RESENHA DE PONCIÁ VICÊNCIO
Por: Thaipiet • 2/12/2019 • Resenha • 1.541 Palavras (7 Páginas) • 275 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
CENTRO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO – CLC
LICENCIATURA EM LETRAS – PORTUGUÊS E ESPANHOL
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RESENHA DE PONCIÁ VICÊNCIO
THAÍS DE LIMA PIETZSCH
PELOTAS
27 DE MAIO DE 2019
DADOS BIOGRÁFICOS DA AUTORA:
Advinda de uma família de classe social baixa que vivia em uma zona periférica de Belo Horizonte, Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu no dia 29 de novembro de 1946. Evaristo, após passar muito trabalho conciliando o emprego de doméstica com os estudos do curso normal, se mudou para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ. Mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela UFF, a autora escreveu romances, como Ponciá Vicêncio, poesias, como Poemas da recordação e outros movimentos e também contos, como Olhos D´água. Conceição Evaristo atualmente atua como professora visitante da UFMG e recebeu prêmios importantes como o Prêmio Jabuti de Literatura em 2015, o prêmio Faz a Diferença na categoria de prosa no ano de 2017 e o Prêmio Cláudia na categoria de cultura também em 2017.
SÍNTESE DA OBRA :
Publicado em 2003, Ponciá Vicêncio aborda a trajetória de vida da protagonista, a qual dá nome ao livro, criando um diálogo, no decorrer da narrativa, entre sua infância e sua vida adulta. Ponciá nasceu em uma vila em uma terra que pertencia ao Coronel Vicêncio, onde ex escravos e seus descendentes, que levaram o sobrenome do seu antigo senhor, viviam. Ponciá viveu com sua família naquela pequena vila até seus dezenove anos, quando resolveu se mudar para a cidade em busca de melhores condições de vida para ela, sua mãe e seu irmão, após a morte de seu pai.
Quando pequena, a personagem tinha memórias vagas de seu avô, um homem curvado e com um braço cotoco que sempre colocava nas costas para não o mostrar. Ponciá e sua mãe Maria esculpiam diversos utensílios em barro e davam ou vendiam para os outros moradores da vila. Um dia Ponciá esculpiu um homem no barro, tratava-se de seu avô, o que deixou todos um pouco espantados, pois ela o viu quando ainda era um bebê. Logo que a personagem esculpiu aquele homem de barro, seus pais lhe falaram de uma tal herança que o velho Vicêncio havia deixado para ela, o que ficou na memória de Ponciá durante toda a história.
Quando a protagonista resolve ir para a cidade, ela passa dias com uma miséria de comida a qual teve que fazer durar. Ela logo foi à uma igreja e quando saiu, ficou sentada na escadaria, pois não tinha para onde ir, e oferecia seu trabalho de doméstica para os que passavam. Inúmeras pessoas passaram e negaram seu trabalho, quando uma senhora recomendou que ela fosse até a casa de sua prima, pois ela talvez gostaria do trabalho de Ponciá. A personagem consegue o tão aclamado emprego e aos poucos vai conseguindo juntar dinheiro para comprar um barracão.
Ponciá conhece um homem com quem se casa e tem sete filhos, todos nascidos mortos, a presença da morte é muito significativa durante toda a obra. Ela continua trabalhando de empregada doméstica, tendo sua rotina sempre com a mesma aflição de voltar para a sua vila, encontrar sua mãe e seu irmão Luandi e os buscar para desfrutarem de uma vida menos trabalhosa que a da roça. Um dia Ponciá resolve voltar para a pequena vila, onde encontra sua casa vazia, apenas com os utensílios de barro que havia feito com sua mãe, o que trouxe uma tristeza ainda maior para ela, além daquela aflição cotidiana que sempre viveu na cidade.
Ponciá volta para a cidade após alguns dias que ficou esperando o próximo trem chegar e volta à sua rotina: trabalho doméstico, seu “homem” que a dava alguns “socos e pontapés” às vezes, falta de condições e perspectivas. Após um tempo, a protagonista acaba encontrando seu irmão, que havia ganhado o posto de soldado. Luandi leva Ponciá ao encontro da mãe e eles relembram histórias de quando Ponciá era pequena, trazendo uma reflexão sobre a existência de Ponciá, seu destino e o destino de todos os seus.
APRECIAÇÃO CRÍTICA:
Ponciá Vicêncio traça as perspectivas e, muitas vezes, a falta delas na vida da protagonista, conta sobre as marcas deixadas pela escravidão, que, teoricamente, havia acabado, na vida dela e dos seus. Uma figura importante para a simbologia da obra é a do avô Vicêncio, que deixou uma “herança” para Ponciá e ela, durante toda a narrativa se pergunta qual é e que no fim do romance é explicitado que é uma herança identitária, sua existência como mulher negra é sua própria herança e a dos seus.
Na obra inteira há um diálogo entre o passado e o presente, ponto importante para fazer a ligação com a identidade de Ponciá. Também conectando presente ao passado, na obra há uma repetição intencional por parte da autora, que serve para ligar os fatos. No decorrer do livro estão presentes as memórias de Ponciá que são importantes para revelar o emocional da personagem e sua busca pelo autoconhecimento, seu “eu” e onde ele se encaixa no mundo. Quando Ponciá volta para sua terra, a questão da ponte entre o passado e o presente se mostra de forma que explicita sua herança identitária, como pode-se notar no último parágrafo do livro:
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