A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Por: NATALIA LEMES DE SOUZA • 29/9/2021 • Ensaio • 4.886 Palavras (20 Páginas) • 151 Visualizações
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
NATÁLIA LEMES DE SOUZA
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Uma perspectiva sobre a educação infantil
Campo Grande – MS
2020
Tema: Reflexões sobre o trabalho docente.
Introdução
O mundo do trabalho neste ano de 2020, toma rumos diferentes em decorrência da pandemia do novo coronavírus, setores tradicionalmente organizados coletivamente, como é o caso da educação, sofreram com mudanças drásticas na configuração do trabalho. Milhões de estudantes ficaram sem aula neste período de isolamento social, até o Ministério da Educação (MEC) autorizar atividades letivas por meio de recursos educacionais digitais, conhecidas popularmente como “ensino remoto”.
O fato é que esse novo modelo de ensino e trabalho afeta diretamente as condições do trabalho do professor e os direitos, que já eram precárias antes da pandemia. Quando tratamos do trabalho dos professores, vale destacar que é um trabalho extremamente relacional e interacional, conforme Cordeiro (2003), é um trabalho que depende da interação com o outro. Neste contexto, visualizamos um prejuízo ainda maior na educação infantil, pois para o que o trabalho do professor ocorra de maneira efetiva é necessário manter o vínculo com as crianças, que fica prejudicado por conta do isolamento social, sendo feito somente através das plataformas digitais e a depender dos responsáveis para que esse contato ocorra.
A responsabilização pelas mudanças nos processos e na organização do trabalho docente, recaem sobre o professor, que fica responsável por adequar seu ambiente doméstico em ambiente de trabalho, utilizando do seu dinheiro e tempo para isso. Além da organização da infraestrutura, o professor precisa aprender a trabalhar por novas plataformas de ensino, gravar vídeos, produzir materiais para a criança realizar em casa. Ademais, ainda aprender a conciliar com sua vida pessoal. Os docentes necessitam aprender a lidar com novas exigências, novas formas de trabalho em um curto espaço de tempo, o que acaba ocasionando uma sobrecarga laboral.
Outro aspecto relevante a ser abordado, é a questão geracional e de gênero neste novo modelo de trabalho., considerando que segundo o Censo Escolar (2018), a maior parte dos trabalhadores da educação básica são mulheres, e acima de 40 anos. O novo modelo de trabalho realizado, necessita da utilização das tecnologias, que as pessoas mais velhas, no geral, apresentam grande dificuldade, necessitando da ajuda de colegas ou familiares mais jovens. O trabalho passa a ser exercido dentro de casa, juntamente com o trabalho docente, existem outras tarefas a serem exercidas no ambiente doméstico, como cuidar da casa e dos filhos, um serviço que em sua maioria, fica sob responsabilidade da mulher. Sendo elas as mais afetadas pela sobrecarga laboral neste período de trabalho remoto.
O objetivo do presente ensaio é problematizar as condições do trabalho do professor em tempos de isolamento social, refletir sobre as novas condições e organização do trabalho, que agora é realizado de forma remota, destacando que as mulheres são as que mais sofrem com a sobrecarga laboral neste período. Para tal, utilizaremos uma fundamentação teórica pautada na ideia de Jaime Cordeiro; Maurice Tardif e Claude Lessard; Ricardo Antunes. Para respaldar a pesquisa realizada, o ensaio foi problematizado a partir de uma entrevista realizada com uma professora da Rede Municipal de Ensino (REME) em setembro do presente ano. Por motivos de ética o nome da escola e da professora foram preservados.
Trabalho docente em tempos de isolamento social
Considerando esse momento atípico de isolamento social vivenciado em decorrência da pandemia, o MEC (Brasil, 2020) aprova e declara como legal a carga horária do ensino remoto na rotina do trabalho docente, a partir de 28 de abril de 2020. Contudo, essa nova configuração de trabalho pode oferecer riscos para a saúde e para os direitos do trabalho do professor.
Essas novas medidas adotas a fim de cumprir o calendário escolar, nos mostram uma ausência da postura democrática, pois os professores sequer participaram desse debate. Se sobrepuseram os interesses econômicos nessas medidas emergenciais, principalmente no que diz respeito à instrumentalização do ensino a distância nas escolas públicas.
Vivemos um novo padrão de organização denominado de “uberização do trabalho” (ANTUNES, 2019; POCHMANN, 2016). Na era digital, com a nova realidade contemporânea, desprovida de direitos, oculta a real ideia do trabalho movido à tecnologia, onde os lucros predominam sobre o valor da vida. Nesse sentido, vemos isso acontecer com o trabalho docente, dada pelo trabalho temporário, eventual, contratos de tempo parcial, por hora, entre outros, que os profissionais da educação enfrentam, e que foram acentuados neste período de pandemia.
O fato é que o isolamento social e as aulas remotas tem levado ao mal-estar individual, a precarização do trabalho docente que já era uma realidade antes da pandemia, foi acentuada com o novo modelo de trabalho. Jornadas exaustivas de trabalho, os professores se veem obrigados a trabalhar de suas casas, muitas vezes, com poucas instruções e infraestrutura. O cenário é de adoecimento e estresse, relacionados às dificuldades de adaptação ao ambiente virtual e também a dificuldade de conciliar o cotidiano doméstico com o trabalho remoto.
Na educação infantil podemos observar como a área da educação que mais sofre com o isolamento social, em vistas de qualidade de ensino, pois é nesta fase da vida que a criança obtém o primeiro contato com o ambiente social, fora dos laços afetivos da família. Deste modo, é de extrema importância a socialização o contato e a interação com seus pares e com outros adultos na infância. Considerando que a criança aprende por meio da interação e de relacionamentos significativos, nos quais ela recebe afeto e estabelece vínculo com outra criança, ou com outro adulto. Neste cenário, os professores se esforçam para não perder esse vínculo mesmo que de forma virtual.
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