A FEMINIZAÇÃO DA PEDAGOGIA
Por: Juliana Fonseca • 15/8/2020 • Artigo • 2.511 Palavras (11 Páginas) • 202 Visualizações
A HISTÓRIA DAS MULHERES NO BRASIL E A FEMINIZAÇÃO E A GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
1Centro Universitário Hermínio Ometto - UNIARARAS, Araras, SP.; 2 Discente; 3 Orientador.
julianacristinadafonseca@gmail.com , evelyn-ribeiro19@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
O acesso ao Ensino Superior tem crescido nos últimos anos. Como verifica-se no Censo da Educação Superior (2014), foram realizadas cerca de 7,8 milhões de matrículas em contraste com o Censo de 2003, que registrou 3,9 milhões de matriculados. Segundo o Censo da Educação Superior 2014, no Brasil 1001 instituições públicas e privadas ofertam a graduação de Pedagogia e apresentam 652 mil matrículas. A partir dos dados apresentados, objetivamos compreender a presença das mulheres no ensino superior, exclusivamente na Pedagogia.
O curso de Pedagogia é um curso predominantemente feminino, as mulheres contabilizam 93% dos alunos matriculados (IDADOS, 2017). De acordo com os dados, buscamos entender por meio da História das mulheres, o seu acesso à educação, e a relação e a sua desvalorização no mercado de trabalho, procurando refletir de que forma essas trajetórias se entrelaçam e o porquê.
Por meio de questionamentos fundamentados em teorias realizadas por especialistas da área da educação e sociedade e por dados estatísticos, a pesquisa visa contribuir para ressignificação do olhar que se tem sobre a Pedagogia e a desconstrução de papéis de gênero impostos às mulheres. Intenciona-se fornecer subsídio necessário para desconstruir a concepção de que as mulheres estão intrinsecamente ligadas à vocação, amor e devoção o que as direciona a exercer papéis vistos como extensivos do lar.
O estudo torna-se relevante em razão da predominância de mulheres no curso de Pedagogia ser naturalizado ao passo em que é descartada a relação existente entre as representações sociais do ser mulher em nossa sociedade e à visão maternal que está atrelada a esta profissão. Por conseguinte, a pesquisa surge a partir da necessidade de problematizar a feminização presente no curso de Pedagogia, isto é, a quantidade majoritária de mulheres nesta graduação.
OBJETIVO
A pesquisa visa levantar reflexões e dados para analisar a relação existente entre a desvalorização da pedagoga, o fato de ser uma profissão majoritariamente feminina e as representações sociais acerca do ser mulher.
Por meio de levantamento bibliográfico buscar a relação dos tipos de trabalho que a mulher vem exercendo ao decorrer da história e suas semelhanças à vida doméstica, transformando-os à extensão do lar. À partir dos dados e análise dos mesmos, busca-se constatar se a correspondência entre a Pedagogia e a visão maternal acerca das mulheres acarreta uma menor valorização da profissão.
A docência nos anos iniciais do ensino básico é uma profissão marcada pelo cuidado, vigilância e educação que visa o desenvolvimento integral da criança, tornando comum e naturalizado que a ocupação desse espaço seja predominantemente feminino. Devido a isso, busca-se questionar os papéis de gênero pré-estabelecidos, que influenciam e moldam a socialização de meninos e meninas de forma diferenciada enquanto crianças e se há relação com escolhas feitas durante a vida adulta nas esferas públicas e privadas.
REVISÃO DE LITERATURA
Nas primeiras décadas do século XIX, o ensino era ministrado por homens e seus alunos em sua maioria esmagadora, eram meninos de classes sociais mais abastadas. Apenas em 1827, foi assegurado pela legislação o direito das meninas de estudarem, entretanto há poucos registros de escolas criadas para este público. Sendo assim, tal direito ocorreu apenas na teoria para a maioria das meninas brasileiras.
As mulheres brasileiras tiveram acesso tardiamente à educação formal, pois a educação estava restringida a ser boa esposa, boa mãe e cuidar do lar. De acordo com Aragão de Kreutz (2011, p.109) ao afirmar que “desde o período colonial a educação feminina era restrita ao lar e para o lar, ou seja, aprendiam atividades que viabilizassem o bom governo da casa e dos filhos”. A figura da mulher em situação subalterna era naturalizada e reafirmada por afirmações de cunho histórico-filosófico. Schopenhauer afirma (apud Groult, 1993: 93) que “não deveria existir no mundo senão mulheres de interior, dedicadas à casa, e jovens aspirando a isto e que formaríamos não à arrogância, mas ao trabalho e à submissão”. Assim, a ausência de tomadas de decisões advindas das mulheres era justificada.
Segundo Santanna (2010, p. 3), “o positivismo proporcionou a consolidação das concepções de masculino e feminino”. Aos homens, era ofertado espaço nas esferas públicas, portanto, os homens trabalhavam e detinham o poder aquisitivo entre seus familiares tornando-se responsáveis ao que era provido à sua família. Para mulheres, restou a esfera privada, a educação dos filhos e cuidados com a família, sempre estando em posição subordinada ao marido. O papel da mulher no início século XIX era formar o caráter do homem educando seus filhos, objetivando que eles se tornassem os cidadãos que elas jamais teriam a oportunidade de ser por serem mulheres.
Em 1870, devido a urbanização e organização econômica da sociedade brasileira foi necessário que a educação realmente abrangesse ambos os sexos. No entanto, era enfatizado o poder e dom natural das mulheres no que tangia zelar e orientar o desenvolvimento moral do próprio filho. Acreditava-se que para o país crescer, a mulher deveria ser devidamente formada para otimizar suas ações como mãe.
No início da década de 1870, devido ao crescimento do número de mulheres alfabetizadas percebeu-se o potencial de contratação de professoras que receberiam um salário inferior aos dos homens que exerciam a mesma profissão. Os homens, por sua vez, tinham mais opções no mercado de trabalho em cargos mais valorizados social e economicamente, o que pode ter contribuído também para redução do número de professores homens.
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