Aprender a ler

Aula-tema 03: O ensino da leitura

A primeira etapa que insere o sujeito na leitura é a alfabetização. Muito já se falou sobre o processo de alfabetização e continuamos a nos dedicar aos estudos sobre o ensino inicial da leitura. Para melhor compreensão sobre qual alfabetização estamos tomando como premissa, precisamos delimitar o que entendemos por alfabetização.

Para Garton e Pratt (1991, p. 19 - 20), alfabetização é:

“[...] O domínio da linguagem falada e da leitura e da escrita [...]. Uma pessoa alfabetizada tem a capacidade de falar, ler e escrever com outra pessoa e a consecução da alfabetização implica aprender a falar, ler e escrever de forma competente”.

Note que alfabetização, para os autores citados, não é apenas o processo pelo qual as pessoas aprendem a ler e a escrever, mas envolve também a linguagem oral na aprendizagem de um sistema mais amplo, que é o sistema da língua escrita. Entendemos que essas linguagens – oral e escrita – são diferentes, mas ambas devem ser abarcadas se quisermos compreender e atuar na compreensão do processo que tem como finalidade formar leitores eficientes.

Segundo Solé (1998), precisamos, claro, ter acesso ao sistema de símbolos, conhecer e decifrar o código – como uma chave – para ter acesso ao texto. Mas esse é apenas um dos marcos do processo de alfabetização e não o único. Corremos o risco de, numa interpretação superficial e errônea, deduzir que ler é meramente decodificar. Para ler é preciso saber decodificar, mas apenas tal ação não configura o ensino da leitura e a formação do leitor. Apenas decodificar um texto não é garantia de que o sujeito o leia e compreenda.

Ao considerarmos a linguagem oral na compreensão do processo de alfabetização, compreendemos com mais clareza o que acontece com as crianças ao chegarem à escola e se depararem com a linguagem escrita: elas já trazem muitas ideias e hipóteses sobre o sistema de escrita e, inclusive, a relação que a linguagem escrita tem com a linguagem oral. Os estudos de Ferreiro (1979) e Ferreiro e Teberosky (1979) demonstram isso com clareza, contundência e, por isso, revolucionaram a forma como concebemos o processo ensino-aprendizagem da alfabetização.

Na construção e constante aperfeiçoamento da consciência metalinguística as crianças já trazem uma grande bagagem, tanto na linguagem oral como na linguagem escrita. E essa consciência metalinguística, se bem orientada e trabalhada, pode se aprimorar culminando na formação de um usuário competente da linguagem em todas as suas vertentes.

Precisamos considerar que, ao chegar à escola, a criança já tem muitos e importantes conhecimentos sobre a leitura e a escrita e que o tipo de instrução que essas crianças receberão vai influenciar o tipo de habilidade que poderão adquirir e desenvolver. Observe o quanto a atuação do professor como intermediador, facilitador, como agente que fomenta a proporciona diferenciadas experiências de linguagem é fundamental.

É imprescindível destacarmos, como bem nos alerta Solé (1998), que o acesso ao código (que precisa ser compreendido e decifrado) também deve ser objeto da dedicação do professor – e consequentemente de todos os envolvidos nesse processo –, mas sempre inserido dentro de contextos significativos.

Não cabe discutir aqui os vários métodos pelos quais pode se dar o processo ensino-aprendizagem da alfabetização, mas discutir essencialmente sobre qual alfabetização estamos falando e sobre como o ensino da leitura se configura dentro desse universo.

Conforme indica Solé (1998, p. 60):

“A criança pode aprender e de fato aprende à medida em que for capaz de utilizar diversas estratégias de forma integrada, e essas estratégias – todas – devem ser ensinadas. [...] o bom leitor é aquele que utiliza simultaneamente os indicadores contextuais, textuais e grafofônicos para construir o significado”.

Três importantes conclusões podem ser obtidas a partir dessas análises:

1. que