A Dificuldade de Aprendizagem e Fracasso Escolar
Por: Thaís Farias • 30/11/2020 • Monografia • 1.000 Palavras (4 Páginas) • 213 Visualizações
Dificuldade de aprendizagem e fracasso escolar
Fácil é tudo aquilo que realizamos sem muito esforço, porque já desenvolvemos as habilidades necessárias para fazê-lo. Difícil é tudo que temos que realizar sem possuir as habilidades necessárias ou suficientes para tal.
Se, para viver a vida é preciso aprender; se, para executar as ações mais rotineiras necessita-se desenvolver habilidades, se não é possível aprender tudo, se sempre haverá alguma habilidade a ser aprendida e incorporada ao repertório, então é natural que em algumas ações se obtenha mais sucesso do que em outras. Isto é o que vai caracterizar as dificuldades de aprendizagem; algumas coisas serão mais difíceis do que outras para todas as pessoas. Todo ser humano terá facilidade para executar determinadas ações e dificuldade para realizar outras, seja por causas orgânicas, emocionais ou ambientais.
De acordo com este ponto de vista, que defendo sem hesitação, as dificuldades de aprendizagem devem ser o foco da intervenção psicopedagógica, já que a Psicopedagogia é a área de conhecimento que se dedica ao estudo do processo de aprendizagem humana e que este processo engloba tanto o aprender, como o não aprender, como já se viu.
Portadores de distúrbios e de transtornos de aprendizagem podem e devem receber atendimento psicopedagógico. Porém, são as dificuldades mais corriqueiras relacionadas ao processo de aprendizagem que devem ser atendidas pelos psicopedagogos, pois estas estão presentes em todos os seres humanos, indistintamente e este é o compromisso social da Psicopedagogia.
As dificuldades de aprendizagem não são decorrentes de problemas orgânicos ou psíquicos. Apesar de sua capacidade, a pessoa não desenvolve as habilidades requeridas para realizar a tarefa e, por isso, falta-lhe competência, o que é visto como dificuldade.
Imagine uma criança que não possui atraso cognitivo, sua linguagem é bem estruturada, coerente com a faixa etária e não há nenhum componente orgânico que interfira em seu desenvolvimento. Porém, sua família, de nível sócio-cultural baixo, não valoriza a leitura e não tem hábito de estimular seus estudos. Durante o ano letivo em que estava matriculada na classe de alfabetização, trocou de professora três vezes. Resultado: não conseguiu assimilar os conhecimentos necessários e não aprendeu a ler. Esta criança, provavelmente vai se “arrastar” durante alguns anos, vai piorar em termos de auto-estima porque vai pensar que é incapaz de aprender e talvez engrosse a fileira dos evadidos que compõem as estatísticas oficiais;
Imagine agora outra criança, de mesma faixa etária, sem problemas de desenvolvimento, boa situação sócio-econômica, pais com nível universitário. Ela foi precocemente inserida em uma classe de alfabetização. Não conseguiu assimilar os conhecimentos necessários e não aprendeu a ler. Os pais entram em ansiedade, tornam-se muito exigentes, a escola, por sua vez, faz o mesmo. Esta criança provavelmente vai piorar em termos de auto-estima, considerando-se incapaz e poderá vir a engrossar as fileiras de adolescentes vítimas do tráfico de drogas, tornando-se dependente.
Ambas são clientes em potencial para um psicopedagogo. Em cada um dos casos o terapeuta terá muito pouco a fazer em relação à situação sócio-econômica das famílias e pouquíssima chance de alterar o funcionamento da escola. Poderá auxiliar cada criança a se encontrar novamente consigo mesma, a compreender que seu insucesso não foi ocasionado por uma incapacidade, mas por circunstâncias de sua vida e que, com ajuda terapêutica, poderá reverter esta situação adquirindo as habilidades necessárias para a compreensão leitora e a competência na escrita. Este é o “fazer” psicopedagógico: articular as instâncias objetivas e subjetivas envolvidas no ato de aprender, potencializando ambas para que possa surgir o sujeito autor.
Alícia Fernández compara o profissional de qualquer área a um equilibrista andando na corda bamba de um circo. Ela diz que o artista tem coragem de praticar este número porque sabe que existe abaixo de si uma rede de proteção e que, caso ele caia, esta rede sustentará seu peso e impedirá fraturas. Da mesma forma o psicopedagogo, para praticar, para intervir na aprendizagem, necessita ter desenvolvido certo nível de estudos que lhe permita transitar da teoria à prática sem maiores acidentes.
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