ela tem uma posição conciliatória. Isso se confirma pela estória do conto: por um lado consistente com a desses refugiados moçambicanos, e por outro pela linguagem da narradora menina que é uma linguagem de criança branca, destituída de expressões idiomáticas ou gírias locais. Essa linguagem tem o efeito de quebrar as barreiras linguísticas com o público leitor, tornando o outro e o diferente mais próximos do leitor, de forma a fazer com que este crie uma empatia pela personagem e os dramas vividos e abrace a causa da luta contra o Apartheid.

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