A NEUROCIÊNCIA NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM DO SUJEITO ESCOLAR
Por: Enrico Manfio • 24/8/2021 • Artigo • 6.059 Palavras (25 Páginas) • 154 Visualizações
NEUROCIÊNCIA NO CONTEXTO DA
APRENDIZAGEM DO SUJEITO ESCOLAR.
INTRODUÇÃO
Como o cérebro aprende e traz à tona a aprendizagem que move e muda o contexto da vida humana. A emoção interfere no processo de retenção de informação. Sempre haverá necessidade para aprender independente da cronologia do Sujeito. O cérebro vai modificando-se no decurso da vida, em contato com o nosso dia a dia.
Os estudos e as descobertas no campo das neurociências, que envolvem conhecimentos de diversas disciplinas como biologia, medicina, psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, entre outras, têm sido alvo de grande interesse da sociedade. A possibilidade de compreender o funcionamento do sistema nervoso e sua interação com aspectos psicológicos, como motivação, emoção, comportamento e cognição (e.g. pensamento, memória, aprendizagem) no desenvolvimento típico e atípico impõe certo apelo, pois permite um entendimento mais amplo da complexidade do ser humano. Além do público geral, profissionais da área da saúde e da educação têm demonstrado especial interesse nos achados neurocientíficos e suas aplicações a estas áreas; contudo, a adequada compreensão e os melhores meios para aplicabilidade dos conceitos das neurociências ainda são um desafio.
O interesse de educadores no funcionamento do cérebro e no modo como os processos neurobiológicos podem enriquecer suas práticas pedagógicas tem sido identificado em estudos internacionais. A aplicação das pesquisas em neurociências para contextos educacionais aproxima a educação e a Psicopedagogia das ciências cognitivas, possibilitando um diálogo promissor no contexto de ensino e aprendizagem. No entanto, o campo das neurociências é complexo e a transferência precisa dos achados de pesquisas para a sala de aula ainda é algo desafiador, o que pode muitas vezes criar oportunidades para mal-entendidos e falhas na comunicação.
A neurociência pode ser de grande utilidade, já que auxilia no entendimento sobre o que são tais características. “Uma criança com alta habilidade sinestésica (de fazer associações entre sentidos e estímulos) poderá ter um controle motor muito mais desenvolvido. As descobertas sobre o funcionamento do cérebro, assim como suas aplicações nos processos de ensino-aprendizagem, têm sido alvo de interesse. Contudo, os resultados de pesquisas e os conceitos na área das neurociências muitas vezes são mal compreendidos ou distorcidos, perpetuando-se como falsas crenças, chamados 'neuromitos'.
DESENVOLVIMENTO
Alguns estudos têm mostrado que o aumento de interesse pela busca de conhecimento em neurociências, tanto por parte da população geral quanto de educadores, está associado a um aumento de equívocos nos conceitos desta área4,5,9. Os equívocos mais difundidos e persistentes a respeito da função do cérebro e seu papel na aprendizagem, por exemplo, são também conhecidos como "neuromitos"10.
Em 2002, o projeto Brain and Learning, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), destacou este fenômeno em âmbito internacional, evidenciando preocupações com a sua disseminação. Os neuromitos foram definidos como compreensões equivocadas a partir de achados de pesquisas empíricas, muitas vezes usados para justificar práticas educacionais (supostamente) baseadas em estudos sobre o funcionamento do cérebro5.
Distorções frequentes de conceitos neurocientíficos podem ser identificadas em relação a: a) aspectos físicos ou fisiológicos e sua relação com o desempenho neurocognitivo (e.g. papel do sono e o funcionamento do cérebro durante o sono; dominância hemisférica e seu possível papel no desempenho); b) aspectos relacionados ao neurodesenvolvimento (e.g. herdabilidade e não maleabilidade das habilidades cognitivas); e c) outros aspectos, de senso comum e que, de alguma forma, possuem um apelo e penetração na área (e.g. a permanência da hipótese cardíaca na explicação da gênese das emoções ou a existência de um potencial cerebral, sendo que a maioria das pessoas utilizaria até 10% deste potencial)9,11.
A influência de conceitos errôneos é problemática, pois desperdiça dinheiro, tempo e esforço, que poderiam ser mais bem investidos no desenvolvimento de práticas baseadas em evidências12,13. Nos tópicos seguintes, serão apresentadas algumas evidências quanto aos aspectos 'a' e 'b' e ilustradas algumas das crenças e concepções de senso comum ainda muito presentes na área (aspecto 'c'), conforme previamente mencionado.
Aspectos físicos ou fisiológicos e sua relação com o desempenho neurocognitivo
Neste tópico, três temas são abordados: sono, exercício físico e especialização hemisférica. Estudos mostram que o sono possui um importante papel na consolidação de novas aprendizagens na memória14,15. Apesar do aparente repouso, o cérebro está em constante atividade, mesmo durante o sono. Em determinados momentos, a atividade pode ser tão ou mais intensa do que na vigília. Esse é o caso da fase do sono REM (rapid eye movement), em que há um predomínio dos sonhos. Portanto, é equivocada a ideia de que, durante o sono, haveria um período de descanso ou de menor atividade cerebral16. Em crianças, os benefícios advindos do sono foram detectados na memória declarativa, levantando reflexões acerca de adaptações na rotina, como iniciar a escola mais tarde ou aplicar cochilos, de modo a colaborar à aprendizagem escolar17.
Dessa forma, pesquisas sugerem que o sono e o exercício físico influenciam na aprendizagem14,15,18. De fato, para além da relevância do sono, existem evidências de que a prática de exercícios físicos também beneficia a cognição, o que parece ocorrer por intermédio das neurotrofinas e da neurogênese em regiões como o hipocampo, por exemplo. As neurotrofinas, dentre elas o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), são substâncias produzidas pelas células gliais que auxiliam na manutenção dos mecanismos neurofisiológicos dos neurônios (como o impulso nervoso) quando no desenvolvimento de novas sinapses, a partir dos potenciais de longa duração (LTP)17,19.
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