VARIAÇÃO DE /t/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO FALAR PARAENSE
Por: TaiMaria • 12/1/2017 • Artigo • 3.237 Palavras (13 Páginas) • 248 Visualizações
VARIAÇÃO DE /t/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO FALAR PARAENSE
Marilucia Oliveira (UFPA)
Tainah Ferreira (UFPA)
Resumo: este trabalho tem por objetivo descrever a variação de /t/, mais especificamente sua palatalização, em posição prevocálica, discutindo, com base nos dados de frequência quais os contextos que são mais ou menos favoráveis à aplicação da regra. A palatalização de /t/ ocorre, comumente, diante das vogais altas no falar paraense. Mas foram analisados todos os contextos vocálicos, já que, em alguns falares, pode ocorrer assimilação regressiva. Foram encontradas as variáveis [t] (alveolar) e [t∫(africada) nas cidades pesquisadas. No presente trabalho, procuramos descrever a variação de /t/, considerando aspectos internos e externos. Além da descrição mencionada, confeccionamos carta linguística, a fim de indicar o percurso dessa variação nas cidades paraenses. Na pesquisa, foram selecionadas dez regiões do Estado do Pará: Abaetetuba, Altamira, Belém, Bragança, Breves, Cametá, Conceição do Araguaia, Itaituba, Marabá e Santarém. São essas as localidades utilizadas no projeto ALiSPA, atlas de onde são oriundos os dados aqui analisados.
1 INTRODUÇÃO
Uma forte característica no falar dos paraenses é a palatalização da consoante alveolar /t/, que passa a ser produzida como /t/. Isso marca de forma significativa nosso dialeto.
Ao longo da pesquisa, utilizamos para a contagem dos dados, o programa de análise de regra variável Varbrul que forneceu as porcentagens usadas neste trabalho. Assim, pudemos descrever as regularidades que determinam as realizações de /t/ e /t/ nas dez cidades mencionadas. É importante ressaltar que existem outras variações do segmento alveolar aqui tratado, mas tivemos raras ocorrências das mesmas. Procuramos, por meio deste estudo, contribuir para a descrição do português falado no Pará e no Brasil e estabelecer comparações que possam enriquecer as pesquisas nessa área de estudo.
2 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho, levo-se em consideração a análise geossociolinguística. A partir de agora, descrevem-se os procedimentos adotados para sua execução. Inicialmente, realizou-se a escuta dos dados sonoros contidos no CD-ROM do ALiSPA que é um programa desenvolvido para armazenar os dados lingüísticos em um banco, coletados por meio de pesquisa de campo e distribuídos entre quatro informantes do sexo masculino e feminino de duas faixas etárias: 19-33 e 40-70. Nele há a possibilidade de escuta e edição desses itens, bem como o acesso a informações referentes às características históricas das regiões estudadas. Em seguida, fez-se a transcrição fonética dos itens que apresentam a variável em estudo. Depois, foram instituídos os grupos de fatores internos e externos que poderiam influenciar direta ou indiretamente a realização variável de /t/. Feito isso, contabilizou-se os dados, apontando-se os percentuais de ocorrências e as possíveis hipóteses a confirmadas nos redimensionamentos dos grupos de fatores. Feitos os redimensionamentos, descrevemos os resultados denominados finais. Além disso, organizou-se os dados para confecção de cartograma, a fim de se demonstrar a distribuição espacial da variação de /t/ no falar paraense.
O presente trabalho tem como base teórico-metodológica a Sociolinguística Variacionista que admite a variação linguística e procura descrever e sistematizar as mudanças que ocorrem numa dada língua. Foram utilizados, a partir do banco de palavras do Projeto do Atlas Linguístico do Pará (ALiPA), somente dados do QFF e o do QSL. Após a instituição dos grupos de fatores, foi feita a codificação dos dados. Para cada fator linguístico e social foi atribuído um código. Segue, abaixo, o Quadro 01, que exemplifica o processo de codificação:
Quadro 01 – Exemplo de codificação no Programa Varbrul
Vocábulo | Codificação |
Prateleira - | 2al&^b}<3 |
Foram estabelecidos oito grupos de fatores para verificar seu efeito sobre as variável em estudo, quais sejam: contexto precedente, contexto seguinte à vogal alta, qualidade do segmento seguinte, tonicidade, classes de palavras, sexo, idade e grupo geográfico. As variáveis dependentes constituem a não-palatalização (1) ou a palatalização (2) de /t/. Esses grupos são comumente avaliados em trabalhos de natureza sociolinguística quando se estuda a palatalização de consoantes coronais, no entanto, cabe ressaltar que, aqui, são instituídos como forma de se testar hipótese. Suspeita-se que muitos desses grupos, na verdade, não exercem influência sobre o fenômeno, mas que tem sua frequência ou peso relativo inflacionado por outros fatores que realmente tem efeito sobre essa variação.
3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nessa seção apresentam-se os resultados da pesquisa realizada. Serão apresentados, primeiramente, os resultados preliminares. Sua apresentação é importante, a fim de que se compreendam os procedimentos que motivaram a manutenção ou retirada de alguns grupos de fatores da análise final. Isso é necessário, já que, quando do estabelecimento dos grupos de fatores, constituíram-se grupos que se caracterizaram como hipóteses. É o manuseio e análise gradativa dos dados que dirão se devem ou não permanecer na análise, a fim de que se garanta uma investigação rigorosa e detalhada.
- Resultados Preliminares
Os primeiros resultados obtidos foram baseados em contabilização dos dados antes de serem submetidos ao programa Varbrul. Neles constavam tanto os contextos que sofreram a palatalização como aqueles em que não houve a aplicação da regra, para demonstrar que, no Estado do Pará, a regra é válida para contextos em que /t/ esteja diante de vogais altas, ou seja, trata-se de uma assimilação progressiva que pertence ao domínio da sílaba e não da palavra como ocorre em alguns falares baianos (Cf. Mota, 1995).
O banco de dados do ALISPA é composto de 159 vocábulos. Ao todo foram analisados 1.214 dados. Foram selecionados aqueles que apresentaram /t/ em contexto prevocálico; o que totalizou 32 vocábulos. Em apenas dez desses dados /t/ apresentou realização variável, como se pode observar no quadro 02:
Quadro 02: Relação de vocábulos que compuseram o corpus
VOCÁBULOS | |
1. Noite | 17. Tesoura |
2. Planta | 18. Torneira |
3. Terreno | 19. Presente |
4. Prefeito | 20. A gente |
5. Santo Antônio | 21. Perguntar |
6. Dente | 22. Muito |
7. Peito | 23. Mentira |
8. Afta | 24. Tarde |
9. Vômito | 25. Botar |
10. Tio | 26. Manteiga |
11. Alto | 27. Montar |
12. Bonito | 28. Aftosa |
13. Inocente | 29. Elefante |
14. Certo | 30. Borboleta |
15. Prateleira | 31. Rato |
16. Televisão | 32. Teia |
...