Resenha A língua como objeto da Linguística – Antônio Vicente Pietroforte
Por: Manuela Castro • 8/4/2022 • Resenha • 3.337 Palavras (14 Páginas) • 249 Visualizações
Linguística Contemporânea Manhã
Professora: Graziela Bourguignon Mota
Manuela Bassin Martins de Castro
RESENHA
PIETROFORTE, A. V. A língua como objeto da linguística. In: FIORIN, J. L. Introdução à linguística I: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010, p. 75-93.
CREDENCIAIS DO AUTOR
Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo) na área de Teoria e Análise Semiótica do Texto. Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001). Atualmente é professor da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: semiótica, análise do discurso, literatura e literatura brasileira. Realizou a pesquisa “O discurso da Poesia Experimental Portuguesa (POEX) / uma abordagem semiótica” em Portugal, com bolsa na modalidade Estágio Sênior pela Capes no período de setembro a dezembro de 2013.
RESUMO DA OBRA
O autor inicia seu texto com uma fábula que retrata um cordeiro e um lobo. O lobo, faminto, ao ver o cordeiro sozinho á beira de uma correnteza começa a perturbá-lo para ao final da história devorá-lo. A fábula termina com a frase “Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece”, demonstrando que, em qualquer sociedade, o detentor de maior poder será sempre beneficiado.
Após isso, um breve texto explica que ela já foi contada em diversos idiomas, sendo a versão original em francês, em diversas épocas, diversos lugares por pessoas diferentes, assim como muitas outras, tornando assim as fábulas um objeto de estudo de muitas áreas de conhecimento, inclusive a linguística.
Após a leitura da versão original francesa da história, são apresentadas semelhanças entre o português e o francês como, por exemplo, vous e vós, an e ano e fort e forte.
Em seguida, conclui-se que, analisando sistemática e historicamente ambas as línguas, elas têm uma origem comum: o latim. Esse método, que compara as línguas em busca de semelhanças, foi dominante no século XIX e é conhecido como Método histórico-comparativo.
Um dos maiores nomes da mesma época foi Ferdinand de Saussure, que além de contribuir para a Linguística histórica e comparativa com seus importantes trabalhos nesse campo também definiu um novo objeto de estudo para a Linguística.
Em seu Curso de Linguística Geral, ao abordar a definição de um objeto de estudos, ele afirma :
“Outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que se podem considerar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo nada é concreto”
(Saussure, 1969:15)
Saussure ainda usa como exemplo a palavra nu, explicando que, em observação superficial, o observador será provocado a ver um objeto linguístico concreto porém uma análise mais completa nos levará a encontrar muitas variações, dependendo da maneira como consideramos a palavra e ainda diz:
“Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto; aliás, nada nos diz de antemão que uma dessas maneiras de considerar o fato em questão seja anterior ou superior às outras”
(Saussure, 1969:15)
Continuando com o exemplo acima, o autor explica que quando Saussure compara nu ao latim nudum, ele está analisando de forma histórica as mudanças da língua, já que a semelhança fônica e informação histórica contribuem para que seja estabelecida uma relação entre elas. No entanto, ao analisar a mesma palavra como um som ou expressão de uma ideia, esse ponto de vista deixa de ser interessante, sendo substituído pelo ponto de vista semântico e fonético. Desta forma, o autor exemplifica a segunda citação acima, de que, dependendo do enfoque com o qual tratamos o dado linguístico, teremos um objeto de estudo diferente.
O Curso de Linguística geral, de Saussure, que teve a primeira edição publicada três anos depois de sua morte, em 1913, foi editada por seus alunos a partir de algumas anotações de aula datadas de 1907,1908 e 1910. Os editores foram Ch. Bally, A. Sechehaye e A. Reidlinger.
Apesar de o termo dicotomias nunca ter sido menciona no texto do Curso, é assim que se costuma chamar os quatros pares de conceitos, que fazem uma síntese das propostas de Saussure para a criação de um novo objeto de estudo para o campo linguístico.
A palavra dicotomia vem do grego dichotomía, que significa “divisão em partes iguais”, porém, em um texto saussuriano, representa um par de conceitos que devem ser definidos um em relação ao outro, de modo que um não tem sentido sem o outro.
Em Saussure, existem quatro dicotomias: sincronia e diacronia (1969:94-116), língua e fala (p.26-28), significante e significado (p.79-93) e paradigma e sintagma (p.142-147).
Sincronia e Diacronia
(Saussure, 1969:94-116)
Não se deve pensar em Saussure como “inventor” da linguística. Ele definiu um objeto de estudo. Antes dele, já existia, apenas se desenvolvia de outro ponto de vista.
No decorrer do século XIX, a Linguística estudou, basicamente, as mudanças linguísticas. Em acordo com a Biologia da época, a ponto de classificar e estudar as línguas em grupos familiares e tratá-las por graus de parentesco.
A Linguística dessa época é chamada de Linguística Comparativa e Histórica (Robins, 1979:132-160). Leva esse nome por conta de sua metodologia de trabalho estar baseada na comparação de fenômenos linguísticos de diferentes línguas. Examinando algumas línguas modernas faladas na Europa, observa-se, por exemplo, uma semelhança sistemática entre português, espanhol, francês e italiano.
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