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RESENHA DO CAPÍTULO: O DISCURSO DE OUTREM

Por:   •  15/4/2018  •  Resenha  •  1.479 Palavras (6 Páginas)  •  509 Visualizações

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PUC MINAS – LETRAS

Estudos Linguísticos: princípios e processos de textualização

Professora: Jane Quintiliano

Aluna: Cristina Queiroga Bueno

RESENHA DO CAPÍTULO “O DISCURSO DE OUTREM”

Esta resenha se destina  ao nono capítulo intitulado “O discurso de outrem” da obra “Marxismo e Filosofia da linguagem” (2006), publicada em 1929-30 e assinada por e assinada por V. N. Volochínov. Esse capítulopreocupa-se em analisar a concepção de enunciação, do discurso citado e suas variantes, assim como a relação entre língua e enunciação.

Bakhtin (2006.p.144), inicia o capitulo nove afirmando que “discurso citado é o discurso no discurso, a enunciação naenunciação, mas é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação”, ou seja,o enunciador replica aquilo que já foi dito por outra pessoa e carrega as dicções e os tons de falar desse sujeito. Para o autor(2006.p.147), “a enunciação citada tratada apenas como um tema do discurso, só pode ser caracterizado superficialmente. Para penetrar completamente no seu conteúdo, é indispensável integrá-lo na construção do discurso. Se nos limitarmos ao tratamento do discurso citado em termos temáticos, poderemos responder às questões“Como” e “De que falava Fulano?”, mas “O que dizia ele?”só pode ser descoberto através da transmissão das suas palavras, mesmo que só sob a forma de discurso indireto”,portanto, ao se tratar da enunciação de outrem, o enunciador não quer saber apenas o que elediz, mas quem diz e como isso foi dito, pois ao introduzir um tema, o falante carrega em si marcas,tons e dicções de outra enunciação produzida por um sujeito social.

Sob o ponto de vista de Bakhtin (2006.p.147), “o discurso citado é visto pelo falante como a enunciação de outra pessoa, completamente independente na origem, dotada de uma construção completa, e situada fora do contexto narrativo”, podendo observar, contudo que o narrador integra, de forma ativa, uma enunciação à outra e,preserva de forma bastante rudimentar e relativa os aspectos lingüísticos, o tema e o estilo,sem os quais qualquer tipo de discurso não poderia ser compreendido.

        De acordo com Bakhtin (2006,p.151), “aquele que apreende a enunciação de outrem não é um ser mudo, privado da palavra, mas ao contrário um ser cheio de palavras interiores”, infere-se que o autor diz que o discurso interior como um “amontoado” de palavras que dão sentido a um discurso, pois há palavras já faladas que se encontram às outras. O enunciador ao se apropriar deste discurso, o modela e o reporta de acordo com seu contexto sócio-ideológico e cultural. O modo como se replica esse enunciado é o modo como se compreende o mundo.  Para o autor(2006,p.151)“éno quadro do discurso interior que se efetua a apreensão da enunciação de outrem, sua compreensão e sua apreciação, isto é, a orientação ativa do falante.”Dialogando com Bakthin, em seu livro “Introdução ao Pensamento de Bakhtin”, Fiorin (2011,p.17) sugere que “existe uma dialogização interna da palavra, que é perpassada sempre pela palavra do outro, é sempre e inevitavelmente também a palavra do outro”, assim quando há uma junção de palavras mediada pela linguagem,ocorre também um encontro de enunciados e enunciações, um encontro de vozes sociais que podem gerar uma tensão entre sentidos, pois leva-se sempre em conta o sujeito e em qual contexto social ele está inserido. Assim, o autor russo afirma que (2006, p.157)  “língua existe não por si mesma, mas somente em conjunção com a estrutura individual de uma enunciação concreta. É apenas através da enunciação que a língua toma contato com a comunicação.”

No capítulo 5, “Língua, Fala e Enunciação”, Bakhtin (2006, p.93) diz que “Na realidade, o locutor serve-se da língua para suas necessidades enunciativas concretas para o locutor, a construção da língua está orientada no sentido da enunciação da fala”.Conformedescrito pelo autor, há uma relação subjetiva entre língua e enunciação,sendo a língua sócio-histórica e que está sempre em um  processo evolutivo contínuo.Dessa forma, é por meio dela que o sujeito dá sentido à uma enunciação.Nesse contexto, a língua não é apenas um código, não apenas um sistema normativo.Vai além disso. De acordo com a visão do autor (2006, p.150), “a língua não é o reflexo das hesitações subjetivo-psicológicas, mas das relações sociais estáveis dos falantes”, pois cada grupo é atravessado por vozes sociais que a ele pertence. É pelo modo de dizer e da época em que se encontra que o enunciador atualiza esse discurso, o incorpora e o introduz da forma que ele lê e apreendeo mundo, entendendo-se que as produções de sentido são históricas, sociais e culturais e deve-se sempre levar em conta o sujeito ali inserido e sua condição. A língua é o “espelho” das relações sociais estáveis do falante.

A relação ativa entre enunciações que é construída pela língua é descrita pelo autor(2006, p.145): “Manifesta-se assim, nas formas de transmissão do discurso de outrem, uma relação ativa de uma enunciação a outra, e isso não no plano temático, mas através de construções estáveis da própria língua”, podendo inferir que para Bakhtin, a língua é constitutivamente dialógica, polifônica e que também tem como função atualização dodiscurso. O falante não apenas replica aquilo que foi ditoao reportar um discurso, mas demonstra que não é uma mera repetição, ao filtrar o que foi falado, apreendendo nesse momento o discurso de outrem.

Segundo o autor(2006, p.145), “o discurso citado, isto é, os esquemas lingüísticos (discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre), as modificações desses esquemas e as variantes dessas modificações que encontramos na língua, e que servem para a transmissão das enunciações de outrem e para a integração dessas enunciações, enquanto enunciações de outrem, num contexto monológico coerente”, isto é, através da língua (sintaxe, morfologia, fonética) podemos limitar o discurso reportado, ou seja, as regras sintáticas possuem função e são padronizadas para citação de um discurso, e ao se materializar na língua exercem influências de regulação, estímulo e inibição sobre as tendências da apreensão apreciativa. Em diálogo com o pensamento bakhtiniano, o autor Fiorin (2011, p.30) categoriza os esquemas lingüísticos, maneiras de inserir o discurso citado:“Com o discurso direto, o narrador está dizendo-nos que isso não é um ponto de vista dele, foi a personagem quem o revelou”, concluindo-se que reporto tal qual o enunciador disse, marcando a voz da personagem e criando claramente sentido para o texto.Podemos ver um exemplo¹ desse tipo de marca lingüística na seguinte passagem da obra "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, quando o enunciador narra o sofrimento e tom rude do protagonista Fabiano, ao se dirigir ao seu filho:“Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.

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