O combate ao epistemicídio na educação
Por: yasuna02 • 9/4/2024 • Trabalho acadêmico • 1.280 Palavras (6 Páginas) • 44 Visualizações
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Universidade de Brasília Faculdade de Educação
Educação das Relações Étnico-Raciais
Nome: Yasmin Fernanda Sanção Santos Curso: Química Licenciatura
Matrícula: 222026911
O combate ao epistemicídio na educação
O Brasil é um país que tem suas origens ligadas ao colonialismo e consequentemente conseguimos ver os impactos dessa intervenção colonial até os dias atuais. A relação entre racismo e colonialismo é intrínseca e profundamente interligada. O racismo, como sistema de opressão e discriminação baseado em características étnicas e raciais, teve no colonialismo um de seus principais contextos históricos de desenvolvimento e perpetuação.
O racismo serviu como justificativa ideológica para a colonização, proporcionando uma suposta legitimação moral para a exploração e subjugação de povos colonizados. A ideia de superioridade racial dos colonizadores europeus, baseada em teorias pseudocientíficas, como o darwinismo social, foi utilizada para justificar a conquista, a escravidão, a exploração econômica e a imposição cultural sobre as populações colonizadas.
O legado do colonialismo e do racismo persiste até os dias de hoje, e podemos encontrá-lo até no meio escolar, afetando profundamente as relações sociais de crianças e adolescentes, que crescem nesse ambiente racista e marginalizado. Com isso, podemos pontuar várias formas de racismo que podem ocorrer, tanto no ambiente escolar ou qualquer lugar. Um deles é o epistemicídio, que é usado para descrever o processo ou a ação de destruir, suprimir ou silenciar sistematicamente certas formas de conhecimento, perspectivas ou sistemas de pensamento. Para Sueli Carneiro (uma filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro.), o conceito de epistemicídio é útil para
debatermos sobre as desqualificações constantes atribuídas as/aos sujeitas/os afro-brasileiras/os e seus conhecimentos. (KILOMBA, 2019, p. 28).
Aplicado à realidade educacional, o conceito de epistemicídio reinterpretado por Sueli Carneiro nos mostra como negras e negros brasileiras/os se defrontam nos espaços escolares e universitários com dinâmicas de inferiorização, de destituição da capacidade de articular um pensamento crítico e reflexivo ou mesmo de produzir cultura. Um exemplo de vítima desse epistemicídio foi Ari Lima, quando em 1988 cursou seu doutorado em Antropologia na Universidade de Brasília e foi vítima de racismo quando foi reprovado em uma disciplina obrigatória. Ari relata que claramente realizava todas as atividades da disciplina e mesmo assim somente ele foi reprovado pelo professor. O contexto social da universidade nessa época era em sua maioria branca e classe média, e Ari era um homem negro inserido nesse meio. Após esse ocorrido, a política de cotas foi implantada na Universidade de Brasília, sendo assim a pioneira deste ato.
Podemos enxergar uma visão narcisista da identidade branca, na qual os indivíduos brancos se vêem como superiores e se recusam a reconhecer sua implicação no sistema de opressão racial. Isso é o pacto narcísico da branquitude que tem suas raízes na estrutura colonial e escravista que estabeleceu a supremacia branca como um pilar fundamental da sociedade. Uma das principais características desse pacto é a negação do racismo e a resistência em reconhecer a existência de desigualdades raciais. Isso acontece por meio de mecanismos de defesa, como o silenciamento, a minimização das experiências de racismo e a transferência de responsabilidade para as vítimas. Essa negação protege a imagem do indivíduo branco como uma pessoa não racista, preservando seu ego e evitando a desconstrução do privilégio.
Tomar consciência destes conceitos e apoiar a desconstrução desta raiz colonialista é passo importante para uma construir uma educação anti-racista. Quando buscamos defender uma ideia, ou até mesmo quando nos interessamos por determinado assunto, buscamos aprender a fundo sobre determinado tema, a fim de possuir uma base sólida para adquirir uma convicção maior. Com isso, para ter uma postura anti-racista e lutar por esta causa é necessário conhecer a sua origem e sua cosmologia, para compreender suas tradições e não cometer um tipo de racismo por ignorância.
Temos os povos africanos que vieram para o Brasil como nossos ancestrais, portanto as marcas da cultura africana, indiscutivelmente estão impregnadas no cotidiano da sociedade brasileira, e precisam ser mais estudadas e entendidas, especialmente as manifestações da tradição oral, que, de forma incisiva, foram resignificadas e reconstruídas nas comunidades
tradicionais afro-brasileiras (ROCHA, 2011, p. 33). Da mesma forma com os povos indígenas, cultura e os signos culturais dos nativos são classificados no estágio da barbárie, como selvagens e atrasados, enquanto a cultura do invasor está no estágio mais avançado, que já ultrapassou o reino da barbárie e da selvageria (Revista da ABPN, 2017, p.85). Por isso, precisamos pensar uma maneira para combater este pensamento racista que marginaliza os povos que nos deram origem, que sofreram na era colonial e que sofrem até hoje.
Uma maneira de incentivo desta prática é a pesquisa. Profissionais do ensino podem utilizar o seu conhecimento em sua área para realizar pesquisas de incentivo no aprofundamento das práticas africanas e indígenas, assim levando o aprendizado para as escolas. Um ótimo exemplo desta prática é o trabalho de Antônio Alvino e Anna Benite, que elaboram o artigo “Africanidades no Ensino de Química”. Os autores discutiram a religiosidade de matriz africana no contexto da Química Ambiental, contextualizando como as religiões de matriz africana consideram que a natureza é uma forma de mediação entre o humano e o ser supremo. Este é um ótimo exemplo de combate anti-racista no ambiente escolar, para trazer o conhecimento original das religiões de matriz africana, dentro do assunto abordado na aula de química, na tentativa de quebrar este estereótipo que foi construído por tanto tempo.
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