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A Brincadeira e Cultura

Por:   •  5/4/2015  •  Resenha  •  2.766 Palavras (12 Páginas)  •  481 Visualizações

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CARVALHO, Ana M. A, MAGALHÃES, Celina M. C. PONTES, Fernando A. R. BICHARA, Ilka D. (org). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca: brincadeiras de todos os tempos. São Paulo; Casa do Psicólogo, 2003.

Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca: brincadeiras de todos os tempos.

Por Arianne Sabádo de Melo

O segundo volume – Brincadeiras de todos os tempos – do livro “Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca” escrito por Adelaide R. de Souza, Ana Maria A. Carvalho, Celina M. C. Magalhães, Elaine P. Rabinovich, Elder Cerqueira S., Emma Otta, IIka D. Bichara, José E. F. dos Santos, Katharina E. A. Beraldo, Lucia I. da C. Silva, Maria Amélia P. P., Maria de Lima S. e Morais, Maria I. Pedrosa, Olavo de F. Galvão, Sarah D. B. da Silva, Silvia Helena Koller e Yumi Gosso é a continuação do primeiro livro que reunia estudos que tinham como característica regionalidade geográfica e cultural observando particularidades quanto às brincadeiras, vocabulários, recursos etc., tendo como argumento que a observação de crianças brincando não apenas ensina sobre o que está superficialmente observamos – a criança – ensina também sobre o ser humano. Este segundo volume tem como foco a temporalidade do brincar, transformações e permanências.

Por ser uma continuação de estudos o livro se inicia no capítulo IX “Nos tempos dos avós” onde o foco é expor o entendimento da brincadeira como um fator genético. Podemos perceber essa ideia quando a autora – Elaine Pedreira Rabinovich – escreve: “Todos esses avós brincaram. O brincar pode ser pensado como um comportamento adaptado e adaptativo da espécie (...)”. Elaine Rabinovich afirma a relação e interferência mutua entre alguns elementos que geram uma estrutura de oportunidade ao ato de brincar, estes elementos são a criança, as características do espaço físico e também a organização sociocultural junto às interações face-a-face. Assim como a dança, a música, ou qualquer outro tipo de arte é deixado pelas gerações para sua sucessora, o ato de brincar também é repassado de pais para filhos, sofre modificações, é claro, mas se bem notarmos cada região tem estilos de brincadeiras distintas justamente por conta da herança que é transmitida.

Neste nono capítulo ainda a autora fala da influência da cultura material sociofamiliar, e também da coletividade, nos brinquedos e brincadeiras, além de ter no livro relatos de pessoas experientes que tem a oferecer quanto ao tema, demonstrando o que a autora quer repassar quanto à interferência da cultura e de outros fatores de ordem histórica nas formas de brincar. Interessante a forma como ela disponibiliza no documento depoimentos de adultos e idosos quanto a sua infância, isto concretiza o seu estudo. A linguagem utilizada pela autora é de fácil compreensão com exceção de alguns termos utilizados não muito conhecidos o que dificulta, em raros momentos, o entendimento.

Ao iniciar o capítulo X as autoras Ana M. A. Carvalho e Maria Isabel Pedrosa apontam cenas de interação entre crianças, de ambos os sexos, e o ambiente, onde a brincadeira mais provável e presente é a casinha e/ou família, após isto elas iniciam argumentos relacionados a estas brincadeiras e o modo como as crianças processam o lugar e os materiais que as cerca. O primeiro fato a ser discernido é o “dentro e fora”, com o auxilio da leitura de outros autores – Rabinovich e Pereira e Nunes – definem este dentro e fora como fruto da imaginação e criatividade da criança que o conseguem com o simples fato de cobrir seus corpos ou utilizar um objeto qualquer como separador de ambientes, ou seja, como porta ou paredes. A imaginação infantil proporciona momentos maravilhosos a elas com objeto simples que um adulto não poderia dar tantas funções. Ao falar do “ninho” as autoras se apoiaram em outros autores, como Carvalho, Wallon, Bowlby e Pedrosa, iniciam esta parte do livro falando sobre o desenvolvimento humano, elas citam ideias de Carvalho (1989, 1998), Wallon (1979) e Bowlby (1969), sobre o processo de interação social que gera este desenvolvimento, comparando com a brincadeira de casinha, onde o ninho – a casa, o deitar – sintetiza a dinâmica entre o espaço individual, separado, e o aconchego, o apego, como a relação citada pelas autoras que são da “teoria do apego” de Bowlby (1969) onde a criança se aproxima, se apega a um adulto de seu convívio – na maioria das vezes sua mãe – procurando segurança para poder depois explorar o mundo, e apenas com o tempo este vinculo diminui, isto ocorre quando a criança começa a perceber que ela e o outro não são a mesma pessoa, o processo de individualização que faz a criança aos poucos se tornar independente até chegar à idade adulta. Quando nos sentimos inseguros é normal procuramos proteção, procurar ajuda, alguém que possa nos defender de um possível perigo, assim a criança faz, num mundo desconhecido ela se liga a alguém que possa lhe proteger até ela ter conhecimento que pode defender-se, isto ocorre com tempo, quando o bebê percebe que faz parte do mundo e que pode tornar-se independente, trajeto longo que se distorce no decorrer do seu envelhecimento. Finalizando este capítulo as autoras falam do território que a criança usa na sua brincadeira, como os grupos se dividem nele, como ele é ocupado, não é uma mera divisão, também não é um sinônimo de individualismo, há interação e muitas vezes o território é ocupado por um subgrupo de crianças e não por uma apenas. A brincadeira não é um ato desprovido de lógica ou aprendizado, as crianças, ao fazerem suas escolhas e divisões se inserem num processo de desenvolvimento extremamente importante para sua formação adulta, a brincadeira é a base do cidadão, podemos assim dizer, ela é uma das primeiras etapas de formação do caráter de um cidadão. Portanto é essencial o estudo de como ocorre este antagônico ato que, mesmo tão simples, é tão complexo e importante.

No capítulo XI as autoras, Ana M. A. Carvalho e Maria Isabel Pedrosa, iniciam falando dos bonecos de Olinda, após falam do teatro de bonecos clássicos e também das imagens de entidades santas criadas pela igreja como forma de mostrar riqueza e também para chamar a atenção dos homens. Ainda falando da cultura de Olinda as autoras citam os “mamulengos”, brinquedos feito de uma madeira macia, são de pequeno porte, podem ser manipulados através de cordões, varas ou pelos dedos da mão, estes bonecos representam pessoas em seu cotidiano, pessoas comuns ou também personagens conhecidos de lendas, literatura, etc. é interessante conhecer a história dos brinquedos, muitas pessoas os veem como meros proporcionadores de diversão, eles vão além, têm uma função muito mais importante, têm uma história, e além de desempenharem este papel tão importante que é despertar sorrisos e ludicidade, eles trazem consigo a cultura, o passado de um povo, o nosso povo.

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