O Paradigma da Complexidade
Por: Christopher Shrine • 13/7/2015 • Artigo • 1.725 Palavras (7 Páginas) • 436 Visualizações
“PARADIGMA DA COMPLEXIDADE”: Uma “nova” abordagem da Educação?
Américo Ribeiro[1]∗
RESUMO
O artigo a seguir analisa a chamada mudança de paradigma no campo da Educação, isto é, o fim do chamado paradigma tradicional por uma nova forma de enxergar a realidade de maneira mais “complexa” ou “holística” o chamado “paradigma da complexidade” e suas implicações na área educacional.
Palavras-chave: Paradigma. Educação. Escola.
INTRODUÇÃO
A busca de um novo paradigma para a Educação tem sido o principal assunto entre pedagogos e educadores no século XXI. O paradigma tradicional – apoiado em um racionalismo e cientificismo especializado – teria obstruído uma visão global da realidade, fazendo com que desaparecesse a preocupação com aspectos importantes do conhecimento, da visão critica de fenômenos globais e da criatividade.
Um dos principais nomes deste novo paradigma “emergente” Fritjof Capra, a raiz dessa crise de paradigmas está no fato da maioria dos intelectuais e suas instituições geralmente apontarem soluções estreitas e inadequadas para resolver os principais problemas da atualidade.
A visão reducionista, fragmentada, simplificada e suas respectivas ações não expressam a unidade e a diversidade existente no todo. Para Capra, se um problema afeta a todos, a solução também deve ser a mais abrangente possível. Se a realidade é complexa, somente um pensamento abrangente, multidimensional será capaz de apreender em toda a sua extensão tal grau de complexidade e construir um conhecimento capaz de traduzi-lo.
A ciência precisa rever seus conhecimentos sobre o mundo natural, uma visão que ultrapasse a dominação e o controle da natureza. Outro grande representante desta “nova” tendência, Edgar Morin, defende uma ciência que liberte não que aprisione. O progresso da ciência e da tecnologia não pode desconhecer a compaixão e a caridade. A associação do homem dominando a natureza precisa ser repensada para que gere um novo tipo de pensamento que veja o universo em contínua evolução, que respeite seus fenômenos e reconheça a vida como fluida e natural.
Para alguns educadores, a superação do paradigma tradicional pelo que denominam de “paradigma emergente ou da complexidade” envolve também a educação e concomitantemente a pratica pedagógica dos professores em todos os níveis de ensino. Para eles, a mudança paradigmática atinge o conhecimento e concepção do universo, implicando uma nova abertura que leve em conta o movimento deste, a superação de certezas absolutas, a busca pela incerteza e o dialogo.
Essa mudança depende de uma nova visão de homem, de sociedade e de mundo e a educação deve ter papel essencial de construção da cidadania, de responsabilidade social e intervenção consciente no universo, enfim, tem a finalidade de formar o cidadão/profissional do século XXI.
2 O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
Por complexidade, aqui defendida pelos adeptos deste paradigma, seria o principio articulador do conhecimento, com um pensamento que integra diferentes modos de pensar, que permite conectar sujeito e objeto, ordem e desordem, estabilidade e movimento, professor/aluno e todos os tecidos que regem os acontecimentos, ações e interações da realidade da vida.
O paradigma inovador que acompanha a nova “Sociedade do Conhecimento” afeta a educação em geral, especialmente a Educação Superior e os processos de aprendizagem em todos os níveis. Segundo os autores desta proposta, a universidade e as escolas em geral precisam ultrapassar o paradigma conservador de transmissão e repetição. O novo paradigma exigiria uma formação docente e discente que supere a visão linear e torne-se integrador, critico e participativo.
Esse paradigma da complexidade inclui ainda a chamada educação holística que compreende o universo como conjuntos integrados e inter-relacionados que não podem ser reduzidos como uma mera soma de partes. Acredita-se que a principal função da educação é o de propor a aprendizagem para a vida. Neste processo de mudança de paradigma o aluno precisa ser visto como uma pessoa global constituída de corpo, mente, emoções e espírito.
Para Edgar Morin, a maneira que a escola tem apresentado o conhecimento levou a separação dos objetos com seu meio, das disciplinas umas com as outras e não reunir o que sempre fez parte de uma mesma conjuntura. Almejam-se ambientes educativos que superem a função de oferecer aprendizagens não baseadas em fatos ou habilidades mas conectadas com a vida, a diversidade, que mova os alunos na experiência de ser, pertencer e cuidar do universo.
Dentro desta proposta, Jacques Delors apresentou em 1998, durante o Relatório Internacional da UNESCO para a Educação no Século XXI os seus famosos quatro grandes pilares para a aprendizagem ao longo da vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Estes pilares de aprendizagem são a base da Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação. É uma proposta que vem de encontro ao paradigma da complexidade pois concebe uma visão integral da pessoa, ou seja, na dimensão intelectual, emocional, social, física, profissional, artística e espiritual.
3 OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO
O primeiro pilar, isto é, aprender a conviver, implica a dimensão social e propõe o desenvolvimento continuo da pessoa e da sociedade de modo harmonioso, autentico, que possa “retroceder a pobreza, a exclusão, as incompreensões, as opressões, as guerras”.
O aprender a ser e o aprender a conviver implicam processos que envolvam tolerância, compreensão e solidariedade. Inclui-se aqui a dimensão espiritual. Trata-se de contemplar a abordagem holística ou sistêmica que propõe a valorização e o desenvolvimento da espiritualidade.
O aprender a ser e o aprender a conviver envolvem as dimensões: interpessoal e pessoal. A primeira implica superar atitudes de egoísmo, consumismo, competitividade e superficialidade, que se fazem presentes na sociedade. A educação deve promover a solidariedade, justiça, participação, respeito aos demais e suas diferenças e a defesa dos seres humanos mais fracos.
O aprender a fazer e o aprender a conhecer envolve processos de cidadania, enfatizando a dimensão profissional. Aprendizagens interconectadas, formadoras tanto como ser humano quanto profissional permitem um ser humano mais critico diante das desigualdades e comprometido com a transformação social e econômica para uma sociedade em que não só garanta o direito ao trabalho, mas em que este promova o desenvolvimento das pessoas e não os interesses do capital. Sendo assim, as escolas e especialmente as universidades precisam formar cidadãos para agir com responsabilidade social e intervir na comunidade com responsabilidade.
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