RESENHA A TRADIÇÃO VIVA, DE AMADOU HAMPATÉ BÃ: VIAGENS AOS LUGARES DE MEMÓRIA
Por: Aleksandra Andrade • 23/10/2018 • Resenha • 817 Palavras (4 Páginas) • 2.537 Visualizações
RESENHA
A TRADIÇÃO VIVA, DE AMADOU HAMPATÉ BÃ:
VIAGENS AOS LUGARES DE MEMÓRIA
Por
LETÍCIA DE ANDRADE CAMARA
LUIZA MARTINS BEZERRA
MARIA ÉVILI SANTOS FERREIRA
Alunas do Curso de Letras - Literaturas
Trabalho apresentado ao Professor Vanessa Ribeira, na disciplina Poesia Africana.
Faculdade de Letras/UFRJ
1º semestre de 2018
As sociedades africanas em geral têm, em sua essência, o compromisso com a tradição oral, a palavra falada. Passando pela origem da palavra através do divino até o deslocamento e desaparecimento desse espaço de história e identidade, Amadou Hampaté Bã traz, em seu texto “Tradição Viva” que faz parte do livro História Geral da África, publicado pela UNESCO em 1980, o outro e os seus lugares de memória no coletivo. O mundo nasce a partir da necessidade de dizer. A relação da palavra com o homem estará nesse entre do divino com a própria humanidade. O senso de verdade, o valor da palavra, portanto, vai além da moral e percorre todas as instâncias da existência e do seu vínculo com o mundo. É a chave para a transmissão e preservação da tradição e da sabedoria dos povos. Nesse sentido, a tradição oral tem compromisso com a verdade e fidedignidade para a manutenção da história. A Palavra nas sociedades africanas possui um valor dinâmico e influente, já que o homem está intimamente ligado a ela, ‘’a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é.’’ (Hampaté Bã, 1980, p. 182). A historia vai se realizar, se expandir e permanecer pela palavra. Por isso, a oralidade baseada na palavra é quem vai transmitir o que foi legado por seus antepassados.
Nesse sentido, a tradição oral tem não só o papel de transmissão, como também funciona como resgate de uma memória viva. Um quadro, por exemplo, é só um recorte de um momento da historia, a tradição oral vem com um papel de manter vivo e continuo toda uma memória, não fazendo um recorte, mas fazendo com que esse resgate mutuamente ligado a transmissão mantenha historias, costumes, rituais, entre outras noções legadas pelos antepassados parte do passado, presente e futuro, transfigurando-se numa espécie de manutenção de uma certa alma africana.
na iniciação e na experiência, a tradição oral conduz o homem à sua totalidade e, em virtude disso, pode-se dizer que contribui para criar um tipo de homem particular, para esculpir a alma africana. (Hampaté Bã, 1982, p. 183)
Nesta mesma ideia de memória, Hampaté fala acerca dos ‘’grandes depositários da herança oral” (1980, p.187), os Tradicionalistas são o patrimônio vivo da memória da África. Eles são responsáveis por transmitir conhecimento. Tanto o conhecimento quanto a memória se constroem coletivamente e são intrínsecos um ao outro. E ambos são mediados pela palavra, “porque a palavra se empossa na memória” (HAMPATÉ. 1980, p.182). Importante, ainda, ressaltar que os lugares de memória não são fixos, mas estão em movimento assim como a fala. Os Tradicionalistas aprendem com o outro, com as diferenças, para ter uma reflexão de si e ampliar-se além das fronteiras étnicas, como coloca o autor:
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