Recordações do Escrivão Isaías Caminha
Por: Carolcintrao • 6/10/2015 • Resenha • 1.158 Palavras (5 Páginas) • 337 Visualizações
Resenhado por : Caroline Moraes Cintrão
BARRETO, Lima . Recordações do Escrivão Isaías Caminha – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
Lima Barreto (1881-1922) foi escritor e jornalista brasileiro. Considerado pela crítica como o maior nome do Pré-Modernismo brasileiro, Lima Barreto (1881-1922) publicou uma obra relativamente extensa, incluindo romances, contos, crônicas, críticas literárias, memórias e uma série de artigos em jornais e revista da época, foi reconhecido pela marca da literatura comprometida com a vida social, seus dramas e iniquidades.
Em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto em sua obra de estreia abrange alguns temas: a hipocrisia existente na sociedade, o forte preconceito racial e o retrato da imprensa da época. A narrativa é considerada autobiográfica, pois, além da personagem principal, o protagonista tem as mesmas características físicas e ideológicas do autor.
Isaías Caminha é filho de um padre branco e uma mãe negra, que vivia no interior do Rio de Janeiro e decidiu ir à capital com intenção de tornar-se doutor. Ele almeja esse título como se fosse a solução para todos seus problemas. Aluno brilhante, dedicado e sempre elogiado na época de escola, não imaginou que poderia sofrer algum tipo de discriminação racial ao sair da sua cidade.
Ele decidiu ir para o Rio de Janeiro para se tornar doutor, Isaías consegue uma carta de recomendação do chefe eleitoral local para o deputado Doutor Castro. Chegando ao Rio, ele se abriga no Hotel Jenikalé e conhece o doutor Ivã Gregoróvitch Rostóloff, jornalista do jornal O Globo. Ao procurar o deputado Castro para conseguir um emprego é rejeitado rapidamente por este.
Lima faz uma crítica a postura e o caráter dos políticos “Gente miserável que dá sanção aos deputados, que os respeita e prestigia! Por que não lhes examinam as ações, o que fazem e para que servem? Se o fizessem... Ah! se o fizessem! Que surpresa! Riem-se, enquanto do suor, da resignação de vocês, das privações de todos tiram ócios de nababo e uma vida de sultão...” (p. 58)
Já estava sem dinheiro e sem emprego, quando recebe uma intimação para ir à delegacia depor sobre o roubo no Hotel em que vivia. Na delegacia o delegado refere-se a Isaías como “mulatinho”. Revoltado com tal tratamento e por tantos outros “pontapés” que levara por conta de sua cor, e chama o delegado de ‘imbecil’ e é preso. Após três horas é liberado e o delegado se mostra amável e o trata como a um filho. Isaías vai embora da delegacia, muda de hotel, mas não encontra emprego e passa a viver nas ruas.
O autor utilizou Isaías para mostrar o racismo existente naquela época mesmo depois da abolição, a cor ainda era um meio para diferenciar as pessoas na sociedade. Quando o hotel onde estava hospedado no Rio é assaltado, logo, ele é o primeiro suspeito já que é o único negro ali hospedado e quando chega à delegacia é ofendido verbalmente de “mulatinho” pelo próprio delegado, Isaías sentiu-se extremamente humilhado com o ocorrido na delegacia, pois, até então, ele nunca havia sido tratado assim por causa de sua raça.
Os negros ou mulatos ainda eram, e ás vezes ainda são, vistos como ladrões ou vagabundos, ocasionando revolta da população negra. Em outro episódio ele tentou arrumar emprego em uma padaria e o padeiro não o aceitou devido a sua cor “o gordo proprietário esteve em um instante a considerar, agitou os pequenos olhos perdidos no grande rosto, examinou-me convenientemente e disse por fim, voltando-me as costas com mau humor: -Não me serve.” (p.79) .
Depois de um certo tempo Isaías, então, consegue um emprego no jornal O globo, graças ao amigo e jornalista Gregoróvitch Rostóloff. Com o seu trabalho de continuísta, descobre a verdade sobre a impressa e os jornalistas. E conhece Lebarant o diretor do jornal, Floc, um crítico literário e Leporace, o redator-chefe.
A imprensa tinha grande influencia na sociedade, Lima faz uma forte crítica à imprensa que é exposta de forma tirana, parcial, corrupta e hipócrita. “A Imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barba-Roxa ressuscitasse [...] só poderia dar plena expansão à sua atividade se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lançam mão e um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda prova... E assim dominam tudo, aterram, fazem que todas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação. Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chamá-los gênios, embora intimamente os sintamos parvos, imorais e bestas... [...] E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis gênios, de gênios imbecis; trabalham para a seleção de mediocridades” (p. 92)
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