VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X PRECONCEITO
Por: asesp • 23/3/2016 • Projeto de pesquisa • 1.751 Palavras (8 Páginas) • 389 Visualizações
1 INTRODUÇÃO
O presente projeto trata da problemática do preconceito lingüístico, enfatizando sua manifestação no ambiente escolar. Tem por finalidade abordar e analisar a origem do mesmo e suas formas de expressão na escola.
Quando se fala em língua portuguesa está se falando em uma unidade que se constitui de muitas outras unidades. Em um mesmo espaço social convivem diferentes variedades lingüísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais.
Na sala de aula, como em qualquer outro ambiente, essas variações podem ser facilmente encontradas e apresentam-se relacionadas à transição entre uma cultura predominantemente oral – no lar, e uma cultura permeada pela escrita – na escola.
É de conhecimento geral que o ensino da língua portuguesa nas escolas está voltado para as regras gramaticais, ou “norma culta”, deixando de lado as diversas variantes do idioma. No entanto, esse método de ensino é fragmentado, porque a grande maioria dos alunos não aprende a estabelecer uma diferença quanto à variedade padrão e o respeito a outras formas de falar. Ao afastarem-se da norma considerada “culta”, essas variações são, por engano, tratadas como “erros de português”, quando na verdade são simples reflexos da nossa diversidade cultural. Essa falsa compreensão da realidade gera preconceito quando cultiva a idéia de que, “não está na gramática é errado e deve ser corrigido”.
Os professores por sua vez, não sabem como agir, pois se de um lado não devem corrigir os alunos e correr o risco de inibi-los e atrapalhar seu desenvolvimento, de outro, precisam apresentá-los a forma padrão da língua, indispensável em certos momentos. Daí a necessidade de se adotar um modelo gramatical que integre conhecimentos, que apresente a variante culta sem estigmatizar as outras formas de falar.
O fundamental é ter consciência de que o uso da variante vai depender, e muito, da situação de fala; pois, os ambientes, mais conhecidos como contextos, determinam a formalidade ou informalidade dos usos da língua e são responsáveis pela seleção de itens pertinentes a cada ocasião, fazendo com que as variedades lingüísticas sejam utilizadas em conformidade.
Não é coerente eleger uma forma de falar como a “certa”, visto que, não por acaso, esta variedade é sempre a falada pelo grupo social que detém o poder. O preconceito decorre do valor atribuído às variantes padrões e ao estigma associado às não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática.
Esse preconceito pode vir à tona de diversas formas: como uma correção pública, um comentário, irônico ou não, um sorriso, um olhar de reprovação ou mesmo uma crítica aberta. Essas atitudes podem acarretar sérias conseqüências na vida acadêmica, principalmente dos jovens, pois geram insegurança e medo de utilizar uma variante não padrão e serem ridicularizados.
É de extrema importância reconhecer que apesar das diferenças, ou seja, dessas variações lingüísticas, a língua que todos falam é a mesma, sendo compreensível que a adquira certas características não presentes na chamada linguagem culta, justamente pelas condições de existência que cada pessoa tem. Daí a necessidade de se adotar um modelo gramatical que integre conhecimentos, que apresente a variante culta sem estigmatizar as outras formas de falar.
A escola, como ponto de encontro dessas variantes, deve respeitar os dialetos, entendê-los e mostrar aos alunos como a sociedade interfere nesse processo, atribuindo valores sociais diferentes aos diversos modos de falar e que esses valores, mesmo se baseando em preconceitos e falsas interpretações do certo e do errado, têm conseqüências econômicas, políticas e sociais.
È tarefa da escola cuidar para que não se reproduza em seu espaço a discriminação lingüística. Não se trata, portanto, de substituir uma variedade por outra, mas possibilitar ao aluno a interação com novos recursos expressivos. Assim, tomando conhecimento de que existem diferenças e não erros, ele certamente aprenderá a usar as variantes que conheceu nos momentos adequados.
2 OBJETIVOS
- Objetivos gerais:
Analisar a origem do preconceito lingüístico e os processos pelos quais ele se propaga, assim como suas formas de manifestação no meio escolar.
- Objetivos específicos:
Identificar os motivos que acarretam o problema do preconceito lingüístico.
Reconhecer os meios pelos quais ele se manifesta no âmbito da escola.
Observar as várias faces do preconceito lingüístico intra-escolar, buscando alternativas para enfrentá-lo.
3 JUSTIFICATIVA
A partir de reflexões sobre a supervalorização da língua no estado social, temos ampliado nosso grau crítico sobre a influência da mesma na vida de uma pessoa. Podemos então inferir que o modo como um falante utiliza sua língua materna é importante, porém não absoluto, para sua posição na sociedade.
Geralmente, cidadãos com menor grau de escolaridade são excluídos da vida intelectual do país. Isso porque, além de outros fatores, não têm o discernimento entre as variantes e a forma culta, tampouco o domínio desta; tal exclusão é resultado do preconceito, em especial o lingüístico, para com esses indivíduos.
Vários são os meios de propagação dessa prática cruel. Entre eles destaca-se a mídia, a qual, por reproduzir a idéia de que as formas lingüísticas de prestígio são as únicas corretas, provoca uma antipatia nas pessoas em relação às variedades da língua. Outro fator considerável é a imposição da norma culta, sem contemplar suas variantes na sala de aula. E isso é preocupante, visto que, direta ou indiretamente, o ensino da língua portuguesa passa pela questão do preconceito lingüístico, instaurado desde cedo na vida escolar. Um primeiro passo para a resolução desse problema é a conscientização dos educadores que, por vezes, não se dão conta da importância de apresentar as diferenças da língua. Além do mais, é consideravelmente mais simples explicar sobre variantes lingüísticas para crianças, pois essas, ao contrário de adultos, ainda não se aprofundaram
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