Fontes e documentos
Por: cinlarrea • 7/2/2017 • Trabalho acadêmico • 3.024 Palavras (13 Páginas) • 302 Visualizações
FONTES E DOCUMENTOS INICIAIS PARA A PESQUISA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA ESCOLA NORMAL N° 16 DA CIDADE DE PEDRO JUAN CABALLERO-PY
Cinthya Lorena Larrea Viera[1]
Com o objetivo de compreender o processo de formação de professores da primeira e única turma da escola normal n° 16, a turma iniciou seus estudos no ano de 1955 e finalizou em 1962, faz-se necessário o estudo dos conceitos de memória, monumento, documentos e fontes como constituinte da fundamentação teórica do trabalho a ser desenvolvido, mais especificamente, da introdução à que se refere o objeto de estudo.
O conceito de memória estará atrelado a memória oral, sobretudo à memória de quatro professoras que estudaram como alunas na escola supramencionada e da diretora dessa instituição no período recortado. A convivência dessas professoras será caracterizada como temporal continua de oito anos.
Para a construção desta introdução recorreremos aos pensamentos dos diferentes autores estudados ao longo da disciplina Pesquisa em Arquivos e Fontes Escolares. Marrou, Eni de Mesquita Samara e Ismênia S. Silveira serão abordados no que concerne a documentos e fontes. Le Goff com suas explanações sobre história e memória, assim como um aprofundamento dos conceitos relacionados a monumento/documento, ajudarão a adentrar no campo da memória oral, e para complementar as explicações sobre História Oral utilizaremos os escritos de Freitas, uma vez que os procedimentos metodológicos da História Oral servirão de base para esta pesquisa. Será também de relevância discutir o papel do material impresso como documento e posterior transformação em fonte pelo pesquisador, levando-se em consideração que o “Manual del Maestro Paraguayo” organizado pelo Servicio Cooperativo Interamericano de Educación y el Ministério de Educación y Culto do Paraguai será utilizado como fonte desta pesquisa.
Para iniciar a discussão aqui proposta, faremos referência à síntese de Le Goff sobre os pensamentos de Bloch e Veyne ao atribuir à história três caracteres: a de ser humana, social e científica. Para Bloch (apud Le Goff, 1994, p. 13) a história é a “ciência dos homens no tempo”, homens que interagem socialmente, portanto, para Bloch a história não se limita a compreender o presente pelo passado, mas também compreender o passado pelo presente. É essa característica que lhe confere o caráter científico.
Prosseguindo a discussão e adentrando no campo da memória, Le Goff (1994) cita a psicologia, a psicofisiologia, a neurofisiologia, a biologia e a psiquiatria como os campos científicos que estudam a memória e contribuem para a compreensão das descrições dos problemas da memória social e histórica. O autor conceitua memória “como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas." (Le Goff, 1994, p. 423) O autor problematiza o modo como as sociedades constituíram e constituem sua memória coletiva e como esta fornece elementos na construção de uma identidade coletiva e individual.
Através de sua análise, Le Goff indica “o estudo da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em transbordamento (1994, p. 426)” Nesse sentido, devemos mencionar que ao logo da escrita da história a memória funcionou como mecanismo de registro e controle social, enaltecendo certas ações e esquecendo-se de outras conforme as conveniências dos grupos privilegiados.
A esse respeito, o autor esclarece
Os psicanalistas e os psicólogos insistiram (...) nas manipulações conscientes ou inconscientes que o interesse, afetividade, o desejo, a inibição, a censura exercem sobre a memória individual. Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF, 1994, p. 426)
Portanto, o autor compreende a memória como um objeto de poder, um elemento essencial para a construção da identidade coletiva. É a partir dessa perspectiva que buscaremos resgatar as memórias desses indivíduos que formam a história da escola normal n° 16. Permitindo explorar os silenciamentos construídos ao longo de uma história, particularmente, positivista.
Para o autor a memória e história passam por grandes reformulações e explicita
A história dita "nova", que se esforça por criar uma história científica a partir da memória coletiva, pode ser interpretada como "uma revolução da memória" fazendo-a cumprir uma "rotação" em torno de alguns eixos fundamentais: "Uma problemática abertamente contemporânea... e uma iniciativa decididamente retrospectiva", "a renúncia a uma temporalidade linear" em proveito dos tempos vividos múltiplos "nos níveis em que o individual se enraíza no social e no coletivo" (lingüística, demografia, economia, biologia, cultura). (LE GOFF, 1994, p. 473)
Portanto, a memória oral compreendida como fonte oral auxilia no resgate e compreensão dos acontecimentos e das relações dos indivíduos no tempo.
A revolução abordada neste ponto pelo autor consiste no interesse de uma história não centrada exclusivamente sobre os grandes homens, os grandes acontecimentos, a história linear que transcorre apressadamente, a história política, diplomática, militar. A história aqui apresentada interessa-se por todos os homens, modifica a hegemonia dos documentos escritos oficiais, abrindo leque para uma gama maior de fontes.
Le Goff (1994) de maneira resumida compreende a história como a forma científica da memória coletiva e para construí-la ela se apresenta sob duas formas: o monumento e o documento. O primeiro refere-se as heranças do passado e o último à escolha do historiador. No entanto, é preciso entender esses termos dentro de uma configuração mais ampla e complexa. O autor define “o monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos. (1994, p. 535). Nesse sentido, o monumento compõe uma herança da memória coletiva que busca eternizar as lembranças sejam elas voluntárias ou involuntárias, consagrando as sociedades como históricas.
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