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Resenha Crítica de "A tradição viva"

Por:   •  31/10/2018  •  Resenha  •  1.297 Palavras (6 Páginas)  •  706 Visualizações

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Letras

Disciplina: Poesia africana de língua portuguesa

Professora: Vanessa Teixeira

Aluna: Suellen Gomes da Silva Correia

DRE: 115190992

Resenha Crítica de “A tradição viva”

O capítulo “A tradição viva” do livro Metodologia e pré história da África apresenta a importância da tradição oral africana, nos mostra que, ao contrário do que o Ocidente pensa sobre os iletrados, a oralidade tem em si um valor moral fundamental para os africanos. O autor nos mostra a importância dessa tradição oral através da origem divina da palavra, seu poder de controle sobre as forças do mundo, seu papel na educação da sociedade africana e sua legitimidade.

Nos tempos de hoje, podemos ver um esforço para o reconhecimento da tradição oral africana como patrimônio cultural da humanidade, no entanto,  nem sempre isso aconteceu. Por ser um povo que não desenvolveu nenhum tipo de escrita, durante muito tempo os africanos foram vistos como povos sem cultura pelas nações modernas, onde a escrita tem precedência sobre a oralidade. Isso aconteceu, segundo alguns estudiosos, como diz o autor, por conta de a escrita ser considerada mais confiável que a fala, mas, como todo testemunho, seja escrito ou falado, vem do homem, então sua confiabilidade estaria mais direcionada ao próprio homem do que nas formas dos discursos em si.  “O testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem”. Nos povos africanos, por ser a oralidade sua tradição, o homem se encontra mais ligado a palavra, pois ela é o conhecimento total e não se limita apenas a lendas, mitologias e histórias; mas, é, sobretudo, a grande escola da vida que tem a responsabilidade de esculpir a alma africana.

A respeito da origem divina da palavra e sua legitimação na África, o autor discorre sobre as tradições da Savana ao sul do Saara, antigo Bafur. Segundo a tradição bambara Komo - uma das grandes escolas de iniciação do Mande - a palavra é uma força que vem do criador de todas as coisas, do próprio Ser Supremo, Maa Ngala. O criador, sentindo falta de um interlocutor, criou o homem - Maa. Sendo assim uma criação divina, Maa recebeu uma parte do poder divino, o dom da mente e da palavra. Assim, Maa Ngala ensinou Maa as leis segundo as quais todos os cosmos foram formados e continuam a existir, o encarregou de zelar pela conservação da harmonia universal e, mais tarde, Maa transmitiu todo seu conhecimento para seus descendentes dando assim início a cadeia de transmissão oral iniciatória. Com isso, a tradição africana concebe a fala como um dom de Deus, mas quando entrou em contato com a corporeidade perdeu um pouco de sua divindade, no entanto, ainda emite vibrações sagradas com um poder de criação.  E é esse poder de criação que compele a fala a função de conservar e destruir, sendo o grande agente ativo da tradição africana.

        A partir dessa originalidade divina da fala, dessa relação que ela tem com a harmonia do homem e o mundo que o cerca,  que as sociedades orais considera a mentira uma verdadeira lepra moral. Assim, na tradição africana, aquele que mente mata sua pessoa civil, religiosa e moral; ele se separa de si mesmo e da sociedade. Com isso, podemos, portanto, inferir que as tradições orais são mais autênticas do que as escritas, pois enquanto as tradições ocidentais se limitam a comprovar sua verdade na escrita,  perdem o valor da fala, podendo assim estarem mais sujeitas a falsear seu discurso por conta da falta de comprometimento moral com a palavra, uma falta que a tradição oral não corre o risco de ter, sendo, portanto, portadora de uma cultura mais rica, legítima e viva do que as culturas letradas.

Além do zelo pelo discurso verdadeiro, a África tradicional preza pela sua herança ancestral. É através dos chamados “conhecedores” que a áfrica mantém viva toda sua história, eles não são só depositários de informações passadas e contemporâneas, mas também tratam de uma ciência da vida. São mestres de um ramo específico (ferreiro, tecelão, caçador, etc), no entanto, esses mestres não são especialistas de nada, são generalizadores, tratam da vida na sua totalidade, tratam das plantas, das terras, das águas… seus conhecimentos sempre tratam de uma utilidade prática. A educação africana se dá através dos “conhecedores” que transmitem seus conhecimentos acerca da ciência da vida e dos ofícios para os iniciados: crianças, jovens e adultos; e é  apenas com a oralidade que os ensinamentos são transmitidos. Ao contrário do ensino tradicional do ocidente que, na maioria das vezes, não tem utilidade prática. Sem dúvidas o Ocidente perdeu muitas riquezas culturais e ganhos intelectuais quando, ao invés de assimilar a cultura africana, resolveu destruí-la. Os africanos sabiam bem mais da vida e da terra do que seus colonizadores, o ensino letrado tradicional nada ensina sobre a vida aos jovens ocidentais, que estão ficando cada vez mais frustrados, depressivos e ansiosos. A modernidade afetou o homem moderno de tal forma que ele não consegue encontrar o seu próprio equilíbrio; não encontra a si mesmo e não sabe controlar e nem lidar com suas emoções. Então, é evidente que a cultura africana quando preza pelo equilíbrio entre o homem e a natureza está sendo bem mais sensata que a cultura do Ocidente, pois não há bem maior do que a paz interior. Contudo, ao invés de discutirem se a tradição oral é ou não verdadeira, o Ocidente deveria escutar e aprender com os africanos.

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