Preconceito Linguístico
Por: Layla Reis • 27/3/2017 • Trabalho acadêmico • 2.643 Palavras (11 Páginas) • 401 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
UNIVASF
PSICOLOGIA
LAYLA FEITOSA MAIA REIS
RESUMO DO LIVRO “PRECONCEITO LINGUÍSTICO: O QUE É, COMO SE FAZ”
PETROLINA
2017
LAYLA FEITOSA MAIA REIS
RESUMO DO LIVRO “PRECONCEITO LINGUÍSTICO: O QUE É, COMO SE FAZ”
Trabalho de Tópicos em Linguística apresentado à Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, como requisto para obtenção de nota.
Orientador: Prof. Carlos Milton Santos
Petrolina
2017
Resumo do Livro “Preconceito Linguístico: O que é, como se faz”
Nas primeiras páginas do livro “Preconceito Linguístico: O que é, como se faz”, Marcos Bagno já se declara parcial em sua visão a respeito do tema. Para tanto, discorre brevemente sobre a escolha da foto utilizada na capa. São seus sogros e o cunhado, pessoas que ele tem como exemplo de recipientes de preconceito – negros, nordestinos, pobres, analfabetos e, no caso da sogra, mulher. A partir daí fica claro que, mais do que fruto de um estudo minucioso, o livro é uma questão pessoal.
A próxima seção do livro se dedica a explorar mitos sobre a língua portuguesa no Brasil. São, ao todo, oito mitos sobre os quais o autor se debruça, mostrando suas contradições e de onde surgiram.
O primeiro mito é o de que a língua portuguesa apresenta uma unidade, que Bagno derruba logo nos primeiros parágrafos ao citar a grande diversidade, que se deve tanto ao tamanho do país quanto pelas questões sociais. Inclusive, denuncia o fato de que as leis – embora sirvam para todos os brasileiros – são escritas em uma linguagem pouco acessível para a maior parcela da população. Por fim, o autor levanta a necessidade de que as escolas reconheçam a existência das variedades linguísticas e se mostra esperançoso, visto que o governo já sinalizava este reconhecimento mesmo em 1998 – a 22ª edição do livro é de 2003.
Com a análise do mito de que o brasileiro não sabe falar português, o autor denuncia o que chamará de “complexo de inferioridade”, da visão que se tem de Brasil colônia mesmo entre outros estudiosos da língua. Para tanto, não se abstém de fazer críticas a teorias e citações, como o faz com uma passagem do livro “Língua viva” de Sérgio Nogueira Duarte, ou com citações de Arnaldo Niskier, então presidente da Academia Brasileira de Letras.
Um dos pontos levantados, ainda na desmistificação do segundo mito, é que muitos termos ainda presentes na língua falada em Portugal não são presentes na linguagem das crianças brasileiras, que não os utilizam por não ouvir os adultos utilizando e se os adultos não utilizam é porque não precisam. Assim, Bagno mostra que a língua falada no Brasil passou por transformações e adaptações, sendo independente da que é utilizada em Portugal.
Para o terceiro mito, o autor decide derrubar o preconceito de que o português é muito difícil. Ele faz isso se valendo de exemplos como o húngaro e o guarani, que, se fossem difíceis, ninguém falaria. O ponto em que ele deseja chegar é que é consideravelmente fácil para que as pessoas aprendam a língua materna, pois estão rodeados por ela em todos os lugares. E, no que diz respeito ao ensino, deixa claro que a língua é considerada difícil por conta de um ensino que não leva em conta o uso brasileiro da língua, tentando impor o português de Portugal sobre o que ele chamará de “gramática intuitiva” do falante de português brasileiro.
Lançando mão de um quadro que compara palavras em português às suas etimologias, Bagno mostra que o uso de “L” e “R” teve uma variação da origem até os dias atuais. Tal recurso tem a função de criticar o mito número quatro, que afirma que pessoas de baixa instrução falam errado – a exemplo do uso das palavras “chicrete” e “pranta”, comumente associados a pessoas de baixa instrução ou poder aquisitivo. É também nessa seção que o autor alfineta aqueles que louvam o português de Portugal, mostrando que mesmo Camões escrevia palavras como “pubricar” e “frauta”.
Na verdade, a desconstrução do mito se utiliza de outros exemplos para explicar o que é rotacismo, fenômeno de transformação da língua e que permite que tendências normais se manifestem. Na verdade, para ele, o preconceito linguístico nesse caso se deve ao preconceito social, isto é, daquilo que é considerado língua de “caipira”. E, seguindo o costume de citar a literatura como exemplo, Bagno cita a boneca Emília, criação de Monteiro Lobato, que em visita ao País da Gramática teceu uma defesa ao provincianismo, vícios de linguagem de locais rurais.
Continuando a sua explicação de como o preconceito lingüístico é um preconceito social, o final do quarto mito faz a análise da forma como o povo nordestino é representado na mídia televisiva, com o autor citando especificamente e Rede Globo. Mostrando como atores que não são nordestinos se contentam em reproduzir uma linguagem que não é pertencente a lugar algum do Brasil, mas que tem a função de escarnecer, marginalizar e excluir uma população específica.
Diz-se, segundo o quinto mito, que o Maranhão é o lugar onde o português é mais bem falado. A isso, o autor justifica com o uso frequente, no Maranhão, do pronome “tu”, o que aproximaria a língua da que é falada em Portugal, considerada a correta por aqueles que acreditam no mito. Porém, a resposta dele a isso é que a língua falada no Maranhão atende às necessidades do local e que quando deixar de atender, sofrerá mudanças para se adequar.
A isso cabe, portanto, uma consideração do processo histórico da formação da língua de um local específico. Avaliar as peculiaridades de cada região para daí entender como e por que determinadas expressões são utilizadas e outras não. Com isso, o autor explica que não se pode afirmar que uma ou outra variedade é melhor que outra.
O sexto mito é o de que o correto é pronunciar as palavras da forma como é escrita. Ou seja, seguindo à risca o som das letras. A crítica, neste caso, se inicia com respeito à tendência que as escolas tem de obrigar os estudantes a pronunciar como se escreve, reforçando a ideia de que essa é a única maneira correta de fazê-lo. Bagno reconhece que é necessário ensinar a escrever de uma forma única, a ortografia oficial, mas afirma que o melhor a se fazer é permitir que o aluno pronuncie como quiser.
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